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Praça Paris: outra face da violência | Crítica

Praça Paris é um filme que prova que para ser violento, não há necessidade explícita de mostrar violência explícita. Dirigido por Lúcia Murat (Ninguém está olhando, 2017), o thriller chega às telas de todo o Brasil no dia 26 de abril.

No longa observamos, principalmente, a vida de duas mulheres: Camila (Joana de Verona), a psicóloga portuguesa que trabalha na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e Glória (Grace Passô), sua paciente que traz uma vida de complicações e histórias horríveis para as sessões. A apresentação das duas personagens principais é feita de uma maneira muito clara e direta, já mostrando um pouco da realidade na qual as duas vivem. É interessante salientar que nos primeiros 20 minutos de filme, Camila tem apenas uma fala, deixando com que Glória e os elementos que compõem sua vida conduzam a história, muito parecido com uma sessão de terapia real.

Não acho que Glória poderia ser interpretada por outra pessoa além de Grace. A atriz faz com que o público se conecte à história, mesmo vindo de diferentes vivências e lugares. Glória é uma personagem complexa, que traz consigo uma vida de abusos que foram internalizados e – praticamente – normalizados em seu cotidiano. Há diálogos que são assustadoramente detalhistas e violentos. Neles Glória explica como alguém foi espancado ou torturado. Em entrevista exclusiva com a diretora Lúcia Murat, perguntei sobre como foi retratar o tema da solidão da mulher negra, e Lúcia diz que grande parte do sucesso da personagem Glória vem da atuação de Grace, pois a atriz conseguiu retratar essa solidão e essa dor sem nunca passar a ideia de vitimização, bem pelo contrário, com muita força.

Grace foi incrível no papel de Glória.

Outra parte interessante é ver como Camila é afetada por essa violência. Lúcia explica que “Camila é corrompida por esse medo, mesmo em terceira pessoa. E é esse medo que faz com que as boas intenções acabem”. A transformação de Camila também pode ser vista esteticamente, com a paleta de cores ao seu redor mudando e ficando cada vez mais escura e sem vida. Lúcia também aponta que é necessário romper com a barreira do medo e não aumentá-la, para assim criar um diálogo entre as partes.

Não existem culpados absolutos

Praça Paris é um filme denso e pesado, que não dá tempo para o público respirar. É um constante sentimento de alerta e que traz “uma importante discussão social e sobre questões de gênero”, como explicou a própria diretora. Enquanto assistia Praça Paris, lembrei de um vídeo feito por uma youtuber queniana, falando sobre Pantera Negra (Ryan Coogler, 2018) e que se tivéssemos terminado de assistir o filme e achávamos que Killmonger era o vilão, tínhamos perdido todo o ponto da história. Perguntei se existe um vilão absoluto em Praça Paris, Lúcia respondeu que não. Não há uma procura por culpados e sim uma análise do sistema. 

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