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Liga da Justiça de Zack Snyder é uma vitória dos fãs

O tão aguardado corte de Zack Snyder para a Liga da Justiça está entre nós. Mesmo que ele continue dividindo opiniões, um consenso pode e deve ser comemorado. O longa que estreou no mundo inteiro no dia 18 de março é uma vitória dos fãs. Por tudo que já veiculamos aqui na Vigília e tudo que já debatemos, essa é uma verdade irrefutável. Mas entre a campanha #ReleaseTheSnyderCut e a estreia de Liga da Justiça, muita água passou por debaixo da ponte da Warner Bros. Pictures (e agora HBO Max), e com ela outra grande verdade: nem de longe a produção com 4 horas de duração seria o “verdadeiro corte” de Snyder lá no final de 2016 e início de 2017, quando a bola caiu no colo de Joss Whedon. Feita essa introdução, vamos ao filme. Ou seria minissérie?

No calor de quem termina de assistir o SnyderCut, fica fácil apontar que temos um filme melhor. Mas, se pararmos para pensar, será que ainda não é o mesmo filme? Vamos lá, Joss Whedon entregou um Frankenstein ao mundo (nerd), mas, ainda assim, a história de Liga da Justiça nesta versão de Snyder segue sendo a mesma. Evidentemente, sem a leveza e as bobagens enxertadas por Whedon, mas em seu cerne, a ideia é praticamente a mesma. Não há nada de diferente nas missões de mocinhos e vilões, exceto o uso de praticamente tudo que já haviam filmado. E claro, o olhar de Snyder, sempre mais frio, sombrio e pessimista. Do ponto A ao ponto B, o que move os personagens continua sendo a mesma coisa.

Zack Snyder e Gal Gadot no set de filmagens de Liga da Justiça

Antes que você use a caixa de comentários para me xingar (é do jogo, fique a vontade), vale também ressaltar que o filme melhora por todos os contextos que foram cortados da versão do cinema. Eram tantas sub-tramas e desenvolvimento de personagens que realmente Zack teria muitos problemas ao enxugar a máquina. A Warner jamais lançaria em 2017 um filme de quatro horas, tão pouco o projeto foi criado como dois filmes. E tudo isso nós vemos agora. Flash (Ezra Miller), Ciborgue (Ray Fisher) e Aquaman (Jason Momoa) ganham em importância e tempo de tela, assim como vemos o peso de um Lobo da Estepe melhorado e com mais “sangue nos olhos”. Sua missão que antes era quase “boboca”, agora ganha em importância na contextualização (também extensa) das guerras antigas contra os Homens, os Atlantes, as Amazonas e alguns guerreiros do espaço. No final de tudo, não são só as “Caixas Maternas” que intrigam as trincheiras inimigas. Isso ajuda e muito, embora Zack Snyder siga com sua sina de excessos de câmeras lentas e de forçar momentos épicos a cada segundo de batalha. Embora os wallpapers fiquem lindos, o recurso cansa, como já tinha acontecido com Watchmen (de 2009). O excesso de videoclipes criados também é um problema, até porque na maioria das vezes a produção opta por músicas ruins, chegando ao cúmulo de na batalha final termos uma vinheta para cada passo dado pela Mulher Maravilha (Gal Gadot).

superman henry cavill
Pode vir qualquer um, a Liga tem o Super!

Em quase todos os momentos, Zack explora um lado mais tenso dos personagens. Por outro lado, tudo isso faz mais sentido com o que estava construído desde Superman – O Homem de Aço, passando por Batman vs. Superman. São nesses filmes anteriores que também reside um dos principais problemas do Universo DC que vinha sendo liderado por Snyder. Neles, tudo sempre foi muito apressado. Superman tinha uma só película, e foi morrer já na missão seguinte, no filme que ele aparecia em segundo lugar no título. Fora o fato de uma inserção também muito rápida de Diana Prince. A Warner na época, desperdiçava anos e anos de quadrinhos da DC levando para as telonas o que levou décadas para se desenrolar nas páginas. O estúdio, infelizmente, não tinha um plano mestre. Deu no que deu. Tanto que seus maiores acertos vieram em filmes solos, sem tantas preocupações com conexões.

Aquaman,. Ciborgue e Flash na Liga de Zack Snyder
Aquaman. Ciborgue e Flash: os coadjuvantes ganham peso e espaço

Voltando ao SnyderCut, ele realmente poderia ter sido montado como uma minissérie. Aliás, com essa falta de concisão apresentada, Zack deveria sim ganhar uma chance na DC, ou na HBO Max, desde que seja criando uma série. Ele quer tempo de desenvolvimento, paciência nas tomadas e pesar a mão em videoclipes sem muito sentido? Pois isso casaria perfeitamente com a ideia de uma história em episódios. Creio até ter sido um erro estratégico da própria HBO Max lançar o projeto dessa forma.

darkseid liga da justiça zack snyder
Embora melhorados, os vilões de CGI podem cansar os olhos

Um dos pontos positivos para o SnyderCut está justamente na união da Liga. O elenco todo funciona muito bem. Ben Affleck realmente merecia mais chances com o manto do Batman e Henry Cavill, quando sorri, entrega um excelente Superman. Entre as correções de rumo, fica a sugestão de um novo uniforme para o Flash, já que este visual é quase catastrófico. Falando em catastrófico, o final, também muito superior ao do filme de 2017, ainda nos reserva algumas cenas bem violentas e a deixa para um embate muito maior com o vilão Darkseid, totalmente limado do filme de Whedon (um grande erro por sinal). O porém fica com a semelhança do terceiro ato de Mulher Maravilha (2017), onde Diana também entra em um conflito de CGI que beira um vilão de videogame.

Diana Prince Gal Gadot
A Mulher Maravilha (Gal Gadot) mostra que melhorou bastante desde os anos 80

E como Zack Snyder não se segura, você pode realmente achar que o filme vai encerrar pelo menos umas três vezes. Mas ele segue, usando todos seus recursos e a fatídica cena extra, que da mesma forma em que muitas cenas que já passaram até ali, pouco ou quase nada interferem na trama. Fica apenas o gostinho pelo visual e alguns diálogos impactantes, mas que não passam de uma construção gratuita de algo que, provavelmente, nunca veremos. Será?

A Liga da Justiça de Zack Snyder é uma vitória dos fãs. Tem uma importância histórica e bonita demais. Mas como filme, não surpreende, apenas usa tudo que havia à disposição. 

Veredito da Vigilia

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