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Maligno: o terror trash (e engraçadíssimo) de James Wan

Falar de Maligno (Malignant), novo filme de James Wan, é realmente um misto de sentimentos. Algo muito parecido com o que senti assistindo Aquaman, não por acaso, outro filme dirigido pelo cineasta. Ele atualmente é uma espécie de midas dos filmes de terror da Warner Bros. Pictures – transforma pouco investimento em produção em sucessos expressivos de bilheteria -, mas versátil o suficiente para ter passado por franquias como Velozes e Furiosos, Sobrenatural, Jogos Mortais e Invocação do Mal (do qual é o criador). Enfim, o cara que entende de blockbuster, sustos e cenas de ação. Agora, iniciando (ou não) um novo braço de terror no estúdio da caixa d’água, ele abre uma caixa de brinquedos que passa pelos principais clichês do terror pop, traz um toque de thriller, gore e comédia. O resultado é uma zoeira trash que vai do 8 ao 80, fazendo com que o sentimento dos espectadores possa ser tão polarizado quanto o Brasil de hoje em dia. Ou você ama, ou odeia. Eu, por vários motivos, vou ficar com a primeira opção (mas só pro filme, não para o Brasil, risos).

O terror original “Maligno” entregava em seus trailers (sempre instigantes) uma história de um assassino em série, que, de alguma forma, estava conectado com Maddison Mitchell, papel de Annabelle Wallis (Annabelle 2, Rei Arthur: A Lenda da Espada), que enxergava os crimes em espécies de visões. Fora isso, também víamos uma estranha singularidade de quando era pequena e falava com um tal de Gabriel, dando a entender que ele é uma espécie de demônio. Temos então a mistura de thriller com sobrenatural que Wan sempre gosta de apresentar. Mas, como falei, aqui teremos surpresas, que não detalharei aqui, mas possivelmente estará em nosso review em vídeo, com os devidos spoilers, já assina o canal aqui). 

E o meu misto de sentimentos vai intercalando o amor e o ódio. O início do filme apresenta da forma mais padrão possível uma clínica antiga que lidava com um estranho ser que precisava ser extirpado. O suspense é mantido, mas a trama sai da clínica mal assombrada e ganha uma Seattle urbana, cheia de referências a Nirvana e Pearl Jam, onde Maddison aguarda uma filha e lida com o marido violento em cenas difíceis e bem covardes (por parte do marido e do diretor). O impacto inicial é forte. O estranhamento cresce: Afinal, estamos lidando com uma trama urbana e criminal, ou sobrenatural e mal assombrada? James Wan vai rindo da nossa cara enquanto isso.

james wan apresenta maligno
James Wan se diverte com seu mais novo brinquedo: Maligno

Maligno avança apresentando também uma geografia e arquitetura bem aleatória da cidade. O filme se passa nos dias atuais, mas se falassem que era anos 70 ou 80, ninguém poderia questionar. Exceto por uma tecnologia ou outra, a casa onde vive Maddison é propositalmente assustadora e enorme, com uma decoração pra lá de retrô. Afinal, coisas antigas valem muito para assustar. Vale a pena ficar de olho também em como algumas perseguições ocorrem e chegam em destinos que também não fazem muito sentido. Mas tudo certo, tudo vai colaborando para o nosso estranhamento.

Destaque também para os personagens caricatos como a irmã superprotetora Sydney (Maddie Hasson), o detetive havaiano (?!?) Kekoa Shaw (George Young) e sua colega Regina (Michole Briana White). Todos com uma profundidade de um pires e diálogos ruins. Tão ruins que são engraçados. Mas calma está tudo no script.

maligno de james wan
Maddison (Annabelle Wallis) e sua irmã Sydney (Maddie Hasson): afinal, o que está acontecendo aqui?

Depois de mortes, investigações e fraturas expostas (são muitas!), James Wan começa a revelar os grandes segredos do filme. É quando eu estava achando tudo tão ruim, mas tão ruim, que, assim como em Aquaman, o filme deu a volta, e ficou bom. Um bom trash se apresenta com toda e qualquer galhofa que se possa imaginar, misturada sempre a violência e o vilão mais improvável (e BIZARRO) que já se viu num blockbuster de terror. Palmas para os responsáveis.

James Wan conseguiu fazer um trash que lembra um episódio específico de South Park (o quinto da segunda temporada, chamado “Moça do Feto Conjunto”). O show de horrores (em todos os sentidos) vai até seu final e a resolução é tão aleatória quanto as ideias jogadas o tempo todo no longa.

É sangrento, é engraçado, tem diálogos horríveis e fica bizarramente muito divertido. E certamente James Wan se divertiu também. Mas você não está livre de odiar.

Veredito da Vigilia

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