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O Banquete | Crítica

Tem cinema nacional de alto nível chegando aos cinemas. “O Banquete”, de Daniela Thomas é um daqueles filmes raros onde quase todos os seus personagens levam a trama nas costas, em um desfile de grandes atuações. Bastam poucos segundos de tela para que Drica Moraes consiga impactar o público, mesmo que seja com um simples (ou nem tanto) suspiro angustiado aos cinco segundos de tela. É verborragia do início ao fim, uma tragicomédia que mistura um pouco de história do Brasil com Deus da Carnificina (Roman Polanski, 2011, adaptado da obra francesa de Yasmina Reza) em um resultado muito autêntico. Aqui o papo é para adultos, gente grande.

Um brinde enquanto o barco afunda!

Minha curiosidade por “O Banquete” aumentou após o filme ser retirado da mostra competitiva do 46º Festival de Cinema de Gramado, cobertura especial da Vigília este ano. Na ocasião, por uma série de combinações, a diretora Daniela Thomas enviou o pedido de desistência em função da morte do publisher da Folha de São Paulo, Otavio Frias Filho, que morreu um dia antes da première nacional. O pedido foi aceito e realmente, o momento seria inoportuno para uma mescla de realidade com ficção a partir de tudo que O Banquete entrega. Em meio a saga de vários casais, relacionamentos tensos, joguinhos psicológicos e uma tremenda disposição para triângulos amorosos, um dos personagens personifica o jornalista, inclusive mencionando uma clássica carta ao então presidente do Brasil (confira aqui). Momento que é fundamental para o filme.

No final das contas, a concorrência no festival pôde comemorar, pois certamente O Banquete abocanharia vários Kikitos, mudando de forma marcante o resultado final.

 

O Banquete se passa todo em uma sala de jantar e funciona como se fosse filmado ao vivo, quase que sem cortes. A câmera é livre para percorrer expressões, objetos (muitos copos que se esvaziam cada vez mais), em closes e desfoques. A própria diretora descreve que o ambiente era livre, e os atores puderam brincar ao máximo com seus personagens. Drica Moraes é Nora, a anfitriã, com um cinismo afiadíssimo – aliás, esse ‘adjetivo’ é visto em quase todos os que passam pelo fatídico jantar -, Caco Ciocler é Plínio, que já chega bêbado para a tal celebração que marca o aniversário de casamento de Mauro (Rodrigo Bolzan), o chefe de redação que está com medo da perseguição após a publicação de seu editorial, com a fantástica atriz Bia (Mariana Lima). Maria (Fabiana Gugli) a funcionária acuada que esconde alguns segredos com os homens da mesa, chega acompanhada do vivaz Lucky (Gustavo Machado), que só tem olhos para o vinho, as finesses (e o garçom). Só eles já são capazes de prender os espectadores. Orbitam por este elenco Chay Suede, como o garçom Ted, a aleatória Mulher Gato (Bruna Linzmeyer) e a amiga de Bia, Claudinha (Giorgette Fadel).

Rodrigo Bolzan, Mariana Lima e Drica Moraes em atuações afiadíssimas em O Banquete

O filme vai jogando várias possibilidades na tela, várias pistas, que vão se fechando conforme o extenso diálogo vai ganhando forma, ao mesmo tempo que aperitivos, petiscos e o jantar vai sendo servido. Todos “bebem enquanto o navio afunda”, em um drama que mistura realidade e ficção, jogo de poder, amor e sexo, sem medo de ser desbocado. E como deve ser, deixa o melhor para o final.

A Vigília Recomenda.

Veredito da Vigilia

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