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Resident Evil: A Série é mais um desperdício de energia da Netflix

Trabalhar com cultura pop nem sempre significa alegria. Não são só grandes filmes, excelentes séries e novidades empolgantes. Sempre tem o outro lado da moeda. E desta vez, ele se chama Resident Evil: A Série. A novidade que estreou na quinta-feira, dia 14 de julho, na Netflix, tinha tudo para usar da melhor forma uma propriedade intelectual que já arrasta fãs da franquia dos games da Capcom. Aliás, esse mesmo “IP” também já sofreu com um filme que sequer passou nas salas de cinema do Brasil no ano passado. A fórmula para um sci-fi com zumbis vem pronta dos games, mas, novamente, esbarrou em uma péssima execução. Foi realmente dureza acompanhar Resident Evil: A Série.

https://youtu.be/mUisls0Z-C0

Vamos começar com a história. Estamos novamente em um futuro pós-apocalipse zumbi, em 2036, 14 anos após os danos causados por um medicamento que prometia ser a “alegria dentro de um frasco” e tratar a depressão. Como 1+1 são 2, já sabemos que ele foi o causador da criação de zumbis e uma penca de outros monstros mutantes em todo o planeta. Desta vez, nada de heroísmo galhofa nível Milla Jovovich (aliás, até deu saudades dela). Aqui acompanhamos a história de Jade Wasker (Ella Balinska, de As Panteras) e sua irmã Billie (Adeline Rudolph). E em todos os episódios vamos oscilando entre passado e presente para entender como a situação chegou a este terrível nível em todos os continentes. O mistério todo vai se revelando após vários acidentes e incidentes em New Raccoon City. Até o plot inicial, tudo bem, mas…

Zumbis são o segundo plano de Resident Evil: A Série
Resident Evil: A Série – Infelizmente não utiliza bem sua guerra contra os zumbis

O problema de Resident Evil: A série começa em seu desenvolvimento e passa basicamente por toda a produção. Ou seja, é uma falta de capricho generalizada. O piloto logo quer nos causar uma sensação de urgência, mas vemos uma pobreza de cenários e oscilações importantes entre os usos de efeitos especiais (e isso segue ao longo dos oito episódios). Em dados momentos são ruins, e em outros, parecem bem assertivos. E essa primeira necessidade de vermos os zumbis como verdadeiros inimigos não se faz contundente, tão pouco a motivação inicial de Jade. Aliás, infelizmente os zumbis são muito mal utilizados durante toda a jornada.

Muitos elementos, pouca contundência

A trama também sofre com uma enxurrada de elementos que nos são apresentados a cada episódio, não trabalhando de forma correta a expectativa e a entrega para o espectador em cada uma delas. As coisas vão acontecendo por acontecer. Basicamente a Umbrella Corporation é o pretexto para termos um sem número de personagens zumbis (e até monstros gigantes). A “empresa do mal”, por sua vez, tem uma vilã personificada em Evelyn Marcus (Paola Nuñez, de Bad Boys Para Sempre) que sofre com seu texto ruim e seus trejeitos cheios de clichês. E isso pesa muito na experiência, pois, em nenhum momento a série nos dá o luxo de não se levar a sério. Estamos falando de entretenimento, afinal. A pretensão de ser algo que ela não é, acaba tirando as possibilidades de suspensão de descrença e a simpatia pela maioria das pessoas que aparece em tela. A pobre vilã chega ao cúmulo de ter uma cena onde canta uma canção pop como forma de ameaçar uma de suas desavenças. A trama chega a níveis risíveis em determinados momentos e força nos palavrões para tentar dar ênfase em determinados acontecimentos. Não funciona.

Resident Evil: Jade e Billie na adolescência
Resident Evil: A Série traz Tamara Smart e Siena Agudong como as jovens Jade e Billie. Cr. MARCOS CRUZ/NETFLIX © 2021

A pobreza oscila também entre passado e presente, com atuações pouco convincentes, principalmente do núcleo de 2022, onde temos Jade interpretada por Tamara Smart e Billie por Siena Agudong. É difícil comprar a causa das adolescentes que foram adotadas por Albert Wesker (Lance Reddick, da franquia John Wick), e que depois se vê em um papel multiplicado por quatro. Spoiler leve da história: também temos clones por aqui. Mais momentos risíveis chegando.

E toda essa massaroca culmina no que seria o grande episódio final, onde temos um jacaré gigante. Afinal, porque não ter um jacaré gigante em uma guerra que também envolve zumbis, não é mesmo? Nada contra, que fique o registro… desde que ele tenha uma boa justificativa. Junte a isso uma sequência de guerra risível com soldados fortemente armados e uma “pseudo” vilã com um tablet que controla drones e temos cenas divertidíssimas (contém ironia). O clímax é tão pretensioso que nos joga uma batalha ao som de Ária, a Rainha da Noite de Mozart.

Mas, infelizmente não estamos falando de um filme trash, daqueles bem série B que costumam passar no canal SyFy. Se houvesse uma pitada de “não estamos nos levando a sério, então você também não precisa”, talvez Resident Evil: A Série poderia crescer e se destacar como produto de entretenimento. Como não tem, acaba sendo mais um dos muitos desperdícios de “IP” que a “franquia” acumula em menos de 365 dias. Não sofria tanto com uma série desde Warrior Nun.

Veredito da Vigilia

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