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O Samba é o primo do Jazz: Alcione e sua música despontam no Festival de Gramado | Crítica

A força feminina vem sendo uma tônica no 48º Festival de Cinema de Gramado. São vários os filmes com diretoras mulheres, e a première de O Samba é primo do Jazz vem reforçar essa ideia. O documentário brasileiro é comandado por Angela Zoé, que em 70 minutos mostra boa parte da trajetória de uma das vozes femininas mais ativas da música brasileira, que é a de Alcione Dias Nazareth, ou só Alcione, o que já dispensa apresentações. Com o carimbo da produtora e distribuidora O2 Play, o filme mostrou uma qualidade incrível, mesmo para uma sessão vista em casa (esse ano todos os filmes são exibidos pelo Canal Brasil). E o casamento dessa narrativa com recortes de entrevistas históricas da cantora e relatos atuais da própria artista e sua família, enriquecem ainda mais a novidade. É um daqueles tributos necessários e que muitos artistas nacionais merecem.

O Samba é primo do Jazz acaba sendo um filme necessário. A figura de Alcione é tão ou mais forte que a sua inconfundível voz, mas é quase certo que muitas gerações não viram o início de sua carreira e o como ela desde sempre foi realmente promissora. Filha de pai músico, um homem da noite e que lhe renderam muitos irmãos (o que a própria família explica, sem qualquer tipo de melindre), a ex-professora desde cedo foi educada a ler cifras e notas musicais, lhe garantindo uma expertise para muito além de seu talento natural com a voz. E são esses talvez os melhores momentos do filme, provando, basicamente, que aos 70 anos, Alcione não precisa provar nada para ninguém. Inclusive, isso fica bem perceptível nas formas em que ela trata seus ensaios, dando de ombros até mesmo para uma dobradinha com Maria Bethânia. Uma personalidade tão forte que brinca com os limites da simpatia.

alcione o samba é o primo do jazz
“O Samba é primo do Jazz” mostra a trajetória musical de Alcione Dias Nazareth

Agora, quando ela aparece disponível, a alegria é tão contagiante quanto sua voz. A forma de como Alcione é apresentada lhe conduz também a uma figura importante para as mulheres, de uma forma geral. Ela não tem problemas em ser autêntica e falar o que pensa, mostrando sim, que o lugar da mulher, é onde ela quiser. Outro lado que talvez poucos conheçam da “Marrom”, é a forma que tudo gira ao seu redor na família. No entanto, é uma relação matriarcal, com ela protegendo irmãs e todos seus próximos. Não por acaso, uma das irmãs é sua empresária e outra canta em sua banda.

É interessante perceber que nos últimos anos, as produções envolvendo músicos, artistas, cantores e esportistas brasileiros vem ganhando cada vez mais espaço em produções audiovisuais e no próprio Festival de Cinema de Gramado. São recortes importantes e biografias incríveis, que nos jogam para um Brasil mais autêntico que o dos dias atuais (será saudosismo meu?). Foi assim com Simonal e Eder Jofre em 2018, Hebe em 2019, e agora com Alcione em 2020.

Resgates como O Samba é o Primo do Jazz são mais do que bem-vindos. São necessários.

Veredito da Vigilia

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