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O Jovem Karl Marx | Crítica

Depois de ‘Lou’, outra cinebiografia que estreou em 2018 foi a do revolucionário e intelectual alemão fundador da doutrina comunista moderna. O Jovem Karl Marx (Der Junge Karl Marx) iniciou sua trajetória em solo brasileiro em 2017, durante a 41ª Mostra Internacional de São Paulo, e agora ganhou as salas de todo o Brasil (dia 12 de janeiro). No longa, assinado por Raoul Peck, vemos o início de sua vida de filósofo, economista, historiador, jornalista, e claro, teórico político. O recorte mostra como surgiram suas ideias, sua amizade com Friedrich Engels e todo o movimento operário perante à era moderna. Os conflitos são mostrados de uma forma bem equilibrada, e mesmo aquele que não compactua com as ideias do pensador pode assistir de coração aberto. Não há qualquer vestígio de panfleto político durante os 118 minutos de filme, o que se torna um grande trunfo. August Diehl encarna o jovem Karl Marx, enquanto Stefan Konarske vive seu companheiro de lutas Engels.

A produção é compartilhada entre França, Alemanha e Bélgica, o que torna o filme uma obra diferenciada. Isso porque os personagens oscilam suas falas, seja em alemão, inglês e francês, sempre de forma muito natural. Um capricho que não se veria em Hollywood, provavelmente. Com cerca de 26 anos, Karl Marx e sua mulher Jenny começam a peregrinar, quase sempre exilados pelas suas atuações políticas. Até que conhecem, em Paris, o jovem Engels, que começa a ajudar a montar o quebra-cabeças das teorias e visões com o alemão. Por muitas vezes, eles vão ter que dosar suas energias. A mudança brusca de visões e sentimentos é dúbia até mesmo para a classe operária, a que mais sofre na era industrial com escalas de trabalho desumanas, patrões que mais parecem carcereiros, turnos indignos e até mesmo trabalho infantil da pior forma. E claro, tudo isso numa época em que o conservadorismo batia no teto. Não por acaso, essa foi uma das maiores transformações teóricas e políticas no mundo desde a Renascença. Por vezes, as situações vão parecer cômicas, o clássico “triste, mas verdadeiro”.

August Diehl encarna o jovem Karl Marx (direita), enquanto Stefan Konarske vive seu companheiro de lutas Engels (esquerda).

No Brasil, o filme estreia ainda no ano do bicentenário de nascimento de Karl Marx, o que deve trazer a lembrança dessa época e de seu trabalho também em diferentes gêneros e produtos culturais. E isso pode vir a ser um bom resgate em uma época em que as pessoas precisam realmente relembrar e reviver a história, seja do Brasil ou do mundo. Essa é uma carência tupiniquim. Embora para muitos essa questão ainda seja um tabu, outros diriam que é uma bandeira vermelha, o drama em tela traz o ponto de vista também de personagens que bancam lideranças comerciais. A discussão sempre é válida, mas nos últimos anos, dificilmente se consegue fazê-la de forma razoável. Os polos estão sempre quentes e hoje em dia, para muitas pessoas, opinião boa é opinião “que eu concordo”.

Indiscutivelmente a obra de Raoul Peck tem grande valor, assim como a de Karl Marx é um patrimônio histórico. Deixe seu preconceito de lado e assista. E depois volte aqui para colocar seu comentário… ou xingamento. A discussão está aberta.

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