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O Justiceiro | Crítica 1ª temporada

Depois de um louvável adiamento – em função da tragédia em Las Vegas – a série do Justiceiro, mais uma da parceria Marvel e Netflix, estreou no dia 17 de novembro. Dando profundidade a história do personagem que apareceu roubando a cena na segunda temporada de Demolidor, a produção tem seus bons momentos e é mais pesada do que a de seus pares heróicos. No entanto, esbarra em obstáculos propostos pela própria produção e na própria releitura do personagem. A fórmula dos 13 episódios que vimos em Jessica Jones, Luke Cage e Punho de Ferro nos faz perder tempo com firulas e recursos que não empolgam.

Os trailers e a semente plantada para vender a série foram excelentes. Tudo isso jogava a expectativa para cima. Mas ao começar a assistir Justiceiro as coisas vão mudando de rumo. O Frank Castle que queríamos (aquele lá de Demolidor) ficou um pouco esquecido, e só volta nos últimos capítulos. Somos introduzidos a uma tentativa de retomada do personagem – excelente na pele de Jon Bernthal -, que está levando a vida como Pete Castiglione, ainda atormentado pelos fatos do passado e sua sede de vingança (que, no entanto, precisa ser acionada). Agora, ele leva a vida como um operário. E claro, o mundo e seu passado não vão deixá-lo muito tempo escondido.

Momento Tom Jobim: ocorre o tempo todo.

O grande problema de Justiceiro é a forma que foi conduzido. Há exageros de flashbacks, momentos ao violão, dramas familiares, pesadelos, alucinações e núcleos de personagens que não funcionam. Mas há também grandes momentos. A história demora pra pegar, mas consegue evoluir com o tempo. As sub-tramas dão um pano de fundo interessante e vemos debates importantes como a da liberação de armas – nos Estados Unidos a tônica voltou com tudo após a chacina em Las Vegas -, os traumas de guerra e as ações e consequências que elas trazem para quem as enfrentou. Tudo isso misturado ao clássico e questionável nacionalismo norte-americano. Nesse aspecto, o arco do personagem Lewis (Daniel Weber) é até mais interessante que o do próprio Justiceiro. Nele, vemos envolvida também a jornalista Karen Page (Deborah Ann Woll), um dos únicos elos da série com o universo Marvel da Netflix. Aqui valem dois parênteses: 1- perderam a oportunidade de usar a personagem Trish Walker (Rachel Taylor) de Jessica Jones, ao usarem um programa de rádio, e 2- alguém precisa dizer para a produção que dificilmente um jornalista vai ter uma sala própria em um grande jornal, tal como Karen possui no New York Bulletin. Aliás, ela tem uma sala e o editor dela não tem. Ok, fechado o ranço jornalístico da coisa.

Outro núcleo que demora para engrenar é o da Segurança Nacional. Nele temos a personagem Dinah Madani (Amber Rose Revah), que acaba literalmente dormindo com o inimigo (várias vezes) Billy Russo (Ben Barnes). O fã mais ávido de quadrinhos já fica na expectativa só por saber quem ele é, mas talvez vá esbarrar na forma familiar com a qual desenharam sua relação com Frank Castle. Aliás, a questão familiar é outro ponto exagerado. Prepare-se para muitos dramas com Frank, Micro (Ebon Moss-Bachrach) e Dinah. E provavelmente você vai perder as contas de quantas vezes vai querer tirar Pete/Frank da casa da mulher e filhos do Micro.

Dinah e seu parceiro em meio a um tiroteio quase vergonha alheia

Passando a fase de apresentação dos personagens e seus desenvolvimentos, a série melhora depois de longos e arrastados capítulos. Destaque para os episódios em que uma cena de crime é reconstruída a partir de diferentes pontos de vista e depoimentos (nela os flashbacks funcionam bem) e quando o Justiceiro retoma o personagem mostrado em Demolidor. São dois momentos que nos trazem de volta e onde cabeças vão, literalmente, rolar. É a violência que o personagem pede.

Micro: releitura duvidosa do personagem

Mesmo a linha crescente da série enfrenta obstáculos. Novamente temos uma cena em que não há como o herói escapar, e claro, um conflito bem idiota o faz contornar a situação. É algo a se pensar nos roteiros da Marvel e Netflix. Se não há criatividade para desenrolar determinadas situações, então por favor, evitem que elas ocorram. Não é pedir demais, fora que já vimos isso nas temporadas anteriores de Punho de Ferro, Demolidor, Luke Cage. O recurso de usar o paralelo entre cenas de Frank apanhando com o de cenas entre ele e sua esposa é também uma licença poética de gosto duvidoso. Fora a noção de pobreza de produção (nessa cena em específico), que também já vimos muitas vezes na parceria Marvel/Netflix.

No final das contas, Justiceiro prometeu mais do que cumpriu. Não é a pior temporada da Marvel na Netflix, mas deixou de ser a melhor por, novamente, precisar de 13 episódios para contar o que poderia ser dito em seis ou sete. Só não perde para Luke Cage e Punho de Ferro.

One Shot, One Kill. A estampa de Justiceiro está demais! Veja: https://goo.gl/2yFHbB

Veredito da Vigilia

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