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O Pintassilgo, um best-seller que o cinema bagunçou | Crítica

Um grande elenco e uma adaptação de um best-seller consagrado, vencedor do Prêmio Pulitzer de Ficção em 2014. Tudo isso poderia render um ótimo filme, não é mesmo? Some também a condução do diretor vencedor do BAFTA, John Crowley, e uma produção com assinatura dividida entre dois grandes estúdios (Warner e Amazon). Tudo muito chamativo, e um apelo publicitário pronto. Mas a verdade é que O Pintassilgo (The Goldfinch) esbarra em clássicos problemas deste tipo de adaptação. A ideia de fazer tudo que funciona nas páginas se perde e muito na tradução (ou transição) para a nova mídia, e acaba rendendo um pomposo e pretensioso longa, que chega em forma de uma história bem bagunçada.

Toda a trama gira em torno de Thedore “Theo” Decker. Quando menino, ele perde a mãe em um ataque a bomba em um grande museu de Nova Iorque. Na fase jovem, ele é interpretado por Oakes Fegley (Meu Amigo, O Dragão), que por sinal, está muito bem no papel. Na fase adulta, é amparado pelo talentoso Ansel Elgort (Em Ritmo de Fuga). No início de tudo, o filme nos vende um drama familiar clássico, com o menino indo morar na casa da Sra. Barbour (Nicole Kidman) e se movendo entre uma nova vida e uma nova família. Tudo regado com um misterioso pano de fundo e a relação de Theo com o quadro O Pintassilgo, do pintor holandês Carel Fabritius, que não por acaso, também morreu em uma explosão, aos 32 anos de idade. Tudo dá errado na vida do garoto, e quando ele acredita que teria um respiro de leveza, tudo gira bruscamente.

Nicole Kidman e o menino Oakes Fegley entregam boas interpretações

O Pintassilgo acaba se amparando muito em flashes do passado e do futuro, intercalando a narrativa. Essa não linearidade normalmente é usada para deixar um grande segredo ou uma grande revelação para o final da obra. A bengala no entanto acaba não apoiando a história da melhor forma, e muitas vezes será possível você se perguntar o quê todo aquele quebra-cabeças vai formar. Algumas relações são apresentadas de forma confusa, e sem a perfeita importância. Talvez a principal dela seja as motivações que ligam Theo com um atelier de antiguidades e a menina que ele conheceu no museu antes do atentado. Apesar de afetividade, não fica claro qual é o verdadeiro apego entre as duas crianças. Na fase adulta isso fica ainda mais evidente. Assim é também a relação de Theo e da Sr. Barbour, que oscila entre frieza e carinho. Mais adiante, outros dois núcleos da história nos serão apresentados, alterando tom e geografia. E com tudo isso, as relações construídas entre filme e espectador vão se perdendo aos poucos. É assim quando os personagens de Luke Wilson, Sarah Paulson (Vidro) e Finn Wolfhard (Stranger Things e IT: Capítulo 2) aparecem em tela.

Finn Wolfhard e Sarah Paulson também aparecem na trama de O Pintassilgo

A adaptação acaba também se perdendo quando valoriza algumas relações em detrimento de outras. Isso porque no final, talvez as pessoas que você menos queira e/ou imagina pode reaparecer, sem motivos aparentes, mas pela simples conveniência do destino. E aí, temos uma nova virada que aporta um terceiro gênero dentro do drama familiar e juvenil construídos até aqui: um misto de filme policial com thriller (pseudo)psicológico. É o ponto que você na cadeira pode se perguntar “como tudo isso vai se encaixar?” E a resposta é que, infelizmente, nem tudo se encaixa e nem tudo funciona. O filme destoa tanto que a sua introdução – com o personagem lavando uma roupa com o que parece ser sangue – quase não faz sentido com seu encerramento, onde ela retorna, mas em nada se explica.

A adaptação para o cinema de O Pintassilgo é um quebra cabeças com duas mil peças, mas que acaba finalizado com 500. As outras delas simplesmente não se encaixam.

Veredito da Vigilia

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