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Remake de Convenção das Bruxas não faz jus aos nomes envolvidos

A nova adaptação de Convenção das Bruxas, livro clássico de Roald Dahl, chega aos cinemas brasileiros com uma bela embalagem, grandes nomes no elenco, e um diretor (Robert Zemeckis, Forrest Gump, De Volta Para o Futuro) que mora no coração dos fãs de cinema – da Vigília então, nem se fala! Mas todo o combo que poderia ser imbatível não confirma as expectativas. É claro, essas expectativas precisam estar calibradas. Este que vos escreve cresceu com o longa de 1990 (de Nicolas Roeg) como um dos preferidos da infância, então, imagine que a régua está lá em cima. Outro ponto que afeta bastante a experiência é já não ter 7 anos de idade ao conferir essa nova projeção nas telonas. Trinta anos a mais pesam bastante.

Feitas as introduções, ninguém está proibido de gostar da reunião das bruxas no grandioso hotel (não mais na Europa, mas sim no Alabama) e seu embate contra amigos que são transformados em ratos e uma avó que sabe tudo de bruxaria. A verdade é que a nova versão, que aqui no Brasil chega aos cinemas, mas nos Estados Unidos estreou direto no serviço de streaming da HBO Max, é um tanto infantilizada (se é que esse termo pode fazer sentido em uma produção para os pequenos). E sem essa “proibição”, ou mesmo a mente fresca por nunca ter assistido ao primeiro, o filme cumpre seu papel de entreter e divertir, reconstruindo uma época em que não se tinha celulares ou mesmo computadores para entreter os jovens. Basicamente, o interior dos Estados Unidos nos anos 60.

convencao das bruxas bruno
O nosso protagonista não tem um nome definido no filme

Nesta nova versão vemos um início triste do garoto Gatsby, interpretado por Jahzir Bruno (na verdade nunca falam o nome dele) que vai morar com a avó (Octavia Spencer, também sem nome) e a fuga das bruxas que a perseguem desde a infância. Nesta fuga, eles acabam chegando ao hotel onde, casualmente, uma convenção das bruxas está para começar. Crueldade do destino. 

Nesse grandioso hotel, neto e avó descobrem planos malignos para acabar com as crianças do mundo todo. Com este plot de dominação, a trama flui bem do início ao fim. Ao contrário do primeiro filme, onde as coisas pareciam realmente sombrias e assustadoras, aqui tudo é mais colorido, e nem de longe ficamos preocupados quando a aguardada transformação das crianças em ratos acontece (spoiler pra quem não viu ou não leu o livro) ou mesmo quando as horríveis vilãs se apresentam. Por outro lado, isso até pode ser um alívio para quem, eventualmente, se traumatizou com Anjelica Huston no papel de Bruxa Rainha (falamos um pouco disso nesse texto). Aliás, nesta nova versão, quem ocupa esse cargo é Anne Hathaway (Calmaria, 8 Mulheres e um Segredo, Colossal). Assim como Octavia Spencer (Ma, A Forma da Água), as duas entregam versões bem mais caricatas. Uma como uma perversa com sotaque nórdico, e outra como a avó querida e de grande coração. Isso é um problema? Não em um filme para crianças.

Octavia Spencer é uma avó querida demais

Com o hotel como palco e não dois, mas três ratos (ou crianças), contra cerca de 100 bruxas, a aventura beira muito mais um Pequeno Stuart Little do que um Brinquedo Assassino, com diálogos fáceis, obstáculos previsíveis e piadas prontas como o ratinho que aparece acima do peso. Aliás, essa fica até mesmo um pouco exagerada e repetitiva. A nova personagem introduzida não diz muito a que veio, mas o fato de que as coisas se desenrolam de maneira bem diferente é o grande atrativo para quem espera mais do mesmo.

Ainda que busque novos ares, essa nova versão é um pouco decepcionante. Vale lembrar que além de Zemeckis, temos como produtores Guillermo del Toro e Alfonso Cuarón, e isso também jogava “a tal da expectativa” lá pra cima. Mas tudo e todos parecem operar no modo automático, sem valorizar as possibilidades que podiam ter encontrado no rico texto de Roald Dahl.

O novo Convenção das Bruxas tem um ratinho a mais

No final de tudo, o novo Convenção das Bruxas é mais um filme de natal, direcionado para crianças, que, porventura, podem ser poupadas de alguns sustos de seu antecessor. Como nem tudo são comparações, ele entrega uma nota ainda positiva, mesmo se amparando em clichês e uma porção de oportunidades desperdiçadas. Não por acaso, nos Estados Unidos ele é um filme de TV, e não de cinema. Além disso, a história nos leva a crer que o objetivo não era ser só um produto ao acaso, mas talvez uma franquia que possa continuar como série derivada a um serviço de streaming novo e que vai precisar de novidades que chamem a atenção. Não é de se duvidar.

Veredito da Vigilia

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