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Malcolm & Marie e a espiral de um relacionamento tóxico

Quando for “zapear” pelo catálogo da Netflix para encontrar um filme para assistir com o crush, a dica é não dar play em Malcolm & Marie, drama estrelado por Zendaya e John David Washington e dirigido por Sam Levinson (da excelente série Euphoria, da HBO). 

Os 106 minutos do longa-metragem parecem uma eternidade em determinados momentos, sem falar nos gatilhos que podem ocorrer, caso você e seu par já tenham brigado por algum dos mesmos motivos que o casal do filme. Malcolm & Marie é mais uma daquelas produções que nos apresenta apenas um cenário e uma dupla de atores, nada mais, nada menos. Para essa proposta mais intimista dar certo, os atores precisam segurar muito bem a trama. Não que isso não aconteça aqui, mas o enredo é muito carregado, deixando o clima um pouco denso demais para um simples entretenimento. A proposta de reunir duas grandes estrelas da atualidade em um filme puramente baseado no diálogo e em um só cenário até pode ser interessante, mas dessa vez parece mais uma pretensão de ser uma produção maior do que é.  

A história conta basicamente a volta de um cineasta e sua esposa para casa depois da primeira exibição de seu filme. Ele, um diretor egocêntrico, que de tanto achar que o mundo gira em torno de seu umbigo, chega a discursar enquanto anda em círculos, se sente injustiçado por todos os críticos de cinema acharem que por ser negro, suas produções necessariamente precisam ter um tom político ou com alguma questão racial. Ela, uma ex-dependente química, que se incomoda por achar que o filme do marido foi inspirado em sua vida, ficando muito chateada por não ter seu nome lembrado nos agradecimentos.

Tudo é motivo para uma D.R. em Malcolm & Marie

A partir daí temos um legítimo jogo de “trocação”, como dizem no futebol ou no MMA. Primeiro um dispara tudo o que o incomoda em relação ao outro, gerando a réplica, tréplica e por aí vai. Os longos discursos – desmoralizantes ao extremo na maioria das ocasiões – dão o tom do relacionamento tóxico que Malcolm e Marie sustentam. Não temos quase nenhuma interrupção do ofendido, fazendo com que os dois pareçam estar praguejando em um palanque e concorrendo a algum cargo. 

Zendaya segura as pontas do filme com sua atuação

Mesmo com essa premissa simples dominando boa parte da trama, o filme não é só isso. Temos questões raciais em debate, sobre cinema e de como ele é visto pelos ditos entendidos do assunto, vícios e suas recaídas e claro, relacionamentos e seus traumas. Tudo isso, ligado ao fato da película ser em preto e branco, pode afastar o público ou fazê-lo desligar antes mesmo do final. 

O comportamento de Malcolm soa caricato na maioria do tempo

Se você estiver com a mente tranquila e queira apreciar a estética e se ater apenas aos temas levantados por Malcolm & Marie, pode ser que o filme consiga te agradar. Porém, ele não foi feito para uma sessão pipoca com o “mozão”. 

Malcolm & Marie chegou fazendo barulho, mas não o sustentou por muito tempo.

Veredito da Vigilia

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