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Maus, um clássico eterno dos quadrinhos

Maus dispensa apresentações. É um conto, quase autobiográfico, e leitura obrigatória para os amantes da arte sequencial. Publicado pela primeira vez em 1986, foi na sequência, premiado com o maior prêmio editorial que se pode obter: o Prêmio Pulitzer de Literatura. Escrito e desenhado por Art Spiegelman, Maus (rato em alemão) conta a história de Vladek Spiegelman (pai do autor), sobrevivente do holocausto da Segunda Guerra Mundial. A edição atual da obra traz as duas partes reunidas e com pequenas atualizações do autor, sendo publicada pela Quadrinhos Na Cia.

Sucesso de público e crítica desde seu lançamento, Maus é um marco na história das Histórias em Quadrinhos e Graphic Novels, tornando-se inclusive objeto de estudos acadêmicos das mais diversas áreas: História, Comunicação, Psicologia, Artes e Literatura. A história, toda em preto e branco traz em seus personagens uma metáfora antropomórfica em que os judeus são os ratos, caçados pelos alemães, os gatos, posteriormente auxiliados pelos norte-americanos, os cães, e com participações dos poloneses, os porcos. No entanto, todos eles são (pro bem ou pro mal) humanos.

Art Spiegelman oscila a narrativa de forma em que somos levados à Segunda Guerra Mundial, mas ao mesmo tempo, viajamos de forma autobiográfica, para a sua pesquisa da história, oscilando passado e “presente” e de como sua relação com o seu pai influenciou na própria obra. Isso garante ao mesmo tempo o impacto de adentrarmos em uma das maiores tragédias humanas em um conto de sobrevivência e sofrimento, mas também um curioso e divertido embate entre pai e filho e suas gerações. Sofremos com tudo o que o Vladek e Anja passaram, mas ao mesmo tempo, podemos sorrir com a avareza e as incríveis formas do clássico estilo do judeu pão-duro em tudo que se resume a consumo e dinheiro. Se um judeu já tem essa fama, imagine o que passou por duras penas na guerra e precisou economizar até mesmo migalhas de pães.

Separação, dor e Auschwitz

Em Maus, entramos de forma lúdica em uma época difícil de esquecer e que atormentou o personagem Vladek para sempre. De uma vida pacata, de um cidadão acima da média, que fazia sucesso com as mulheres e que sabia ganhar dinheiro e encantar a todos, Vladek tem sua vida virada de cabeça para baixo com o impacto da Guerra. Sua família é dizimada em etapas, e a força de seu amor por Anja era quase o único combustível para continuar a viver. Primeiro ele é privado de uma boa vida como empresário. Depois, ele é separado de seu filho Richieu com pouco mais de cinco anos, em seguida seu sogro, sua sogra e por fim, sua esposa. Em todos esses meandros, sempre a dúvida do que estava por vir e as torturas que uma guerra pode trazer.

Veio o pior. O inferno na terra auferido pelo famoso campo de concentração nazista em Auschwitz. Torturas, milhares de mortes, e uma visão quase empreendedora que salvou Vladek, e Anja, por consequência. Tudo isso é claro, misturado a um pouco de sorte. Mais traumas vieram depois, o que pode ter deixado as coisas ainda piores, como o suicídio e a consequente perda de uma das memórias (possivelmente) mais detalhadas e contundentes da época. Contudo, Art Spiegelman vai costurando tudo muito bem, indo e voltando no tempo narrativo e garantindo a resposta que mais nos deixa inquietos depois de tudo o que passou, na última página. Vale cada quadrinho.

Ficha técnica:

Spiegelman, Art

Maus: a história de um sobrevivente

Título Original: Maus, a Survivor´s Tale

Quadrinhos na Cia.

Tradução: Antônio de Macedo Soares

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