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Ms. Marvel muda o MCU e acerta em quase tudo

Uau, por isso a gente não esperava! Ms. Marvel, a sétima série da Marvel Studios no Disney+, entregou uma excelente história de origem, mudando tons e contornos de tudo que o Universo Cinemático da Marvel tinha apresentado no streaming até então. Assim como nos quadrinhos, Kamala Khan emulou o carisma do Homem-Aranha e desde já alçou Iman Vellani para um seleto grupo do qual fazem parte grandes estrelas como Christopher Reeve, Chadwick Boseman, Patrick Stewart, Robert Downey Jr. e Chris Evans. O grupo de atores que basicamente nasceu para o papel ao qual foram escolhidos.

Tirando o grande consenso da série (Iman Vellani como Ms. Marvel), o show ficou praticamente perfeito. Com episódios bem dirigidos e uma identidade visual muito própria (nada revolucionário, mas bonito de ver) tivemos uma origem essencialmente bem contada, embora você possa torcer o nariz para algumas decisões de roteiro ou mesmo do projeto como um todo. Mas, é bom lembrar: Ms. Marvel é uma série adolescente sobre uma adolescente. É uma série sobre histórias em quadrinhos. A lembrança vem porque às vezes podemos ser injustos, querendo ver um novo Guerra Infinita a cada novo lançamento da Marvel. Spoiler da vida: não teremos. E por todo esse contexto, há pouca margem para defeitos.

A história da adolescente paquistanesa-americana conseguiu usar todo o Universo Cinemático da Marvel para criar o clima perfeito para a série. Afinal, nos quadrinhos ela é essencialmente o que vimos: uma fã dos Vingadores, dos heróis, e, em especial, da Capitã Marvel. As brincadeiras com esse universo, tais como a VingaCon, o podcast de Scott Lang/Homem-Formiga e a (finalmente) chegada do Controle de Danos, formam um alicerce muito sólido para brincadeiras e influências. Temos ainda várias camadas como os próprios dilemas de adolescentes e a diversidade. O tema da aceitação, da família e principalmente a busca de Kamala por sua história. Saber o seu passado para poder construir sua identidade. Nos Estados Unidos, ela é vista como uma paquistanesa. No Paquistão, ela é vista como uma norte-americana. E isso deve ser intenso na cabeça de quem tem seus 16 ou 17 anos.

ms. marvel disneyplus day
Iman Vellani: O olhar de quem sabe que nasceu pra ser Ms. Marvel

O carinho e respeito com que a série tratou temas que não nos são comuns: a Partição e os costumes religiosos, que por muita gente são vistos ou ligados a questões terroristas, foi marcante e também um dos pontos altos. A Partição, inclusive, tem ação determinante para Kamala. Em 1947, a Índia, a então maior colônia britânica, se tornou independente e foi dividida em duas nações por um critério de separação religiosa. As áreas habitadas por hindus e sikhs foram atribuídas à Índia, enquanto que as de maioria muçulmana ficaria com o Paquistão. E nesse processo todo, vemos a gênese da heroína, com um elenco e produção repletos de pessoas com lugar de fala. Podemos ver isso rapidamente pelo elenco: Matt Lintz é Bruno, Yasmeen Fletcher é Nakia, Zenobia Shroff é Muneeba, Mohan Kapur é Yusuf, Saagar Shaikh é Aamir e Rish Shah vive Kamran. Além do elenco, produtores e diretores também foram escolhidos com um rico critério. A ver a dupla Adil El Arbi & Bilall (Batgirl, Bad Boys para Sempre), com os (melhores) episódios (o primeiro e o último), Meera Menon e a duas vezes vencedora do Oscar® Sharmeen Obaid Chinoy, nos episódios 4 e 5. Bisha M. K. Ali (Loki) foi o principal roteirista. Autoexplicativo, não é mesmo?

Ms. Marvel poderes e efeitos especiais
Muitos torceram o nariz para a adptação dos poderes de Ms. Marvel

Mas é claro, como falei antes, a série é quase perfeita. Faltou um pouco mais de organização na trama para formar os “vilões” e entrelaça-los com a heroína. Algumas soluções foram apressadas e só jogadas, sem muita vontade em explicar, como o próprio nome da personagem (seu batismo) e a fácil aceitação de que Kamala é agora uma pessoa que poderá sair de casa e enfrentar perigos, mas antes sequer podia ir na Comic-Con.

Os diretores de Ms. Marvel.
Bilall Fallah e Adil El Arbi foram responsáveis pelos melhores episódios

Por fim, o mais importante e o mais debatido entre 10 de 10 fãs da Marvel: a questão da introdução dos mutantes. O questionamento de que essa seria a melhor forma de inserir a pauta no MCU é válido. Afinal, uma série que se dedicou tanto e foi tão fiel ao seu cânone dos quadrinhos estaria desperdiçando a sua própria origem. E aí, podemos até cair em um debate “pseudo-racial” dentro de um universo que nem existe. Mas preciso dizer que não me impactou negativamente. Inclusive, a questão foi elegantemente absorvida por Kamala, e não deixa de ser uma bela lição final: “Seja o que for, só vai ser mais um rótulo”. Vale pra diversidade, pra sociedade, pra mutantes e pra tudo. E não podemos esquecer que isso pode ganhar um retcon com uma grande facilidade logo ali na frente.

E sigo com meu ranking de melhores séries da Marvel sendo atualizado a cada estreia. O topo dele é sempre com a última (com exceção de Cavaleiro da Lua) delas. E o seu?

Veredito da Vigilia

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