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Licorice Pizza é mais um grande filme de Paul Thomas Anderson

Paul Thomas Anderson se notabilizou por seu cinema. É fácil identificar certa identidade em cada um de seus trabalhos. Mas em Licorice Pizza ele parece dar uma variada no repertório, antes cercado por dramas fortes e até mesmo brutais. Afinal, Licorice Pizza é uma sessão de uma comédia dramática. Um filme que me fez sair muito feliz do cinema, justamente por não esperar nada do que eu acabei assistindo. Por vezes, chegar sem qualquer carga de conhecimento sobre o filme é um grande aliado para a mente e para a recepção de mais uma obra da sétima arte. Ao final de Licorice Pizza, eu era só sorrisos. E a minha simpatia e torcida no Oscar agora está dividida entre Paul Thomas Anderson e sua dramédia, contra Jane Campion e seu show de sugestões em Ataque dos Cães.

A pizza de alcaçuz, tradução literal de Licorice Pizza, tem um sabor de nostalgia completa. O filme se passa nos anos 70 e tem a aura de obras da época, seja em sua encenação, referências da cultura pop, política, de trilha sonora, e claro de figurino. Mas, ao contrário de Stranger Things e outras produções que se amparam fortemente em suas décadas, Licorice Pizza é fluido o suficiente para que a época não seja uma bengala para situações forçadas. Desde o primeiro diálogo do filme, o filme nos prende até o final, nos fazendo degustar a jornada e, basicamente, sequer imaginar quais os rumos que a história pode tomar. O diretor tem uma estratégia clara amparada em um dos personagens, então, prepare-se para algumas aleatoriedades durante a condução.

Mas Licorice Pizza não é só a tal da pizza de alcaçuz. Este é o nome de uma famosa loja de discos dos anos 70 e 80, situada no sul da Califórnia. Por fim, é também um termo usado para se referir aos discos de vinil. Então, nesse aspecto, as coisas se justificam. O filme recebeu três indicações ao Oscar, entre elas Melhor Filme, Melhor Diretor e Melhor Roteiro Original. 

Licorice Pizza cena tensa no caminhão
Entre as aleatoriedades de Licorice Pizza, uma cena tensa envolvendo um Ford 70

Na história, temos a interessante e intrigante relação entre Gary (Cooper Hoffman, filho de Philip Seymour Hoffman, vencedor do Oscar por Capote e falecido em fevereiro de 2014) de 15 anos e Alana (Alana Haim, guitarrista da banda feminina Haim). Por si só, a origem dos protagonistas já chama a atenção. Cooper Hoffman destila um talento antes visto em seu pai. Aos primeiros diálogos ele já consegue imprimir toda a essência do “quase trambiqueiro” Gary. Já Alana é uma jovem de 25 anos que conhece Gary em um trabalho de álbum de fotos para o formando do Ensino Fundamental. Ele, tem uma lábia que o leva para vários lugares. Ela, se sente presa eternamente ao mesmo emprego. É uma relação que lembra de leve um Eduardo e Mônica às avessas.

De cara você pode estranhar o casal, mas certamente vai compra a química formada pelos jovens, que diferem da dupla clichê de Hollywood, com dois jovens perfeitos, lindos e ricos. E eles levam o filme nas costas, em uma caminhada que passa por situações inusitadas, quase todas relacionadas ao lado “empreendedor” de Gary, que abre desde uma loja de colchão d’água (moda na época), uma empresa de propaganda, até mesmo um fliperama de pinball. Tudo sempre amparado nas informações e contextos históricos que o cercam. Nesse caminho tortuoso, vemos participações para lá de especiais com Sean Penn e Bradley Cooper (O Beco do Pesadelo) interpretando pessoas reais e daquela época. Personagens pitorescos que fizeram parte de um zoológico chamado Hollywood.

Cooper Hoffman em Licorice Pizza
Cooper Hoffman é o senhor empreendedor em Licorice Pizza

Sem uma linha muito definida, o ideal em Licorice Pizza é largar toda e qualquer amarra e se deixar levar. Por mais que você não tenha alguma alça, bengala ou corrimão para se escorar, Paul Thomas Anderson não vai deixar você cair. E foi assim que eu experimentei Licorice Pizza, livre, leve e solto. E eu poderia ver o entusiasmo de Gary, as trapalhadas de Alana e todo o contexto que os cercam por horas e horas. De certa forma, fiquei feliz ao final do filme, mas com um gostinho de quero mais. Quem sabe eu não volte ao cinema para reviver esse sentimento? É bem possível que sim.

Obrigado por mais essa Paul Thomas Anderson.

Veredito da Vigilia

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