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Meu Pai e Outros Vexames: a nova sitcom da Netflix é um desastre

Episódios pilotos, em geral, servem como uma amostra da série, uma forma de fisgar o telespectador e envolvê-lo na narrativa. Em “Meu Pai e Outros Vexames”, a vontade é de largar o episódio pela metade e nunca mais voltar. Considerando o formato sitcom de 20 minutos, é pouco tempo de tela para muita vergonha alheia.

A história acompanha Sasha (Kyla-Drew), uma adolescente que, após a perda da mãe, se muda para a casa do pai Brian (o astro Jamie Foxx), onde também vivem seu avô (David Alan Grier) e sua tia (Porscha Coleman). Além deles, a casa também é muito frequentada pelo amigo policial da família (Jonathan Kite) e pela bela assistente de Brian (Heather Hemmens). É o conceito de “grande família divertida” que tanto vemos nesse formato de série.

https://youtu.be/aGOwjVOeboE
Realmente, dona Netflix, “vexame” foi uma boa escolha de título

Criada e produzida (além de protagonizada) por Jamie Foxx, a série pode, ao menos, ser um daqueles casos em que pensamos “bom, pelo menos ele está fazendo algo que gosta”. E seria isso, somente isso. Mesmo com um plot um tanto batido, a sitcom, em sua essência, tinha potencial de ser algo interessante, divertido e relevante, mas o que vemos aqui é uma grande quantidade de piadas prontas e antigas.

Acredito que, de certa forma, “Meu Pai e Outros Vexames” queira homenagear grandes séries, mas, novamente, o que temos são recriações fracas. Já no primeiro episódio, por exemplo, temos uma breve cena em que o personagem de Jamie entra no quarto da filha, que, dançando de fones de ouvido, não vê o pai entrar. Uma nova versão da clássica cena em que Will (Will Smith) entra no quarto de Ashley (Tatyana Ali) em “Um Maluco no Pedaço”.

Deste ponto em diante, tudo piora. Ocasionalmente, os personagens utilizam do recurso da quebra de quarta parede, em uma tentativa de se aproximar com o telespectador (fórmula já muito conhecida, mas que recentemente foi muita bem sucedida com Fleabag e outros casos). Também não funciona, já que os comentários que eram para ser engraçados, acabam indo completamente na direção oposta.

Além disso, temos o clássico recurso de um mesmo ator interpretando diversos personagens, esses que são extremamente montados, caracterizados e exagerados, estilo Eddie Murphy em Um Príncipe em Nova York. Mais uma vez, a tentativa de homenagear os grandes clássicos dos anos 90 e 2000 acabou saindo pela culatra.

Jamie Foxx falha em homenagear séries e filmes do passado

“Meu Pai e Outros Vexames” falha também onde poderia se destacar e se eternizar. Cada oportunidade de tocar em um assunto relevante e atual acaba sendo pobremente construída em seu plot, deixando de fora pautas sobre adolescência, religião e muito mais, que poderiam muito bem melhor equilibrar bom-humor com doses de “lição de moral”, como tantas outras já fizeram. Nesse sentido de adolescência “consciente”, por exemplo, “Eu Nunca”, também da Netflix, sai ganhando de lavada.

Já no quesito atuação, o vencedor do Oscar (de 2005, por “Ray”) Jamie Foxx aparece quase irreconhecível. Sua performance é exageradamente caricata e pouco carismática. Aqui, quem mais se destaca são as protagonistas femininas, Kyla, Porscha e Heather, que mesmo se saindo bem, não conseguem aguentar sozinhas o peso inteiro da série.

Perto de “Meu Pai e Outros Vexames”, algumas outras investidas medianas recentes da Netflix, como “Space Force”, acabam parecendo obras-primas. Se você ficou na vontade (e na expectativa) de uma série atual de humor sobre uma família negra, talvez seja melhor conferir “Reunião de Família”, disponível no mesmo serviço de streaming.

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