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O Grande Circo Místico: polêmicas em tempos pessimistas | Crítica

O Grande Circo Místico, o novo trabalho do consagrado diretor Carlos Diegues, ou Cacá Diegues, como preferir, foi uma daquelas obras demoradas, como estamos acostumados a ver quando o tema é cinema nacional. Afinal, o trabalho é árduo. Principalmente quando se adapta um poema de poucos versos de Jorge de Lima para 1h45 de filme e que envolve essencialmente cinco gerações de uma mesma família administrando O Grande Circo Místico. Foram necessários quase quatro anos entre filmagens, produção e pós-produção para que o filme ficasse pronto. A premiére nacional foi durante o 46º Festival de Cinema de Gramado, mas antes a obra foi vista também em Cannes, também em 2018.

 

A produção teve sua estreia nacional adiada de setembro para novembro, muito em função do clima pessimista que se vive atualmente no Brasil. Esse pessimismo pode ser visto também em O Grande Circo Místico, embora Cacá afirme que ele traz uma mensagem de esperança e de vitória. “O final do filme é exatamente o que está no poema”, falou Diegues durante o Festival em Gramado. Infelizmente a vitória é ao mesmo tempo depressiva. Em O Grande Circo Místico, o diretor afirma querer resgatar o “barroco brasileiro” dentro do cinema. E ele até está lá, com a temática, as nuances e toda a mística envolvendo a fábula circense e seus personagens. Celavie é uma espécie de fio condutor por entre todas as gerações do circo. Interpretado por Jesuíta Barbosa (Malasartes e o Duelo com a Morte), ele encarna muito bem a proposta. Ele nunca envelhece, mas seu cabelo sempre vai crescendo com o passar das gerações. Rafael Lozano interpreta Fred, da primeira geração. É ele que cria o circo, em função de um pedido de sua paixão Beatriz (Bruna Linzmeyer), com a qual aparecem as primeiras cenas mais fortes, em um verdadeiro kama sutra. As cenas de sexo e tensão passam a ser uma tônica em todas as gerações, nem sempre necessárias ou plenamente justificáveis. Com a relação da primeira geração do circo surge também a primeira tragédia (outra tônica através dos tempos do Grande Circo Místico).

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As tragédias, assim como o circo, vão passando de geração para geração, amparando também mais artistas conhecidos, como o ator francês Vincent Cassel (Jason Bourne, Cisne Negro), Mariana Ximenes, como a devota Margarete, e Marina Provenzzano (Mormaço) como Charlotte. Cada mulher da família tem seu drama pessoal e marcante. Diegues faz questão de mencionar que são todas mulheres fortes, mas é possível que você não concorde com isso plenamente. Elas podem ter sido bastante objetificadas e essa “força” pode ser bem subjetiva. Outros atores que fazem uma ponta são Antonio Fagundes, e a francesa Catherine Mouchet (Os Fantasmas de Ismael). Curiosamente o circense Marcos Frota também está no filme, em um dos poucos personagens sem vínculo com O Grande Circo Místico.

Elenco de O Grande Circo Mistico durante a coletiva no Festival de Gramado. Foto: Fabio Winter/Pressphoto

Em um misto de fábula e poesia visual, O Grande Circo Místico tem uma estética bonita, uma palheta de cores marcante e um visual incrível para se assistir no cinema. O filme recebeu um grande tratamento de pós-produção, exibindo em inúmeros momentos efeitos especiais que são raros em produções nacionais. Mas é uma história angustiante, e ao mesmo tempo pesada e pode gerar alguma polêmica por suas escolhas e por remeter a um cinema nacional que já passou. É uma licença poética que talvez não seja compreendida, talvez por inserir um pouco do que é viver no Brasil nos últimos anos em uma produção que iniciou em uma época de apogeu econômico, mas que no meio de tudo também quebrou, ingressando em uma de suas piores crises. É feito para refletir, mas pode muito bem incomodar.

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