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Real – o plano por trás da história | Crítica

Por trás de toda a mensagem, há uma intenção. E em “Real – o plano por trás história”, ela não tem qualquer filtro ou vergonha: mostrar os mocinhos envolvidos na criação do projeto da moeda nacional, e de quebra, acabar com adversários políticos e qualquer simpatizante de outras correntes políticas, leia-se a esquerda brasileira. E, curiosamente, o filme chega em meio a mais uma bomba no cenário político nacional. Um timing interessante e que talvez seus idealizadores não contassem. Quase um revés. O filme estreia no dia 25 de maio e enquanto escrevo a crítica, o então presidente Michel Temer sofre uma das mais incríveis denúncias de crime, envolvendo a já clássica mala de dinheiro e até ameaças de morte. Aécio Neves, mais uma vez no rolo, e House Of Cards vai ficando no chinelo com a recente história política no Brasil. Impossível afirmar se ambos estarão em seus cargos no dia da estreia.

Na trama, baseada no livro do jornalista Guilherme Fiúza, “3000 Dias no Bunker” e dirigida por Rodrigo Bittencourt, com coprodução de Maristela Filmes, vemos a história de Gustavo Franco (Emílio Orciollo Neto) e sua trajetória de economista dentro da equipe criada por Fernando Henrique Cardoso (Norival Rizzo) para buscar uma saída a consequente crise da  inflação que assolava o país em 1993. Completam o time Tato Gabus Mendes como Pedro Malan, e Bemvindo Sequeira, no caricato ex-presidente Itamar Franco. Detalhe importante, a produção já alega antes dos primeiros frames do filme que “essa é uma obra baseada em uma história real com contextos dramatúrgicos”, uma tentativa de defesa prévia do que está por vir. Quase uma justificativa pelos exageros e tons fortes, absolutamente inclinados para uma idolatria da direita nacional. Se “Lula, o filho do Brasil” é um filme de esquerda, “Real – o plano por trás da história” é tão chapa branca quanto, e não espantaria a ninguém se fosse patrocinado diretamente por algum partido político. Ainda assim, muita gente vai comprar a versão e aclamar a película. Outros tantos vão odiar.

A história é dinâmica, até certo ponto um milagre chegarem até 1h35 de duração. Tudo é muito simplificado e focado na ideia de se fazer entender. Mastigar tudo ao expectador. No final, o recurso de encerrar com uma citação como algo de peso, também fica devendo. A frase escolhida sequer é marcante. Ainda assim, o filme pode funcionar. Com assinatura da Globo Filmes, a pegada novelesca e as caras conhecidas de Paolla Oliveira como Renata, a esposa do economista Gustavo Franco, e Guilherme Weber, como Pérsio Arida, um quase rival do economista, dão o tom necessário para dialogar com o público que procura por caras conhecidas. E assim como tudo é exagerado, temos um FHC supervalorizado, Gustavo Franco tido como herói (embora seja o auge do exagero a forma que o descrevem, até mesmo o diretor já comentou que talvez ele não fosse o mais importante do grupo) e um Itamar Franco pra lá de estereotipado.

Toda história tem uma intenção. Aqui ela é bem clara. Escancarada. Mas em meio a mais uma bomba no Palácio do Planalto, o timing de Real – o plano por trás da história parece não jogar a favor. Veremos as cenas dos próximos capítulos.

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