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Os Cavaleiros do Zodíaco – Segunda Parte do remake da Netflix | Crítica

No dia 23 de janeiro de 2020 tivemos a estreia na Netflix da segunda parte da primeira temporada do remake de Os Cavaleiros do Zodíaco. A animação contou com mais seis episódios, totalizando os 12 prometidos inicialmente pela parceria entre a empresa de streaming e a Toei Animation. 

Assim como na primeira parte, a história segue a linha cronológica do mangá, e desta vez os inimigos são os Cavaleiros de Prata. Nesses novos episódios, acompanhamos o que aconteceu a Seiya, Shiryu, Hyoga e Shun após o embate com Ikki de Fênix e os Cavaleiros Negros de Guraad.

Agora os inimigos são os Cavaleiros de Prata

E são esses primeiros episódios – lotados de fan-service – que são a melhor parte da história, que se inicia após o resgate de Mu de Áries e Kiki a Seiya e seus amigos, logo depois da destruição do local de batalha, que ocorreu no último episódio da primeira parte.

Nos minutos iniciais dos novos capítulos podemos ver uma retratação fiel do primeiro encontro na praia de Seiya com o cavaleiro de Prata Misty de Lagarto. Misty aliás, está tão caricato quanto no anime original. E não é só ele, Moses de Baleia, Asterion de Cães de Caça e todos os outros guerreiros prateados que aparecem no decorrer da série também são representados do jeitinho que o criador da série Masami Kurumada imaginou. 

Misty de Lagarto está tão performático quanto no anime e mangá

Vale destacar que a Netflix foi bem corajosa em adaptar um anime violento para o público infantil. Confesso que achei que muitas cenas que vimos no anime original ficariam de fora, mas lá estão algumas delas, porém “adaptadas” para perder o impacto visual. Exemplo disso é Marin matando Seiya (de mentirinha, é claro), Ikki sem cabeça durante uma ilusão do Golpe Fantasma de Fênix e Shiryu com os olhos sangrando, por mais que estejam cobertos por uma faixa. Obviamente a cena de Misty nu, após sujar-se com o sangue de Seiya de Pégaso foi excluída da nova versão.

Porém, é após as lutas com os Cavaleiros de Prata que a nova releitura da Netflix começa a desandar. Como já citado, temos a linha cronológica do mangá, sem os fillers tradicionais do anime (Docrates, Cavaleiro de Cristal, Cavaleiros Fantasma, Cavaleiros de Aço e Cavaleiros de Fogo). Então, depois da luta contra o Ikki temos Seiya vs. Misty e depois contra Moses; Marin vs. Asterion; Seiya vs. Jamian de Corvo e Shina de Cobra; Ikki vs. Dante de Cerberus (aqui faltando apenas Auriga de Capela e a luta de Hyoga contra Babel de Centauro) e por fim Shiryu contra Argol de Perseu. Ok, aí iríamos finalmente para a luta de Seiya contra o cavaleiro de ouro Aiolia de Leão, sendo interrompida pelos cavaleiros de Prata de Mosca, Hércules e Cão Menor (que não aparecem nessa nova série) e a cena emblemática do Pégaso trajando a armadura de ouro de Sagitário. Até aqui temos os quatro primeiros episódios do remake, que depois do embate contra Jamian, apressa as coisas de uma maneira desordenada, o que não aconteceu nos episódios anteriores, desenvolvendo melhor a trama e os conflitos entre os personagens.

Seiya contra a dupla Jamian de Corvo e Shina de Cobra

Prova disso é a cena emblemática de Shiryu se automutilando ao cegar-se para derrotar o Cavaleiro de Perseu, devido a seu escudo da Medusa (que petrifica quem olhar para ele). Tudo acontece tão rápido, que Atena diz para o cavaleiro de Dragão que não poderá fazer nada por ele e o cara simplesmente diz que não há problema em ficar sem enxergar, na maior naturalidade. E depois de uma soneca ele tira a venda dos olhos e sai lutando por aí, sem nenhuma ida até o hospital pelo menos. Esse roteiro corrido prejudicou ainda a relação de amor e ódio de Seiya e Shina, que defende o cavaleiro de bronze de maneira inesperada, deixando os menos avisados confusos. A mudança de lado de Ikki também foi meio atropelada, mas depois do último episódio da primeira parte você até que compreende que ele não era mau.

Já havíamos visto Shiryu sem camisa, agora faltava a versão dele cego

A pressa também atrapalha o embate entre Seiya e Aiolia, que começa em frente ao orfanato onde o Pégaso cresceu e termina em uma pedreira! Pedreira essa que aparece muitas vezes, assim como as montanhas e vários outros cenários repetidos, como por exemplo o esconderijo da Saori e o quartel general de Guraad, que tem as mesmas paredes. O próprio orfanato citado acima volta a aparecer só para o Seiya ser atacado lá novamente, parecendo uma repetição da primeira cena. Com certeza se ele fosse uma terceira vez à aquele lugar seria atacado de novo (te liga, Seiya!).

Já que citamos o famoso Guraad, vilão da primeira parte do anime, é por causa dele que temos essa pressa repentina em contar a história. Justamente porque são dedicados novamente dois episódios inteiros para retomar aquele ‘papinho de profecia’, na qual a Arena deveria morrer porque senão ela iria erradicar a humanidade inteira. No anime e mangá, o Santuário está tentando matar Saori Kido pelo motivo de acharem que ela é uma impostora, já que a “verdadeira” deusa Atena está na Grécia, em um salão que fica após as 12 Casas do Zodíaco. Por um lado, a nova motivação para querer a garota de cabelos roxos morta parece mais palpável, fazendo com que cavaleiros de várias patentes acatem a missão de liquidar uma adolescente sem pestanejar. 

Atena não tem sossego nessa segunda parte do anime, mas lança o bordão: Eles Que Lutem!

Além do mais, você pode comprar a ideia depois que Guraard disse que foi o próprio Grande Mestre do Santuário que testemunhou a profecia de que os deuses do Olimpo, como Poseidon e Hades acabariam com o mundo. E como na história original o Mestre manipula a todos para matarem Atena, só porque ele queria governar sobre a Terra, pode ser que tenhamos ele como grande articulador desse plano maquiavélico, manipulando até mesmo o próprio Guraad. 

Pode ser que no final das contas o Grande Mestre seja o responsável pela tal profecia

Abordando outro lado da história, se todos os deuses olimpianos são maus nessa nova série de Cavaleiros do Zodíaco, não faz sentido que qualquer pessoa que saiba a respeito do fato de Saori Kido ser a reencarnação de Atena mude de lado para defendê-la. Há muito mais evidências de que deuses são maléficos nessa nova realidade do que simplesmente ir com a cara de uma garotinha e dizer que ela é diferente. Na ideia original, tanto do anime quanto do mangá, os cavaleiros devotavam as suas vidas pelo simples motivo da neta de Mitsumasa Kido ser quem era, ou seja, a Atena que todos veneravam e acreditavam que poderia ser a salvação de todos na batalha contra qualquer tipo de mal. Claro, o motivo de Aiolos de Sagitário ter salvo o bebê Atena será revelado na segunda temporada, mas mesmo assim se continuarem com esse papo de profecia, não faria sentido o sacrifício dele.

Aiolia levantando o dedo para dar a sua opinião sobre esse roteiro furado da nova série

Aliás, a cena de Aiolos fugindo voando, fazendo uma clara referência ao filme de 2014, A Batalha do Santuário, é totalmente desnecessária. Ainda mais depois de vermos Milo de Escorpião flutuando, no maior estilo Dragon Ball. Nunca, em nenhum derivado da franquia Cavaleiros do Zodíaco, tivemos alguém com essa habilidade. 

Outra coisa que não dá para engolir é o anime mostrar cavaleiros de Prata e Ouro, seus poderes e o abismo que há entre suas técnicas e terminar a série com Seiya e seus amigos lutando novamente contra os cavaleiros Negros High-Tech e Guraad que agora usa uma armadura no estilo Samurai de Prata, no final de Wolverine Imortal. Não faz sentido! Pra quê regredir as ameaças e fazer parecer que esses vilões são mais fortes do que os 12 Cavaleiros de Ouro, que estarão na segunda temporada do anime? Se fosse nos primeiros episódios tudo bem, já que você acabou de lutar com eles, e em toda história que se preze, os adversários vão ficando gradualmente mais fortes. Mas trazê-los de volta com a desculpa que o vilão encontrou uma forma de armazenar cosmo em uma máquina (que também não seria possível no contexto original da série) é muito fora da curva. Tão fora que o gancho para a próxima saga ficou jogado, sem encaixar com aquele momento. 

A máquina que incrivelmente armazena Cosmo

Enfim, a segunda parte do remake desenvolvido pela Netflix em parceria com a Toei compensa pelos inúmeros fan-services vistos ao longo dos novos seis episódios, mas perde um grande potencial do meio para o fim. As inserções de personagens e trama não ficaram nem um pouco harmoniosas para uma série que originalmente possui um roteiro simples, mas que engrandecia os seus protagonistas, coisa que vimos apenas acontecer com Seiya e Saori por aqui, que questionam seus papéis na história de maneira mais madura do que a obra de Kurumada, mas que infelizmente não dão espaço para Shiryu, Hyoga, Shun e Ikki terem os seus momentos também. Para uma anime que fala tanto de amizade, ele soa um tanto egoísta. Nunca o nome Saint Seiya fez tanto sentido para uma releitura de Cavaleiros do Zodíaco. 

Veredito da Vigilia

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