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Mindhunter | Crítica da 1ª temporada

Imagine os primeiros estudos da mente, do comportamento e das relações que levam o ser humano a cometer os piores crimes. E se esses crimes forem sequenciais? E se pudéssemos prever esse tipo de comportamento ao ponto de evitar essas tragédias? Esse é o ponto de partida de Mindhunter, a nova série da Netflix, que estreou dia 13 de outubro. Liderada por ninguém menos que David Fincher, vencedor do Globo de Ouro de melhor diretor por A Rede Social e responsável por grandes obras como Clube da Luta e Seven, e outras como Alien³, a série traz tudo que podemos esperar de um cineasta com essa experiência. O jogo mental, o comportamento, as propostas e a criação de uma nova repartição do FBI a partir de um oficial jovem, ingênuo e curioso. E crimes, muitos crimes.

Mas não espere ver a clássica série policial. Mindhunter é uma produção de roteiro e a história não vai garantir troca de tiros, empurrões ou grandes cenas de luta (com exceção da incrível cena de abertura). Aqui a proposta é outra. É da crueza do ser humano. Os primeiros e últimos episódios são dirigidos pelo próprio Fincher, que reveza a batuta com Asif Kapadia (Amy, Senna), Tobias Lindholm (Guerra, Sequestro) e Andrew Douglas (Horror em Amityville). A história é escrita por Joe Penhall e Jennifer Haley, inspirada na memória do veterano do FBI John R. Douglas, intitulada Mindhunter: Inside the FBI’s Elite Serial Crime Unit, que foi escrita por Mark Olshaker.

Logo no primeiro episódio somos apresentados ao protagonista Holden Ford (Jonathan Groff). Responsável pelas aulas de como negociar com reféns, área onde ele também atua na prática, ele é curioso. E toda sua criação é bem feita, e seu arco de evolução é um daqueles exemplos a ser seguido como uma cartilha. Toda série merecia algo assim. Os episódios são também ricos e envolventes em diálogos. Temos a criação do enredo a partir de Quantico, na Virgínia. A escola de oficiais do FBI, representada nos anos 70 é a típica sociedade dos homens brancos e do american way of life. A partir dela temos os primeiros conflitos e impulsos que levam Ford a conhecer sua futura namorada Debbie (Hannah Gross). Com a estudante de Sociologia, vemos conflitos que conduzem o nosso mundo até os dias de hoje e são um verdadeiro brinde aos espectadores. A partir da sua curiosidade, Ford volta aos estudos e vemos alguns preconceitos por parte disso (muitos hoje em dia já superados, outros nem tanto). Sua inquietação o faz conhecer o também professor do FBI, Bill Tench (o ótimo Holt McCallany), e mais tarde, a inteligente e acadêmica Wendy Carr (Anna Torv). Entramos numa espiral incrível de pesquisas e entrevistas com as mentes mais perigosas e encarceradas dos Estados Unidos. A equipe se envolve e cai pra cima, virando um departamento, com um show a parte entre os atores.

Ford (com a foto) e Tench tornam-se pioneiros de um estudo

As referências aos anos 70 e a condução da história é envolvente. Vemos Fincher usar Um Dia de Cão (1975) um clássico com Al Pacino e dirigido por Sidney Lumet para os primeiros confrontos do protagonista. Vemos também mulheres inteligentes e fortes que acabam se tornando fontes de inspiração, machismo, algumas surpresas e claro, o envolvimento com os Serial Killers. Inclusive, o termo surge a partir da formação da nova equipe. As coisas começam a dar certo e o trabalho de todos começa a ser reconhecido. Ao longo de todo esse processo somos apresentados a um futuro vilão e vendo como seu comportamento pode desabrochar em algum crime. O gostinho por mais episódios vai nos tomando conta.

Mindhunter cresce ainda mais quando Ford e Tench começam sua peregrinação pelo país com a finalidade de levar adiante seus estudos de comportamento. No entanto, eles não são tão acadêmicos, o que nos leva a interferência necessária de Wendy e os aprofundamentos das técnicas de entrevista. O clássico conhecimento de aquisição de dados para que depois possam ser etiquetados e cruzados não é bem o que os agentes, principalmente Ford têm em mente. E isso pode ser bem prejudicial, ainda mais com um novo colega cagueta que entra em cena.

Tench e Wendy tentam manter as coisas em ordem

As coisas pioram e a história mostra que Ford vai lentamente se transformando. O seu crescimento é que conduz a equipe e a trama. A partir de acertos de sua intuição (e claro, tudo que ocorre em paralelo com sua vida particular) o workaholic agente começa a ultrapassar algumas barreiras e, ao mesmo tempo, levar conflitos (talvez internos) para seus entrevistados. E coisas inimagináveis podem acontecer a partir desse comportamento, fechando a primeira temporada de forma que só David Fincher poderia fazer.

Mindhunter é feita para degustar nas suas minúcias, nos seus detalhes, na sua primorosa trilha sonora setentista, no visual, e até nos belos carros usados na produção (particularmente são um deleite). Mas claro, como na maioria das vezes, temos aqueles episódios que não nos conduzem grandes arcos. Menos mal que são 10 capítulos. Quer outro defeito da série? Vamos ter que aguardar mais algum tempo até que venha a segunda temporada.

A Vigília Indica!

Veredito da Vigilia

2 thoughts on “Mindhunter | Crítica da 1ª temporada

  • David Fincher não ganhou o oscar por A Rede Social, foi apenas indicado.

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    • Robson Francisco Nunes

      Verdade, foi o Globo de Ouro! Sempre bom ter uma audiência atenta! 🙂

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