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Jogo da Corrupção: a série que merece a nossa atenção

Logo de início vou cravar: Jogo da Corrupção já está na minha lista de melhores séries do ano. A produção do Prime Video estreou no dia 4 de novembro, como parte do projeto “El Presidente” que conta as histórias de corrupção na Fifa, mas sobretudo, no futebol mundial. 

Apesar de ser uma história independente, ela é “organizada” como a segunda temporada de “El Presidente”, que em sua origem contou a saga de Sergio Jadue, ex-presidente da Associação Nacional de Futebol Profissional do Chile. Jadue foi também vice-presidente da Conmebol. Após desvios e alguns crimes, se tornou informante do FBI. Mas a introdução é só para constar (depois eu explico melhor). 

A história de Jogo da Corrupção é toda focada na figura excêntrica de Jean-Marie Faustin Goedefroid Havelange, ou, como conhecemos popularmente, João Havelange. O brasileiro que comandou a Federação Internacional de Futebol (Fifa) por gerações. Ele até pode ter revolucionado e modernizado muito o esporte, mas, por outro lado, essas conquistas tiveram um preço muito, mas muito caro. Pessoas foram compradas, ditaduras massageadas, empresas se beneficiaram e João Havelange deixou um rastro de destruição em várias de suas relações.

E na série acompanhamos quase toda a história de João Havelange, inclusive com flashbacks de quando foi um nadador que disputou as Olimpíadas na Alemanha nazista. Mais precisamente após seus primeiros anos à frente da Confederação Brasileiro de Desportos (CBD), atual Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Interpretado de forma brilhante pelo ator português Albano Jerónimo (The One, Vikings) – impossível replicar o sotaque de Havelange com tanta maestria – vemos ele escalar desde a época da ditadura militar até seu aniversário de 100 anos, em 2016, meses antes de sua morte. O homem sem escrúpulos para os negócios, apesar de estar sempre no comando, nunca parece uma figura querida entre os seus. Deixou pra trás família e não teve dúvidas em procurar figuras duvidosas como o maior bicheiro que o país já fez, Castor de Andrade (Eduardo Moscovis). 

Pelé em Jogo da Corrupção
Copas do Mundo entre diferentes épocas e a participação de Pelé

Todas essas histórias contadas de uma forma muito criativa. O tom de humor, mesclado com tensão, violência e momentos que marcaram a história geopolítica do mundo é certeiro. A dinâmica da série nos prende desde os primeiros momentos, fazendo uma eventual maratona ser um tanto quanto fluída, ainda que tenhamos oito episódios de 45 a 50 minutos, cada.

A criação do império da Fifa por João Havelange, como sabemos, teve muitas páginas que mereciam a editoria policial. Ver e relembrar tantos momentos, sempre ilustrados com figuras conhecidas, e claro, Copas do Mundo, é recompensador. Essa mescla toda é liderada por Armando Bó. Diretor, roteirista e showrunner da série, ele ganhou o Oscar de Melhor Roteiro Original em 2015 por seu trabalho em Birdman – A Inesperada Virtude da Ignorância

Jogo da Corrupção e seu narrador pouco confiável

Jogo da Corrupção é contada pelo protagonista da primeira temporada (por isso minha introdução anterior), Sergio Jadue. Ele é interpretado pelo excelente Andrés Parra (A Odisseia dos Tontos), que rouba a cena. Como narrador, ele abusa da quebra da quarta parede, chegando a interferir intensamente na trama. E como narrador pouco confiável, temos ainda a meta-linguagem de que a própria Amazon Studios está atrás dele para que ele volte e faça sua parte em determinados momentos. Um nome que não fazia parte do meu mundo, mas que já quero acompanhar mais de perto.

Andrés Parra é o narrador em Jogo da Corrupção
Nosso narrador é uma das melhores coisas da série

Completam ainda o time, ou melhor, o elenco, Maria Fernanda Cândido, como a esposa de João Havelange (ela muda de nome conforme o ânimo do narrador), Eduardo Moscovis (Bom Dia, Verônica), Nelson Freitas (Eike: Tudo ou Nada) como todos os presidentes ditadores do Brasil – sacada sensacional, Caroline Abras (O Mecanismo 2) e Anna Brewster (Star Wars: O Despertar da Força). E todos eles surfam de uma maneira muito natural em seus personagens. Para auxiliar Armando Bó a tocar a orquestra, temos os diretores brasileiros Daniel Rezende (Bingo, Turma da Mônica), Daniela Thomas (O Banquete) e Álvaro Brechner (Uma Noite de 12 Anos). Ou seja, já que o assunto (também) é futebol, dá para dizer que Jogo da Corrupção tem um elenco digno de seleção e uma comissão técnica para lá de vencedora.

Com esse alinhamento de astros (narrativa, roteiro, argumento e atuações), Jogo da Corrupção, embora não tenha a badalação de tantas outras produções da atualidade, é um oásis dentro do catálogo do Prime Video. Uma série para ver, rever, se divertir e relembrar páginas tensas de um passado recente. 

Não tenho mais argumentos por aqui. Caso eu não tenha sido suficientemente claro, então me despeço com somente um conselho: assista.

Veredito da Vigilia

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