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Paris, 13º Distrito: Ciclos de incertezas?

Um dos movimentos mais importantes da história do cinema é o Nouvelle Vague (que em tradução livre, significa “nova onda”). Ele foi usado inicialmente no final dos anos 1950 e início de 1960 na França, na revista Cahiers du Cinéma fundada por um dos principais críticos de cinema de todos os tempos, o francês André Bazin.

Nesse movimento, o destaque era a juventude, com as pessoas se descobrindo, com as dores e prazeres que uma vida adulta pode nos oferecer, além do conflito de uma sociedade conservadora. Para quem conhece o cinema de François Truffaut e Jean-Luc Godard sabe do que estou falando. E quem não conhece, comece a conhecer desde já.

Em Paris, 13º Distrito, filme que ganhou prêmio de Trilha Sonora em Cannes 2021 e entra em cartaz nessa quinta-feira (28/04) nos cinemas brasileiros, conta a história de Émilie (Lucie Zhang), uma atendente de telemarketing que conhece Camille (Makita Samba), um professor que vira seu inquilino no seu apartamento e também mantém uma relação com ela, mas sente atração por Nora (Noémie Merlant), que por uma coincidência do destino conhece Amber (Jehnny Beth). É quase a poesia “Quadrilha” de Carlos Drummond de Andrade “João amava Teresa que amava Raimundo que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili…”.

O longa francês tem roteiro e direção de Jacques Audiard dos ótimos O Profeta (2009), Ferrugem e Osso (2012 e disponível no NOW) e Os Irmãos Sisters (2018). Esse último um dos melhores e mais originais westerns já lançados recentemente.

Aqui Jacques Audiard mergulha nos elementos de Nouvelle Vague e ainda nos traz uma análise de como a geração adulta atual lida com os relacionamentos. A fotografia em preto e branco de Paul Guilhaume dá o charme que o longa necessita, sem mesmo mostrar os pontos turísticos “clichês” do cinema.

Lucie Zhang, Noémie Merlant e Makita Samba em Paris, 13º Distrito
Lucie Zhang, Noémie Merlant e Makita Samba

Falando em clichê, o longa passa longe disso, principalmente se tratando dos personagens. Émilie é uma taiwanesa que para suprir suas dificuldades em ter relações “sérias” se joga em aventuras sexuais. Camille é um professor que não tem responsabilidades com relacionamentos e Nora, veio do interior para a capital e sentiu na pele que o bullying também afeta não só crianças e adolescentes, mas também a vida adulta.

Pouco tempo antes do bullying

O maior destaque do longa é o quarteto de atores principais que entregam uma atuação crível e sincera. As cenas de sexo podem incomodar quem é conservador, pois são bem explícitas e com vigor. Mas o que é o Nouvelle Vague sem enfrentar o conservadorismo, não é mesmo?!

Jehnny Beth como a sedutora Amber

Apesar da premissa ser atual, o roteiro não se aprofunda nos personagens e isso acaba nos afastando. A verdade é que o texto nos dá mais uma “geral” do que acontece no mundo atual com relações cada dia mais descartáveis e aqueles personagens são a personificação disso.

Memorável? Não. Mas é um filme crível, cru e necessário no meio de tantas produções pomposas, egocêntricas e vazias que estão em exibições no mundo afora.

Veredito da Vigilia

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