Moonlight: sob a luz do luar | Crítica
Um olhar tradicional sobre Moonlight: sob a luz do luar pode apontar para um filme fora dos padrões. E, realmente, é uma obra diferente. É diferente também de seus concorrentes à melhor filme para o Oscar 2017. Moolinght é dirigido por Barry Jenkins, aqui a tônica é como crescer em um ambiente totalmente conturbado, além de segregador. Temos novamente a questão racial em foco, mas dessa vez em um contexto de “primeiro mundo”. No Brasil, a barra seria bem mais pesada. Pode ter certeza.
Temos a vida e o crescimento de Chiron. Em um primeiro arco, visto como o pequeno “Little”. Desde cedo ele sofre por não ter o devido suporte em casa, e com o bullying dos colegas “mais bem resolvidos” da escola. Naomi Harris dá vida a Paula, a mãe drogada e que pouco liga para o que acontece com o filho pequeno. Ele cresce com raiva disso. Embora o conflito, ambos sabem que somente têm um ao outro. Little consegue passar por esta fase com o inesperado amigo Juan (Mahershala Ali, aqui indicado à estatueta como melhor ator coadjuvante). Juan é um de seus poucos escapes, mas mal sabe ele que o novo amigo é também responsável indiretamente pela barra vivida diariamente com a mãe. Teresa (a ótima Janelle Monáe, que também está em Estrelas Além do Tempo) completa sua lista de poucos amigos, acolhendo o menino nos dias difíceis.
Little cresce. Na segunda metade ele enfrenta além dos problemas iniciais, a sequência de algumas indefinições amplificadas pela adolescência e a fase de descobertas, principalmente com o colega Kevin. Agora ele não é mais pequeno, e o chamam pelo nome mesmo. A mãe também não ajuda, e está cada vez mais transtornada pelas drogas. Seu amigo Juan não existe mais. Teresa é o pouco que lhe restou. Mas é sempre difícil se abrir e jogar os problemas para fora. E quando isso acontece, pode ser um rompante que lhe traga graves consequências. E realmente trouxe.
Por fim, vamos ao último e terceiro arco. Chiron agora seguiu a lógica das facilidades. Está se virando e ganhando dinheiro como seu antigo amigo Juan. Vendendo drogas. Sua mãe mora em um asilo, onde ficar o dia inteiro pode ser a melhor opção do que sair e voltar ao vício. Tudo poderia estar melhor. Mas não. Chiron, agora um traficante, é Black. As benesses do dinheiro não completam as lacunas que o tempo deixou. Desde pequeno até a idade adulta, somente um homem o tocou. E de duas formas bem marcantes. O reencontro pode ser a saída para um homem carente, vítima de um contexto ruim dos Estados Unidos. Tudo isso torna Moonlight um filme diferenciado. Uma realidade ruim dentro do primeiro mundo. Um filme cheio de angústias, mas que poderia passar despercebido do Oscar.