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Marighella resgata parte do patriotismo que nos foi raptado

Marighella, o primeiro filme de Wagner Moura na cadeira de diretor, finalmente chega aos cinemas brasileiros no dia 4 de novembro, marcando exatos 52 anos do assassinato de Carlos Marighella pela Ditadura Militar Brasileira, no ano de 1969. Há algum tempo fazendo barulho, o longa vem imbuído de algumas polêmicas, e já passou por festivais pelo mundo, como Berlim, Seattle, Hong Kong, Sydney, Santiago, Havana, Istambul, Atenas, Estocolmo e Cairo, onde pavimentou uma expressiva curiosidade por seu resultado final, principalmente neste que vos escreve. Ao final da sessão, que tem 2h35 minutos, a sensação é de que, de alguma forma, Moura e sua equipe conseguem reestabelecer uma parcela de patriotismo que parece estagnada na maioria das pessoas, mostrando que as cores verde e amarela não estão e não merecem estar tão impregnadas à incompetência do atual grupo política que governa o nosso país.

Wagner Moura não se furta de colocar a figura principal do seu filme como um agente forte e caótico. Embora deixe sempre claro seu posicionamento, Marighella traz uma mensagem necessária, que passa longe de alguns revisionistas que confundem ditadura com revoluções. Uma marca triste que ficará para sempre nas páginas dos livros de história e que de tempos em tempos precisa ser resgatada para refrescar a memória. Seu Jorge, uma das polêmicas centrais ao ser escalado no papel principal, como de costume em seus papéis na TV e no cinema, entrega o carisma e a dualidade necessária para viver o anti-herói, tendo ao seu lado “companheiros” dedicados à frente das câmeras.

Marighella
Seu Jorge e Wagner Moura no set de filmagens de Marighella

Com uma impactante cena de abertura em um plano sequência em um dos assaltos do grupo revolucionário, o filme abre com segurança e logo deixa o espectador grudado à tela. O ritmo inicial é certeiro e também se ampara na ótima música de Chico Science & Nação Zumbi. Aos poucos, porém, ele acaba caindo em um formato um pouco menos interessante, muito focado em diálogos expositivos (em excesso) e um formato de filmagem um pouco mais engessado. O filme prolonga momentos de camaradagem entre Marighella e seu bando, assim como cenas em que os agentes da ditadura e norte-americanos se mostram incomodados com as ações. Neste aspecto, o filme demora a colocar a rivalidade de Marighella (Seu Jorge) e Lúcio (Bruno Gagliasso) em tela.

marighella bruno gagliasso
Lúcio (Bruno Gagliasso) é o antagonista de Carlos Marighella

Apesar de cozinhar o público em fogo baixo em alguns momentos, o longa não economiza na violência, principalmente ao colocar de forma visceral algumas das maneiras mais cruéis usadas por policiais na perseguição de seus opositores. Em vários momentos temos a lembrança e a marcação de mais nomes históricos que ajudaram o Brasil na luta inglória contra o regime ditatorial dos homens de farda. Ao mesmo tempo vemos momentos fraternos e bonitos daqueles que precisavam se esconder, simplesmente por não concordarem com o que a Ditadura considerava “correto”. A relação de Carlos Marighella, sua família e seu filho, são momentos para se respirar e considerar as situações limites que eles enfrentavam. O legado internacional do Marighella também é abordado, mostrando que suas obras literárias ultrapassaram fronteiras.

marighella é interpretado por Seu Jorge
Marighella: filme traz uma relação terna e complicada entre pai e filho

Por vezes, a direção de Wagner Moura (que faz uma participação especial com sua voz no interrogatório de Lúcio) esquece propositalmente a sutileza, porém, isso não chega a ser um problema. Algumas mensagens hoje em dia realmente precisam ser explicitadas, e quase desenhadas. E mostrando que a luta vale a pena, ele entrega em uma cena final, tão explícita quanto a mensagem do filme todo, que o Brasil e suas cores são do povo que não foge à luta, e mesmo que o verde e amarelo da bandeira hoje estejam vinculados a um caricato e contraditório grupo, elas ainda pertencem à todos que acreditam que as coisas possam melhorar. 

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