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Mais representativa, a nova Gossip Girl falha nas motivações dos personagens

Com episódios semanais, o HBO Max exibiu o sexto e último capítulo do reboot de Gossip Girl no dia 12 de agosto, prometendo trazer o restante da primeira temporada em novembro de 2021. Atualizando a série antiga, desenvolvida por Josh Schwartz & Stephanie Savage, que foi ao ar de 2007 a 2012, no CW, e baseada nos livros de Cecily von Ziegesar, agora temos Joshua Safran, um escritor e produtor executivo da série original, como atual desenvolvedor do programa.

https://www.youtube.com/watch?v=dBrmHpGnrDw

Tais atualizações vão desde o formato, que foge dos mais de 20 episódios de 45 minutos por temporada, para uma quantidade menor, porém com uma hora de duração, até as tecnologias atuais e a representatividade dos protagonistas, que mesmo fazendo parte da elite americana, ainda conseguem ser plurais. Porém, algumas mudanças em relação ao que foi visto na década passada, fizeram com que a Gossip Girl de 2021 cometa alguns deslizes. 

O primeiro deles vem justamente no episódio piloto, que norteia o restante da temporada. Cansados de sofrer represálias por parte dos alunos do colégio que fica no Upper East Side, local nobre de Nova Iorque, um grupo de professores (isso mesmo que você leu) decide reavivar – nove anos depois – o antigo blog Gossip Girl (desta vez como uma conta no Instagram), para assim, infernizar a vida dos estudantes, que em tese, ficariam mais receosos em cometer qualquer atrocidade. Tirando uma cena nesse mesmo episódio e algumas citações, não vemos os adolescentes aprontando nada, muito menos algo que justifique essa iniciativa dos educadores (aliás, a série usa a escola de cenário, mas não vemos em nenhum momento as salas de aula com os jovens estudando).

Os professores estão bombando nas redes

Tirando essa premissa de adultos stalkeando e cancelando adolescentes nas redes sociais, Gossip Girl 2021 parece preocupada em abordar temas presentes em nossa sociedade por meio de seus protagonistas. As que se destacam mais são as meio-irmãs Julien (Jordan Alexander) e Zoya (Whitney Peak). Mesmo tendo em comum a mãe, as duas não cresceram juntas. Julien é a atual rainha do colégio, enquanto que Zoya chega transferida para a mesma escola por intermédio de uma bolsa de estudos. No maior estilo Blair e Serena, a série coloca as duas lado a lado no início, mas estabelece logo de cara uma rivalidade para municiar as fofocas da nova garota do Blog, ou seja, os professores. As duas vivem se sabotando e se amando no minuto seguinte, chegando a dividir até o namorado, Otto, que inicia namorando com Julien, mas logo termina com a influencer digital e passa a se relacionar com a sua irmã mais nova (esses jovens…).

Julien e Zoya intercalam a série entre irmãs e inimigas

E a partir daqui que as duas começam a mudar as suas personalidades, com Julien aprendendo que existe vida fora das redes sociais e seus filtros, e Zoya tentando se encaixar em uma sociedade capitalista, mas que vai contra os seus ideais de menina militante pelas questões afro e de igualdade social. Mesmo assim, as duas cometem deslizes e percebem que estão sendo incoerentes em suas atitudes. Por sua vez, Otto, o Obie, se apresenta como um ricaço que frequentemente se compadece pelas causas dos mais necessitados, mas não tem química com nenhuma das duas garotas que namora, muito menos possui algum carisma, fazendo sempre a mesma cara e uma atuação pífia. 

Obie precisa escolher entre as irmãs e também começar a atuar melhor

Completam o time de protagonistas as inseparáveis (nem tanto) Luna (Zión Moreno, atriz trans que esteve na primeira temporada da série mexicana Control Z) e Monet (Savannah Lee Smith), que são as puxa-sacas de Julien; o casal Audrey (Emily Alyn Lind) e Aki (Evan Mock) e o bon vivant Max (Thomas Doherty). Como citado, as duas primeiras garotas só estão na série para figurar ao lado da influencer. Já Audrey e Aki possuem jornadas interessantes, uma vez que a garota é o típico caso da filha que precisa cuidar dos pais, que não conseguem ser responsáveis nem por eles mesmos. Aki, assim como Obie, é péssima em frente às câmeras, mas traz a tona o assunto de um hétero se descobrir bissexual e de como isso é complicado de se admitir, ainda mais quando se namora há tanto tempo a mesma pessoa. Por último, Max, um dos personagens que mais prometiam, ficou menos destaque na série do que aparentava ter, ainda que consiga trazer uma carga importante em seus dramas, que vão desde o envolvimento com um professor, até a separação de seus pais. Ah, não posso deixar de falar que esses últimos três protagonistas formam um trisal, que parece preencher uma cota de séries adolescentes de hoje em dia, vide Elite

Façam uma pose de trisal para a câmera

O pior de errar tentando inovar, é errar tentando homenagear. São muitas referências à cultura pop, seja em livros, filmes, atores, cantores ou marcas de roupas que são citadas durante os diálogos dos personagens. Contudo, não foi aí que Gossip Girl errou, mas sim ao homenagear a série original quando traz uma criança, filho de uma antiga personagem, que não parece uma pessoa saudável, muito menos pelas suas atitudes para alguém de dez anos. Outra tentativa de alegrar os fãs antigos do programa de TV foi a participação de uma atriz que esteve nas primeiras temporadas de Gossip Girl, no início dos anos 2000, mas que ninguém nem lembrava. O pior de tudo foi o alarde que o canal fez ao anunciar que isso iria acontecer, gerando expectativas que não foram atendidas. 

Luna e Monet são heavy users de redes sociais

A única coisa acertada foi trazer de volta a atriz Kristen Bell como narradora dos episódios, assim como vimos nas seis temporadas da série original.

Gossip Girl quer mostrar uma vida de adolescentes privilegiados, que bebem em bares luxuosos todas as noites mesmo sendo menores de idade, e que contam sobre coisas que já fizeram no passado, mesmo não tendo tempo hábil para viver tudo aquilo. O fato dos professores serem os vilões passa uma mensagem muito errada, de adultos brincando com a vida de adolescentes, expondo as suas intimidades na internet, palco de tantas tragédias que já vimos acontecer por um simples cyberbullying. Sem falar que a maioria dos protagonistas não têm a mesma química, humor, muito menos o carisma, se os compararmos a série de 2007, o que fica mais evidente ao vermos que praticamente todos eles estão emulando alguns comportamentos e personalidades de Serena, Blair, Dan, Nate, Chuck Bass, Jenny ou Vanessa. 

Veredito da Vigilia

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