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Os desperdícios da ficção em Cópias: de volta à vida | Crítica

Os desafios e as teorias de vida eterna ou vida continuada fora do nosso corpo biológico sempre renderam grandes discussões, seja na ciência, seja na literatura e também no cinema. É com essa premissa que chega às salas escuras de todo o Brasil Cópias: de volta à Vida (Replicas, 2018), a nova ficção científica estrelada por Keanu Reeves, o nosso eterno Neo, de Matrix. A produção dirigida por Jeffrey Nachmanoff, conhecido de séries como Homeland, aborda temas marcantes, mas perde grandes oportunidades, apenas tocando a superfície de um oceano profundo e cheio de possibilidades. Ainda mais quando falamos de ficção cinematográfica.

A trama logo nos joga para o personagem central, William Foster (Keanu Reeves), que desenvolve o projeto de uma vida inteira para uma deslocada empresa do ramo médico-científico, no interior de Porto Rico. Em sua 344ª tentativa de realocar o download da memória de uma pessoa morta para uma carcaça robótica, as coisas não funcionam como ele gostaria. Tão pouco sua equipe, formada, entre outros, pelo também cientista Ed (Thomas Middleditch, de Silicon Valley). Amigos dentro e fora da empresa, é ele quem vai tomar conta da casa do colega enquanto o nosso protagonista sairá para um passeio de fim de semana com a esposa Mona (Alice Eve, a Mary Tifóide de Punho de Ferro), e seus três filhos. Onde as coisas deveriam começar a ficar interessantes, elas acabam tomando um rumo um tanto insosso quanto motivações e ações para Will. Tudo vindo com o acidente que mata toda sua família (mas da qual ele sai sem qualquer arranhão).

Sair para um passeio na noite com chuva, nunca é uma boa ideia!

Tão logo percebe que sua família está morta, ele os submete às tecnologias de sua pesquisa, que nunca deram certo até então, mas que começam a funcionar, incluindo até mesmo clonagem e criação de corpos em laboratório. Aliás, não em laboratório, na garagem de casa mesmo. E tudo sempre com ajuda do amigo Ed. A sequência de ações sem motivação ou qualquer argumento que justifique todo esse processo acaba esfriando o que poderia ser um bom ambiente dramático. O mesmo aconteceu (dadas as proporções) com a história de Stephen King em Cemitério Maldito e de certa forma, funcionou em tela. Aqui, provavelmente você vai torcer o nariz.

Clonagem na garagem de casa. Vem tranquilo!

Mas a lista de problemas que vai cercar Will não para por aí. Além desviar tecnologia da empresa que trabalha, ele passa a não ir trabalhar, aumentando a série de furos e improváveis situações que poderiam dar um ar de preocupação para o filme. Na verdade, as coisas vão acontecendo e pela curiosidade pelo que vem pela frente, o filme flui, muito mais como um thriller de ação, do que propriamente um drama de ficção científica. Até mesmo a difícil escolha de ter que subtrair um membro da família na hora das clonagens acaba sendo apenas um processo indolor e muito menos impactante do que poderia ser. Até que o roteiro nos guia para um revés simples e puro em que Will terá que apenas fugir da empresa obscura para a qual sempre trabalhou.

Calma filho, somos clones, tá tudo certo!

O terceiro arco é uma guinada para um filme de perseguição e ação e fatos novos que não se justificam ou mesmo se explicam com o mínimo de coesão com tudo que foi estabelecido. As tomadas de decisões mais dramáticas acabam sendo truques baratos e forçados para que tenhamos a ideia maniqueísta de bem contra o mal, sendo que o próprio personagem central cometeu tantos crimes quanto a própria empresa que trabalha. No “gran finale”, apenas um truque para trazer para o cerne um robô e uma nova virada de trama, que termina de forma clichê e pouco inspirada.

Apesar de ter raros momentos de inspiração, Cópias: de Volta à Vida acaba sendo um desperdício de ideias, e até mesmo de uma franquia. E Keanu Reeves no final das contas abraçou um projeto em que poderia ter deixado para outro rosto conhecido… talvez um Nicolas Cage da vida.

Veredito da Vigilia


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