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John Wick 4 é a personificação da masculinidade

Tiro, porradaria, jogos, perseguições automobilísticas, pouco sangue e absurdos. É isso que você, fã de John Wick deve esperar de John Wick 4: Baba Yaga. E é exatamente isso que você acompanha durante 2h49min de filme.

Keanu Reeves volta para o seu papel que podemos categorizar até como absurdo. Afinal, John WIck é tão, mas tão indestrutível que as situações mais absurdas acontecem e ele segue vivo. Mas ele é John Wick e tudo está dentro do esperado, certo?

Em John Wick 4, vemos referências a filmes de faroeste. Inclusive, o longa começa e termina exatamente como os filmes de faroeste eram em seus tempos de ouro, com direito a cavalgadas no deserto e acerto de contas em duelos. Outra grande referência é aos clássicos filmes de luta estilo Jackie Chan. Briga, porradaria, queda na escada e tudo o que se tem direito, mesmo todos eles tendo armas em mãos. 

E é nesse momento que percebemos que a franquia chegou ao seu final necessário e, até mesmo, esticado. John Wick está sentindo o peso da idade e de todas as suas perdas. Ele já não luta como nos filmes antigos, está mais lento, mas, ao mesmo tempo, continua sendo invencível. Está cada vez mais saindo do crível e flertando com o piegas. É exagerado de uma forma nada interessante. Passa do ponto e, quando as coisas acontecem, é bem possível que você comece a se perguntar “ah, não, é sério isso?”. O que poderia ser engraçado, muitas vezes, parece até mesmo um deboche ao espectador.

Se no primeiro e no segundo, até mesmo no terceiro filme, tivemos motivações, neste é apenas a pancadaria. O roteiro não envolve, não acrescenta. Realmente temos a sensação que chegou ao fim esse personagem. Muitas vezes, somos tomamos por uma irritação na cadeira do cinema. Porque tudo é muito. Tudo é demais. Tudo está fora do tom. Paris é um cenário de altas confusões, mas em Berlim que temos a cena mais ridícula de todo o filme. Enquanto John Wick espanca e mata as pessoas em uma festa, os participantes parecem não ligar. A música, as luzes e as danças continuam mesmo com uma carnificina acontecendo naquele local.

Sei que filmes de ação não precisam exatamente flertar com a realidade. Porém, em John Wick 4, existem discrepâncias que incomodam qualquer pessoa que decide pensar sobre o assunto. Em primeiro lugar, sabemos que a polícia ou qualquer órgão de segurança é totalmente inexistente na franquia. Atendimentos médicos também não existem. John Wick, neste filme, não come, não dorme, não bebe água. Ele apenas MATA. Parece se alimentar das vidas que tira. E são tantas coisas irreais que acontecem que começamos a nos perguntar: até onde vai isso?

A notícia é que vai longe. Muito longe. John Wick passa do ponto mais do que em qualquer outro filme da franquia. E nos deixa com uma verdadeira preguiça. O roteiro não traz novidades, motivações, nem desafios. Só existem lutas coreografadas e extensas que, na metade do filme, já nos fazem ficar com vontade de ir embora. É cansativo. O vilão principal, vivido por Bill Skarsgård (It – A Coisa) também não convence. O Marquês parece apenas um jovem mimado que quer vencer John Wick, custe o que custar. Porém, vale apreciar a fotografia e a trilha sonora. São os destaques deste longa.

Mas, se você for homem e um grande fã desta franquia, pode achar que tudo que escrevi até aqui é uma grande bobagem. E talvez seja, porque, para mim, sinceramente, este filme é a representação clara da masculinidade. Um homem que, com um terno perfeitamente limpo, estilo os grandes espiões, saca uma arma e sai atirando em todos. Aliás, podemos adicionar aqui outros elementos, além da arma e do anti-herói homem. Carros, lutas, pouco diálogo. Parece uma grande representação da virilidade masculina. Um homem invencível, com uma arma na mão.

John Wick precisa de ajuda para entender tudo em John Wick 4
John Wick precisa de ajuda para entender tudo

É interessante observar que, nesta saga, os homens intelectuais, inteligentes, mentores, estrategistas, não pegam em armas. John Wick mata. Mas não entende regras simples sem que algum dos homens que o orienta explique didaticamente para ele. Toda vez que alguma informação é dada, Wick fica com cara de quem não faz ideia do que está sendo falado. Ele se limita a ter força física, bons reflexos e uma mira razoável. E é apenas isso. Mas é o herói de tantos homens por aí. 

Outro ponto que gostaria de destacar é a presença feminina ínfima no longa. Existem duas funções para as mulheres em John Wick: protegidas ou provocantes. Ou são filhas que precisam de proteção de pais amorosos ou são mulheres que, maquiadas e com vozes sexys, estão colocadas ali para incentivar e provocar a masculinidade. 

John Wick 4, como todos os filmes da franquia, tem um roteiro raso. Mas pode ser divertido se você tiver pipoca, refrigerante, tempo e vontade de se alienar. E fique até o final. Tem uma cena pós-créditos!

Veredito da Vigilia

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