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Lições e experimentalismo em O Beijo no Asfalto, primeiro filme de Murilo Benício | Crítica

O Beijo no Asfalto é uma adaptação diferente de tudo que você já viu (ou quase tudo). A produção nacional conta com um elenco espetacular e marca a estreia do ator Murilo Benício na direção. Com escolhas pouco convencionais, o longa oscila em uma grande aula com vários ensinamentos, mesclando um experimentalismo entre cinema, teatro, produção cinematográfica e histórias de vida. Programa imperdível para quem gosta da dramaturgia brasileira, ainda mais para quem se interessa em técnicas cinematográficas e oficinas de atores.

Ousado, O Beijo no Asfalto nos remete aquele cinema raiz, que tinha o objetivo principal de te dar um soco no estômago mostrando o quanto a sociedade pode ser hipócrita, preconceituosa e odiosa. Com muita crueza, Benício optou por uma adaptação da peça escrita por Nelson Rodrigues (e encenada nos palcos da vida desde 1961). E o mais avisado sabe: quando tem Nelson Rodrigues na jogada, a proposta é no mínimo agressiva. Complete essa mistura toda com um elenco quase que exemplar: Fernanda Montenegro (ícone!), Débora Falabella, Lázaro Ramos (O Homem que Copiava), Stênio Garcia, Otávio Müller (Benzinho) e Augusto Madeira (Bingo – O Rei das Manhãs).

 

A trama começa com Lázaro Ramos. Ele dá vida a Arandir. Ao ver um homem perdendo a vida após um grave atropelamento, ele, sem pensar, atende ao seu último pedido e dá um beijo na boca do rapaz, recém atropelado. O gesto choca o Rio de Janeiro da década de 60, e ganha as páginas de jornais de forma sensacionalista. Tudo escrito por Amado (Otávio Müller). A fake news ressuscita seu jornal. As vendas sobem, mas isso joga a vida de Arandir em uma espiral de depressão e uma série de situações que vão traumatizar não só a ele, mas também sua esposa Selminha (Débora Falabella), seu pai Aprígio (Stênio Garcia) e todos que os cercam.

Um elenco desses… não tem como dar errado!

Intercalando com os traumas familiares, a história vai tomando forma e complicando cada vez mais. Principalmente para Arandir e Selminha. A escolha por cenários e palcos de teatro e um filme sem cores aumentam o tom dramático. As ações são intercaladas com reuniões de roteiro, onde vemos não só a história seguir, mas também como os atores vêm determinadas cenas e ações, trocando ideias. São nesses momentos em que o diretor de elenco e Fernanda Montenegro nos trazem grandes ensinamentos e nos mostram de forma muito interessante alguns processos envolvidos na arte da dramaturgia. São nesses momentos também em que a gente percebe o quão valorosa são as experiências de vida de cada um. Fernanda dá uma verdadeira aula. Em vários aspectos. Aqui vemos também as dificuldades da profissão e o quanto a escolha do elenco se fez acertada. Praticamente todos os atores se destacam de forma muito envolvente.

O Beijo no Asfalto: drama e experimentalismo

O Beijo no Asfalto é uma grande obra, mas daquelas que infelizmente pouco vai se falar no circuito nacional de cinema. O filme já estreou, mas como muitos filmes brasileiros, em poucas salas espalhadas pelo país. A mistura de Murilo Benício e Nelson Rodrigues é daquelas que não agradam a todos, principalmente pelas escolhas e experimentalismo. Mas é uma experiência interessantíssima, que vale o nosso esforço e reconhecimento.

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