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Homem Onça: um atual filme de época brasileiro

Privatizações. Parece um tema comum de tempos em tempos aqui no Brasil. E foi essa a temática explorada por Homem Onça, segundo longa nacional exibido no 49º Festival de Cinema de Gramado. Um filme de época que traz um recorte dos anos 90, quando a discussão entre privatizações e vendas de riquezas nacionais trouxe impactos diretos na vida de muitos brasileiros. O paralelo do diretor Vinícius Reis é com a antiga Vale do Rio Doce, mas no longa ilustrada pela Gás do Brasil, uma empresa estatal que explora o combustível natural, e Pedro, um dos engenheiros responsável pelo setor de projetos e relações com o Meio Ambiente. Em seu setor com seis funcionários, vemos grande parte da saga, que ainda invade uma diferente linha do tempo (no futuro), mostrando como estão pessoas que há quase 20 anos viviam uma espécie de apogeu de suas carreiras. E claro, isso impacta relações amorosas, econômicas e sociais.

Pedro é interpretado por Chico Diaz, rosto mais do que conhecido da cinematografia brasileira, e que já invadiu diversas novelas do imaginário nacional. É em sua interpretação que o longa se ampara o tempo todo. Mas Homem Onça ainda mostra um outro paralelo. Pedro viveu em sua infância em uma cidade pequena, no interior, onde uma onça vivia e desfilava por sua vizinhança. Ela ainda vive, seja no seu imaginário, quanto em seu retorno à cidade natal, mas agora sobre uma condição completamente diferente, ou até mesmo em sua pele. Pedro e a onça são outra grande metáfora. Cada um deles lutando contra uma espécie de extinção e vendo seus habitats sendo invadidos.

A história do longa vem de uma experiência própria do diretor, que, em 1997 acompanhou a reestruturação da Vale do Rio Doce, onde seu pai trabalhava. “A ideia surgiu de uma história muito íntima. Então, nos encontros de domingo da família, meu pai contava várias histórias e eu as anotava. Eu pensava que ali tinha um filme poderoso, mas fui escrever o roteiro 13 anos depois”, apontou Reis. Casualmente, o tema ainda é muito latente nos dias de hoje na história do Brasil.

homem onça
Homem Onça acompanha Pedro e sua família após as bruscas mudanças causadas pela privatização da empresa onde trabalhava

Além de alinhar a história dos anos 90, enquanto toda a reestruturação da estatal ocorria, onde vemos Pedro, sua esposa (Silvia Buarque, que era esposa de Chico Diaz na época do filme) e sua filha em uma boa condição financeira, temos a costura com os dias de hoje, onde Pedro vive longe da filha, está separado, e vive com sua nova companheira, voltando à sua cidade natal. Com isso, passamos de cenas coloridas para outras mais sombrias, e o desafio de adultos que tiveram suas carreiras interrompidas tendo que encarar novas realidades no mercado de trabalho. O preconceito com a idade, os currículos nem tão atraentes e os clássicos conflitos geracionais que invadem este contexto são preponderantes. Não temos todos os detalhes do que aconteceu com Pedro, mas temos espaço o suficiente para traçar a interpretação necessária e montar a lacuna de tempo que pode não estar tão evidenciada em tela.

Homem Onça já coloca Chico Diaz em condições de uma possível premiação no 49º Festival de Cinema de Gramado e tem uma facilidade de conexão com o público. O trabalho de direção remonta alguns eventos dos anos 90 e manifestações públicas contrárias à privatização que são muito evidentes no atual momento político do Brasil. Os personagens são fáceis de se identificar, o que torna a mensagem do filme ainda mais clara. Homem Onça é um filme de época, mas muito atual. A estreia está prevista para dia 26 de agosto, nos cinemas de todo Brasil.

Veredito da Vigilia

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