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Indiana Jones e a Relíquia do Destino é genérico e apoteótico

Indiana Jones e a Relíquia do Destino é o retorno do icônico arqueólogo aos cinemas

Quem cresceu com Indiana Jones certamente se empolgou com a ideia de ver mais uma vez o icônico arqueólogo nas telonas. E com certeza vai ser essa a empolgação que guiará muita gente até às salas de cinema para ver Indiana Jones e o Chamado do Destino (Indiana Jones and the Dial of Destiny). No entanto, isso pode não ser o suficiente para as bilheterias, que, passadas duas semanas da estreia, parecem minguar com a ideia do nosso herói que já passa dos 80 anos. É claro, pelo menos aqui no Brasil, há vários fatores que levam as pessoas até à sala escura, mas talvez o que mais se leve em consideração é de que o longa, agora dirigido por James Mangold não seja realmente “o que o grande público” quer ver.

Eu explico… ou pelo menos vou tentar.

Vamos lá, Indiana Jones virou nicho. Basicamente, é para quem é “nerd há mais tempo”. Fora isso, vem um pouco antes de concorrentes de peso como Missão: Impossível, no rastro de um Top Gun: Maverick, o maior fenômeno de 2022, e Oppenheimer (Christopher Nolan e seu aparato explosivo de câmeras e efeitos especiais) e Barbie, o filme que já virou febre muito antes da estreia. Junte tudo isso a um bom público que já passou recentemente pelas salas para conferir Homem-Aranha: Através do Aranhaverso. Realmente parece um combo desfavorável para o nosso Indy, que agora vem acompanhando de Phoebe-Waller-Bridge como Helena, o sangue novo da franquia, e a escolha mais fácil de vilão do cinema contemporâneo, que é o excelente Madds Mikkelsen (Druk), como o nazista Dr. Voller. 

Indiana Jones e a Relíquia do Destino
Mads Mikkelsen (ao fundo) e Phoebe Waller-Bridge são boas adições ao elenco

Tudo isso realmente parece pesar contra o sucesso (que não vai chegar) para Indiana Jones e a Relíquia do Destino. O correto é olhar para o filme em si. Apesar de uma boa aventura, o longa peca em vários quesitos. Talvez ele tivesse mais vida e fosse mais comentado se fosse um grande lançamento do Disney+. Mas é claro, isso não aconteceria com nomes envolvidos: Harrison Ford e um personagem imortalizado por Steven Spielberg e George Lucas. Faço o mea-culpa aqui, pois fui o primeiro a criticar o lançamento de Predador: A Caçada diretamente no streaming. Então, melhor não comentar resultados.

Na “nova jornada” de Indiana Jones, infelizmente não temos um grande impacto. O filme se propõe em muita correria e se esquece um pouco de seus personagens. Embora dispense apresentações, Indiana Jones pode sim ser uma grande novidade para boa parte do público. E perdido entre “Mendoza e San Juan”, o que temos é uma aventura bem genérica, que é salva pela grande química entre o arqueólogo que ruma para a aposentadoria e sua afilhada jovem e brilhante (Helena), mas que não faz questão de disfarçar sua preferência quando o assunto é dinheiro e não uma grande relíquia histórica ou algo do tipo. É a Fleabag como conhecemos, mas sem o conteúdo para 18 anos de sua maravilhosa série. Phoebe Waller-Bridge brilha. Ao lado dela, ainda temos o parceiro-mirim Teddy (Ethann Isidore), que ganha até mais espaço do que deveria. E como fator nostalgia, a aparição de vários amigos de uma vida inteira de aventuras, tais como Sallah (John-Rhys Davies) e Marion (Karen Allen). Soma-se a eles Antonio Banderas, que parece realmente combinar com o clima do filme.

Correria total em Indiana Jones e a Relíquia do destino
Correria total em Indiana Jones e a Relíquia do destino

Em 2h34 minutos de filme vemos o combo que fez a fama de Indiana Jones. Infelizmente, uma direção mais cuidados como a de Steven Spielberg realmente fez falta. Não que James Mangold não tenha entregue bons filmes (Ford vs. Ferrari e Logan estão aí para nos mostrar), mas uma essência menos “copia e cola” seria bem-vinda. Apesar de homenagens aqui e ali, é somente no terceiro ato que vemos a coisa “literalmente” decolar. É quando a ideia da trama desconhecida se abraça completamente com os artefatos até então relacionados, entregando o necessário para nos encantar. E claro, junto desse clímax, a tão aguardada trilha sonora de John Williams, que faz qualquer um sorrir de alegria. Com um final compensador (sem spoilers por aqui), Indiana Jones até consegue agradar, mas acompanhar sua jornada até que tudo se encaixe, pode ser também um exercício de paciência. 

O nosso arqueólogo merecia melhor destino.

Veredito da Vigilia

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