Manhãs de Setembro: uma série emocionante e poderosa

Imagine que, depois de uma década, um relacionamento seu do passado volte e te apresente um filho de dez anos. Porém, isso não poderia acontecer em hora mais imprópria, afinal, foi exatamente no dia em que você consegue realizar um de seus maiores sonhos. Esse é o drama que Cassandra (Liniker) enfrenta em Manhãs de Setembro, nova série da Amazon Prime Video.

Cassandra é uma mulher trans, que consegue aos seus 30 anos, alugar um local para ir morar sozinha. Ela trabalha muito, como entregadora de aplicativo durante o dia e à noite ela canta no bar de sua amiga. 

Como o título já diz, a série é embalada com músicas de Vanusa, a maior ídolo da protagonista, que inclusive fala com ela em pensamento. Cassandra tem também um namorado, Ivaldo, vivido pelo excelente Thomás Aquino (Bacurau) e vive rodeada de amigas. A vida dela, apesar dos perrengues, parece ter entrado em sua melhor fase.

Até que a campainha toca. Leidi (Karine Teles, Benzinho), sua namorada de uma década atrás, chega com um menino. Gersinho (Gustavo Coelho) tem a exata idade do relacionamento que Leidi teve com Cassandra, que na época, não tinha transacionado e se chamava Clóvis.

É aí que começam os maiores embates da série. E, de uma forma gradual e muito emocionante, a relação de Cassandra começa a se construir com Gersinho. Liniker se mostra uma atriz completa, que se entrega para a história e ainda mostra seu dom musical cantando Vanusa. Gustavo é um ator mirim que surpreende pelo talento. A química entre os dois realmente acontece. Cassandra, num primeiro momento, rejeita Gersinho, mas aos poucos começa a ceder e as cenas vão fisgando o espectador. “Você é muito bonita, pai” é uma das frases ditas por Gersinho, que em nenhum momento mostra preconceito, só deseja entender porque Cassandra não quer fazer parte da sua família.

A série criada por Miguel Almeida e dirigida por Luís Pinheiro acerta em mostrar um Brasil real (a série é ambientada em São Paulo, mas em função da Pandemia, foi gravada no Uruguai, o que não desabona em nada a obra). Um Brasil onde o trabalho é precarizado, morar custa muito caro e a discussão da pauta LGBTQI+ deve aparecer cada vez mais. 

Leidi é uma mãe solo há dez anos que precisa se virar para conseguir ter moradia e alimentação para o dia. Ela tenta ser ambulante, tenta vender roupas, mas, no fim do dia, acaba dormindo num carro com o seu filho, sem direito a um banho e a uma noite tranquila. Enquanto isso, Liniker e a sua Cassandra mostram a solidão da mulher trans, que sofre preconceito nos lugares que frequenta e tenta a todo custo ter uma vida comum, direito que é tirado dela por todos os olhares tortos e comentários maldosos.

Com cinco episódios de 30 minutos, Manhãs de Setembro estreia no dia 25 de junho. Uma série brasileira em que uma mulher trans negra é personagem principal para mais de 200 países. Em um país onde a expectativa de vida de uma pessoa trans é de 35 anos, Manhãs de Setembro chegou para dar visibilidade para pessoas consideradas invisíveis.

A Vigília recomenda fortemente a série e já avisamos: separe os lencinhos que você vai se emocionar.