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O Beco do Pesadelo: remake simplista de Guillermo del Toro

Guillermo del Toro retorna às telonas depois de ganhar o Oscar por “A Forma da Água”. Agora, com uma história menos inspiradora, mas não menos interessante em “O Beco do Pesadelo” (Nightmare Alley), baseado no romance de William Lindsay Gresham, e que já ganhou adaptação na sétima arte no ano de 1942, com “O Beco das Almas Perdidas”, dirigido por Edmund Goulding (Grande Hotel).

O longa estreia no Brasil dia 27 de janeiro, tem distribuição da Searchlight Pictures, e tem um elenco recheado de estrelas. Entre elas Bradley Cooper (Nasce uma Estrela), Toni Collette (Hereditário), Willem Dafoe (Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa) e Cate Blanchet (Não Olhe Para Cima).

Para aqueles que já conhecem o trabalho de del Toro, está basicamente tudo no lugar. A encenação, o clima sombrio, o visual, os figurinos e aquele clássico tom de estranheza que ele consegue transmitir desde que o conhecemos lá em A Espinha do Diabo, Blade 2 e Hellboy. Sua assinatura é realmente inconfundível. No entanto, aqui ele não entrega todo o encantamento que tivemos na sua fábula de amor como A Forma da Água, e nem temos tanta afeição ao thriller de semi-terror que será introduzido. Apesar de ser correto em quase toda sua execução, sua visão de O Beco do Pesadelo apresenta uma sessão apenas morna, sem uma pitada final que nos levasse ao tal “encantamento”.

O Beco do Pesadelo de Guillermo del Toro estreia dia 27 de janeiro
O Beco do Pesadelo: Bradley Cooper em um momento de Indiana Jones com direção de Guillermo del Toro

O Beco do Pesadelo é um filme que mescla drama familiar (desvendado aos poucos), um thriller psicológico (centrado no seu protagonista) e um quase vislumbre sobrenatural. Esse último, por si só, acaba encoberto apenas por grandes golpes de um charlatão que desconhece limites. É na pele de Stanton Carlisle (Bradley Cooper) que entramos no clima frio que tradicionalmente move os filmes de terror. Aqui, passamos como nômades por várias cidades do interior dos Estados Unidos na década de 40, que parece a ideal para o que nos propõe Guillermo del Toro e toda sua criação de um circo (que poderia ser mais bizarro).

Saindo de uma cena de abertura que serve para acrescentar o mistério ao nosso personagem, entramos no fabuloso mundo do circo. Mas um circo com o tom e o DNA de del Toro. Prepare-se para uma roupagem única e cheia de nuances, essenciais para darem o ar de estranhamento do que está por vir. É no circo que Carlisle se “reencontra” após sua fuga inicial. Seu passado é uma das lacunas que será preenchida aos poucos. Mas como novo contratado do circo, que é chefiado por Clem Hoatley (Willem Dafoe), vemos que não teremos personagens totalmente bons, ou totalmente maus. Apenas personagens que tentam ganhar a vida, sem se preocupar com quem possam prejudicar. Ainda assim, mais honrados que a “carne nova” do picadeiro.

O Beco do Pesadelo: Bradley Cooper e Rooney Mara
Carlisle (Bradley Cooper) chega e mostra carisma e talento para conquistar os novos amigos do circo, como Molly (Rooney Mara)

A parte circense de O Beco do Pesadelo é que mais lembra o melhor cinema de del Toro. Nela temos as imagens mais icônicas do filme e as melhores relações, com direito a pequenos shows da clarividente Zeena (Toni Collette) e seu marido Pete (David Strathaim) e a atriz Molly (Rooney Mara), com a qual logo evidenciamos como seu potencial alvo amoroso. 

É no mistério do passado de Carlisle e as dúvidas de todos os novos colegas de trabalho do circo que o filme ganha nossa simpatia. Infelizmente, o filme só vai mostrar seu ponto principal depois que Carlisle deixar o circo e levar consigo uma das principais atrações (e um novo grande trauma pelo caminho). Infelizmente, del Toro se preocupou demais em deixar tudo muito explícito, tirando um pouco da graça no jogo de sedução entre obra e público. Com isso, há pouca margem para reviravoltas ou grandes surpresas.

Bradley Cooper é Stanton Carlisle em O Beco do Pesadelo
Carlisle (Bradley Cooper) não tem limites ao desafiar seu talento e ganância

É somente da metade em diante que temos o que nos conduzirá ao trecho mais violento do filme, já longe do circo e da cultura familiar que ele carrega. Nela, você verá que o charlatanismo de Carlisle não terá limites, ao mesmo tempo em que teremos acréscimos consideráveis no elenco, como a da psiquiatra que inicialmente tenta desmascarar seus truques de “paranormalidade”, vivida por Cate Blanchett.

Mostrando que é um filme sobre até onde a ganância pode levar o ser humano, O Beco do Pesadelo ganha em seu último terço um clima que nos leva a sensação de que uma grande tragédia se aproxima. Mas, como citei anteriormente, ela não é suficientemente grande. Apesar de apresentar seu momento “gore”, a trama segue sendo sempre muito expositiva (e até simplista), jogando na cara todos os detalhes que formam o caráter do charlatão vivido por Bradley Cooper e de como se encaminha sua vida.

E não deixando qualquer tipo de sugestão ao público, Guillermo del Toro conduz sua obra em um modo automático, apenas seguindo uma cartilha básica. O Beco do Pesadelo é competente enquanto trama, mas ineficiente ao encantar da forma que o seu diretor já fez em outras ocasiões. A culpa é da própria régua que del Toro criou.

Veredito da Vigilia

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