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Clint Estwood mantém a boa forma aos (quase) 90, com “O Caso Richard Jewell” | Crítica

O excelente e incansável Clint Eastwood volta a trabalhar uma história real nas telonas com a estreia de O Caso Richard Jewell. Do alto de seus 90 anos (completa em maio de 2020) ele segue sua sina de não fazer trabalhos menos do que ótimos. Depois de A Mula (2019) – que a Vigília Recomenda fortemente -, os brasileiros agora poderão se ajeitar nas poltronas para ver como ele recontou o drama vivido pelo norte-americano Richard Jewell, em um bizarro caso de reversão de expectativas durante um atentado nas Olimpíadas de Atlanta, em 1996. Como sempre, ele fez com grandiosidade.

Começamos tudo conhecendo o nosso protagonista Richard Jewell. Interpretado de forma certeira por Paul Walter Houser, que já havia mostrado seu talento em outra história real no longa “Eu, Tonya” (2018). O policial tem um perfil que pode se confundir com aquele clássico estereótipo de oficial que vemos em filmes: fora de forma, com uma confusa sede por mostrar serviço, com espírito nacionalista, e um certo grau de filho único criado em apartamento. Mas sua história começa antes de se formar policial, trabalhando em um almoxarifado de uma grande empresa de advocacia, onde conhece Watson Bryant (interpretado pelo também excelente Sam Rockwell). Uma amizade estranha, mas fixada de forma suficiente para um auxílio futuro que seria essencial.

Feita a introdução, vemos que o já policial Richard Jewell faz escolhas estranhas ao desempenhar seu trabalho. E tudo isso lhe traz uma derrocada drástica, perdendo temporariamente seu posto. Coube então ao quase ex-policial se candidatar como voluntário para trabalhar nos jogos Olímpicos de Atlanta em 1996. Por lá, como staff, ele ajudava bombeiros, organizadores, levava água para gestantes e se preocupava com situações mais corriqueiras. Mas sua atenção e senso policial se mantiveram, ao ponto de ele identificar, não antes de ser zoado por muita gente, uma potencial ameaça de bomba durante as fan-fests do evento esportivo. Sua atuação lhe catapultou ao status de herói. O típico herói acidental, mas que a mídia adora idolatrar. O cenário recriado dos anos 90 por Eastwood é certeiro, pontuando uma trilha sonora capaz de encaixar “Macarena” no meio de todo o processo.

Houser, Rockwell e Eastwood em uma tríade quase perfeita

O problema é que ao recontar os passos da tragédia que vitimou algumas dezenas de pessoas, o FBI e o serviço norte-americano de investigação quis dar uma resposta rápida ao mundo. Afinal, as Olimpíadas estavam sendo assistidas em todos os continentes. E na ânsia de criar um vilão, Richard passa a ser o alvo principal. E o seu comportamento estranho e anterior, infelizmente não vai ajudá-lo. Quem não suspeitaria de um quase ex-policial, solteiro, de meia-idade, que mora com a mãe e guarda um arsenal inteiro no seu quarto, não é mesmo? É quando Eastwood consegue até mesmo dar alguns respiros cômicos para toda a situação. É claro, sempre amparado em Houser e Rockwell.

O drama de injustiça toma conta do filme do meio para o fim, calcado também nas atuações de Olivia Wilde, Jon Hamm e Kathy Bates, que entregam tudo que seus papéis lhes cabiam. Mídia, serviço de investigação e tribunais entram em ação, jogando tudo que é possível contra o pacífico Richard Jewell. A sensação de aperto no peito e nó na garganta chega ao ponto de confundir quem não conhece a história, que demorou anos até se desenrolar totalmente. Tudo isso nos garante uma boa sessão. Sem tanto impacto quanto A Mula, mas interessante o suficiente para entreter a todos durante pouco mais de duas horas. Eastwood manja. Eastwood nunca será uma escolha ruim.

A Vigília Recomenda!

Veredito da Vigilia

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