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Luke Cage | Crítica da 2ª temporada

Luke Cage, o herói de aluguel da Marvel chega para sua segunda temporada na Netflix no dia 22 de junho. E chega com uma temporada bem melhor que a primeira, mas sem perder seu ritmo próprio, que particularmente não é um trunfo. Mas o importante era melhorar, e essa missão foi cumprida. Resta saber como será a vida do personagem e se os índices de audiência vão manter a série, principalmente depois da primeira temporada de Os Defensores, que não deixou saudades.

Na segunda temporada de Luke Cage, a trama melhora, principalmente pela gama de personagens que circundam o herói do Harlem. Agora ídolo, Luke precisa lidar com as consequências deixadas pelo seu enfrentamento das várias gangues e facções do bairro, além do fato de todo mundo saber onde ele está em tempo real, por causa de um app criado pelos fãs, que vão causar com ele nas redes sociais e em vídeos na internet. Logo no primeiro episódio – que foi dirigido por Lucy Liu, atriz conhecida pelo seu papel no filme As Panteras – vemos questões de representatividade e black power bem pautados, além de o início de uma “Luke Cage Store” especial que vai com certeza ganhar as ruas com produtos como moletons, camisetas e tudo que for possível em referência ao homem com a pele impenetrável. O marketing perseguirá a trama durante toda a temporada.

Luke Cage mandando a letra de quem é referência na comunidade

Outro ponto forte, mas que já existia na primeira temporada, é a trilha sonora, que está ainda melhor. A playlist certamente entrará na minha conta do Spotify. Para fechar os aspectos especiais e positivos, temos enfim um vilão à altura com Bushmaster. Encarnado pelo ator Mustafa Shakir, ele traz o senso de emergência e ameaça que o fatídico Kid Cascavel não conseguiu dar lá em 2016, sendo uma nêmesis muito mais a altura de Carl Lucas. Além disso, está perfeito na sua interpretação e imposição física sem soar aquela farofada do seu antecessor. E claro, a Black Mariah está de volta. Ainda que titubeante nos primeiros episódios, ela volta a ser a cobra que vimos quando ela matou o Boca de Algodão (Mahershala Ali). Outras gangues entrarão na jogada, aumentando a diversidade e divisões do Harlem, junto de influências afrodescendentes de diferentes países.

Ao contrário da imagem, é Buhsmaster (Mustafa Shakir) que dá um calor no nosso Luke

A tônica de uma série para adultos também prevalece. Temos violência e temas pesados abordados ao longo dos 13 episódios. Sim, a fórmula dos 13 episódios permanece, o que infelizmente também mantém as clássicas barrigas que vemos em quase todas as temporadas dos personagens da Marvel na Netflix. No meio desses temas pesados temos a complexa matemática de como um só homem poderá restabelecer a ordem em sua comunidade. E o sistema pode corromper as pessoas, por mais incorruptíveis que sejam. Nesse aspecto, em vários momentos a série vai se dar ao luxo com um texto (primoroso) de te jogar na cara alguns discursos importantes, seja contra o machismo, o abuso, e mesmo o racismo entre seus pares. O monólogo feito pelo ator Reg. E Cathey, que interpreta o pai de Luke (Mike Colter) é um desses exemplos. A nota triste é que Cathey morreu em fevereiro deste ano. Ele que também ficou conhecido como o Freddy de House Of Cards, e chegou a ser o Dr. Franklin Storm no fatídico Quarteto Fantástico de 2015. A série deixa uma pequena homenagem a ele nos créditos do último episódio.

Nota triste: Cathey morreu em fevereiro de 2018

Por melhor que Luke Cage esteja, no quesito interpretação de Mike Colter, são as mulheres que roubam a cena. Antes desse destaque, vale a nota de que Cage mantém seu charme com elas, e a piada do café é novamente usada em alguns momentos, mas ao contrário da primeira temporada, ele não passa a série se provalecendo disso. Agora as mulheres estão empoderadas (sem ostentar bandeiras) e ao contrário de competir pela atenção afetiva do herói, elas se unem para lhe mostrar o quanto ele pode estar agindo errado. É empatia que chama né? São bons momentos e que vão lhe arrancar um sorriso no canto da boca. Além de Claire Temple (Rosario Dawson) e Misty Knight (Simone Missick), temos a aparição de uma nova personagem, Tilda Johnson (que faz parte do grupo de heroínas urbanas dos quadrinhos e deve ganhar mais espaço com o tempo) e também uma ponta de Jessica Henwick, a nossa Colleen Wing de Punho de Ferro. É com ela e Misty que temos também a deixa para uma dupla vista nas HQs, e uma das melhores cenas da série. Os Marvetes vão vibrar com as Filhas do Dragão (alou Netflix, queremos essa série!). Aliás, como não é segredo, Misty se prova sem um braço (piadas e bullying profissional chegam com tudo), ainda que ela ganhe mais força com o protótipo cedido por Danny Rand (Finn Jones). O ponto baixo das mulheres na série fica por conta do relacionamento de Mariah Dillard (Alfre Woodard) com Shades (Theo Rossi), que soa forçado e exagerado em seus trejeitos mais ‘carnais’.

Algumas coisas também se repetem, principalmente nos símbolismos dados à cultura negra, tais como o quadro na parede do Harlem’s Paradise do rapper Notorious B.I.G. que volta a se alinhar com os novos “donos do pedaço”. As reviravoltas também voltam a acontecer, e mesmo quando os heróis conseguem as suas pequenas vitórias, as coisas não saem tão bem quanto pareciam, mostrando que a complexidade do Harlem pode ser tão marcante quanto a da luta de poder que vemos em favelas brasileiras.

Misty Knight merece uma série com Collen Wing

Faltou Danny Rand? Não, não faltou. Embora em pequena participação, ele dá um respiro importante na série, além de trazer um pouco de leveza e humor, e claro, cenas de ação um pouco mais exageradas pela oportunidade no uso da combinação dos poderes. Algo que se viu bastante nos quadrinhos, e que lembram com algum peso combos de videogame. Outra deixa pra Netflix fazer uma temporada inteira só com a dupla (olha aí outra ideia dada pela Vigília). O nosso Punho de Ferro está mais bem humorado e espirituoso, o que fica muito melhor para uma série de super-heróis.

Essa dupla também poderia ter uma série própria, do jeito que a gente gosta.

No final da temporada, temos um plot-twist interessante, digno de um Game Of Thrones (aliás, até mesmo o golpe dado tem uma forte inspiração na série de G.R.R. Martin, quem acompanha vai entender), com contornos de uma Nightshade (novamente os Marvetes sorriem) e um viés político na troca das coroas. Um gancho interessantíssimo para uma terceira temporada que pode ser ainda melhor. Ao apagar das luzes, sai o quadro de Notorious B.I.G. entra o de Mohamed Ali. Eu particularmente respiro aliviado. Recomendo.

 

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