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Não Vamos Pagar Nada: a comédia escrachada também pode fazer crítica social | Crítica

Não Vamos Pagar Nada é uma nova estreia brasileira em tempos de pandemia. O longa, que estava previsto chegar às telonas em maio, chega diretamente aos serviços de streaming (e alguns circuitos drive-in), mais especificamente ao Telecine no dia 15 de outubro. A Vigília assistiu o filme em uma sessão especial (online) para a imprensa, onde os atores também falaram sobre a obra. E a novidade não esconde de ninguém que chega com a roupagem de comédia, daquelas que bebem diretamente em produções como Vai que Cola e Minha Vida em Marte. Os fãs do canal Multishow vão se sentir em casa, pois aqui a protagonista é a atriz Samantha Schmütz (do próprio Vai que Cola, Zorra Total, Carcereiros, Tô Ryca). 

Não Vamos pagar Nada é a primeira experiência do diretor de teatro João Fonseca atrás das câmeras e traz uma história cômica com vários traços de crítica social. Embora muito atual, a trama é toda baseada na obra do italiano Dario Fo (Nobel da Literatura em 1997) escrita na década de 70, onde uma dona de casa arruma uma confusão em um mercado em função dos altos preços praticados. Depois disso, a confusão vai tomando cada vez mais a vizinhança toda. E essa fusão da peça italiana com o humor escancarado brasileiro talvez essa seja a grande sacada do filme. Você vai se divertir com tudo, por mais simples que as coisas pareçam.

Samantha Schmutz
Samantha Schmütz é a protagonista da sátira/crítica de Não Vamos Pagar Nada

O filme traz uma comunidade pobre, fácil de identificar em qualquer cidade do Brasil. As pessoas ali estão realmente passando fome, o que desencadeia a confusão com o mercado que abusa dos preços, ao mesmo tempo que compra a “segurança”, fornecendo benefícios para os policiais da comunidade. Embora isso pareça complexo, a história vai circulando em pouco mais de um punhado de personagens, liderado por Samantha, que interpreta Antonia, e lembra muito o humor inocente que vemos em Chaves e Chapolin, por exemplo. É bom que se diga, que há uma parcela dos cinéfilos brasileiros que torcem o nariz para esse tipo de produção. Eu mesmo poderia me incluir nela, mas pouco a pouco o absurdo toma conta dos diálogos e das situações, ficando difícil não sorrir com o carisma dos atores, por mais infantil que as coisas possam parecer.

E os méritos disso tudo podem ser divididos com os atores Edmilson Filho (Cine Holliúde, O Shaolin do Sertão), que interpreta João, marido de Antônia, Flávia Reis (De Pernas pro Ar 3, Vai que Cola) que interpreta Margarida, Leandro Soares (Crô em Família) como Luís, Flávio Bauraqui e Fernando Caruso. Todos parecem participar de uma sessão de terapia do riso, se divertindo o tempo todo em tela. O ritmo colabora bastante, pois, assim como no teatro, não temos grandes respiros e estamos sempre vendo alguém falar o tempo todo. Isso é percebido também na própria cenografia. Gravado 80% do tempo em estúdio, é fácil perceber que o que importa mesmo são o texto e as piadas escritas para tudo que acontece. Alguns dirão que boa parte é improviso, mas o elenco refuta essa ideia. “Poucas coisas foram improviso, quase tudo que se vê estava realmente no roteiro. A grande vitória nisso tudo é fazer um texto escrito parecer improvisado”, disse Caruso na coletiva de divulgação do longa.

Flávia Reis e Leandro Soares estão muito bem nessa comédia

Gravado entre janeiro e março de 2020, Não Vamos Pagar Nada chega em um timing perfeito para sua crítica social. Quem assistir vai sentir esse impacto, pois os preços no supermercado hoje em dia parecem subir a cada semana. Esse fato foi enfatizado durante a entrevista coletiva pelo roteirista e ator Leandro Soares. “As pessoas achavam que votando no PT o Brasil ia virar uma Venezuela, mas na verdade votando no Bolsonaro é que o Brasil cada vez mais se aproxima de uma Venezuela”, apontou.

O fato é que, independente da crítica, Não Vamos Pagar Nada é uma comédia fácil de assistir e que cumpre com louvor seu propósito de divertir e entreter. Vale dar uma chance e se pegar rindo de alguns absurdos que a história impõe. Comigo foi assim, e funcionou perfeitamente.

Veredito da Vigilia

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