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Rainhas do Crime, ótimas ideias para uma péssima execução | Crítica

Rainhas do Crime, filme baseado nos quadrinhos do já falecido selo Vertigo, da DC Comics, chega aos cinemas brasileiros com certa moral. Além de trazer uma adaptação da cultuada graphic novel The Kitchen, criada por Ollie Masters e Ming Doyle, tem no elenco nomes conhecido como Melissa McCarthy (Crimes em Happytime), Tiffany Haddish e Elisabeth Moss (The Handmaid’s Tale). A direção é de Andrea Berloff, indicada ao Oscar de Roteiro Original por “Straight Outta Compton: A história do N.W.A”. Ou seja, tudo nos leva a pensar em uma ótima sessão não é mesmo? Porém, vamos aos fatos: Rainhas do Crime é bem menos do que poderia ser.

O filme começa com a premissa básica de que os três maridos das protagonistas Claire (Elisabeth Moss), Kathy (Melissa McCarthy) e Ruby (Tiffany Haddish) são presos e deixam suas famílias sem sustento. Também pudera, o filme se passa numa Nova Iorque no final dos anos 70, com gangues de bairro cobrando pela segurança dos comerciantes locais (ou seja, o “emprego” dos maridos mafiosos). Com os provedores na cadeia, as três donas de casa agora precisam encarar uma realidade de pouca grana, embora para a maioria delas, seja um verdadeiro alívio não contar mais com o marido abusador em casa. A exceção é Kathy, que tem um relacionamento bem amoroso com o agora marido presidiário.

Rainhas do Crime traz uma premissa interessante, mas uma história pouco envolvente

Feita essa construção, vemos que elas rapidamente superam o primeiro conflito. Aliás, é tão rápido, que quase não dá pra chamar de conflito. O espectador não sente que realmente aquilo tenha sido dramático o suficiente para o rumo que a história começa a tomar, mesmo que a direção se preocupe em contextualizar a época em que homens eram os provedores do lar e as mulheres eram unicamente donas de casa. Sem grandes explicações, elas tomam o trabalho dos maridos e começam a ganhar bastante dinheiro.

A edição é confusa nesse momento, faltam elementos que nos deem subsídios suficientes para que haja essa primeira superação das personagens e a forma com que elas tomam as negociações criminosas. Mesmo Claire, a que mais sofre na mão dos homens, acaba não nos sensibilizando o suficiente para vermos que ela agora mudou de comportamento. O que é bem estranho, afinal estamos diante da protagonista de The Handmaid’s Tale, que já provou há muito tempo que sabe demonstrar sofrimento e superação. Soma-se a essa mudança de comportamento um estranho gosto pela morte, tornando-a uma assassina fria, não da noite para o dia, mas de um minuto para o outro. O seu novo “Partner in crime” (literalmente), Domhnall Gleeson (Star Wars: Os Últimos Jedi) também acaba não convencendo.

Melissa McCarthy, Elisabeth Moss e a diretora Andrea Berloff até tentaram, mas não rolou.

Por outro lado, o que está bem situado em Rainhas do Crime é a ambientação e as cores dos anos 70. Alguns jogos de câmera nos cenários recriados nos remetem diretamente a uma narrativa de arte sequencial (quadrinhos), e a fotografia está realmente impecável. Nestes quesitos, a adaptação é uma grande vitória. A trilha sonora, por mais competente que seja, acaba abusando no uso de “The Chain” do Fleetwood Mac – trilha que de uma hora para outra virou a queridinha para produtores e diretores, apontando para uma clara falta de criatividade.

E por tudo que se construiu nos trailers, nos nomes do elenco e direção, e até mesmo no relançamento da HQ no Brasil, Rainhas do Crime acaba sendo uma história mal adaptada para as telonas. E isso surpreende por se tratar de Andrea Berloff, que também assina o roteiro. A ideia de mulheres da máfia (visto em 2018 com As Viúvas), também chega um pouco atrasado, apesar das boas ideias e pautas levantadas. Mas realmente com pontos críticos tão diversos, como a falta de dramaticidade, o humor pouco eficaz, – quase forçado -, a montagem e a edição errantes, o plot-twist pouco envolvente e um final que não entrega qualquer tipo de emoção, fica difícil defender a obra como um todo. Infelizmente, uma adaptação que deixou e muito a desejar.

Veredito da Vigilia


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