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Hollywood e o assédio contra as mulheres: precisamos falar sobre isso

Angelina Jolie, Gwyneth Paltrow, Alison Sudol, Lena Headey, Jennifer Lawrence, Björk, Reese Witherspoon. Você sabe o que todas essas mulheres têm em comum? Não estamos falando de talento, beleza ou uma bem sucedida carreira em Hollywood. Queremos falar de algo realmente importante: assédio. Exato. E você sabe por quê? Porque elas têm algo em comum com quase toda a mulher que vive em Hollywood ou em qualquer lugar de qualquer cidade, de qualquer país no Planeta Terra. O que Angelina Jolie, Gwyneth Paltrow, Alison Sudol, Lena Headey, Jennifer Lawrence, Björk, Reese Witherspoon e você que está lendo esse texto tem em comum? Todas sofreram assédio.

A partir da divulgação do caso Harvey Weinstein, um dos produtores de cinema mais influentes do showbizz, que abusou (e inclusive estuprou) durante anos, atrizes com quem trabalhou, vários outros casos de assédio vieram à tona. Weinstein foi desmascarado por atrizes como Angelina Jolie e Gwyneth Paltrow, com auxílio de outras mulheres do cinema, e, felizmente, o produtor foi demitido do estúdio que ele mesmo fundou e expulso da Academia do Oscar. Mas nessas vítimas, mulheres corajosas que expuseram o que sofreram, o trauma permanecerá por muito tempo. Nelas e em outras que não arranjaram a mesma coragem para se expor.

Depois dessas acusações, a atriz Alyssa Milano lançou no Twitter uma campanha, convocando outras mulheres a responderem “me too” (eu também), caso já tivessem sido vítimas de abuso sexual. Infelizmente, mas não surpreendentemente, dezenas de milhares de mulheres, só nesta rede social, compartilharam a campanha. E, como falei anteriormente: todas as mulheres do mundo poderiam postar isso.

Caso você seja homem, está lendo esse texto e não concorda com o que estou falando, pare e converse com a mulher mais próxima de você. Ela com certeza tem (ao menos) uma história de assédio. Mas vamos lá: o que podemos considerar assédio? O assédio é qualquer abordagem que nos deixe constrangidas. Sim. Quando você chama alguma mulher de “linda”, fora de contexto, tentando intimidar, isso é assédio. Quando a menina estiver em qualquer lugar, negar um beijo e ser xingada ou segurada a força, isso é assédio. E não ache que o assédio vem apenas de pessoas desconhecidas. O amigão da faculdade, o chefe do escritório, o primo mais velho, o vizinho. Lembrando sempre que não importa se a mulher estiver bêbada, com roupa curta ou num bar. Ela tem o MESMO direito de ir e vir que você, campeão. Mas antes que você diga que estou exagerando, vou apresentar fatos.

Lena Headey, que dá vida à Cersei Lannister em Game Of Thrones divulgou em seu Twitter que foi vítima de Harvey Weinstein. Ela contou que, certa vez, no Festival de Veneza, Weinstein a convidou para dar uma volta. Diante das investidas, ela só conseguia pensar que aquilo era uma piada. A partir desse episódio, ela nunca mais fez filmes pela Miramax, empresa chefiada por ele. Anos depois, em Los Angeles, quando ele a chamou para tomar um café, ingenuamente Lena acreditou que seria para falar sobre trabalho. Quando ele ofereceu para subirem para a sala e dar um roteiro à ela, a atriz logo avisou que não rolaria nada além de trabalho, o que deixou o produtor furioso, segundo ela. Como padrão, as mãos dele estavam nas costas dela, e, depois de todas as negativas, ele finalizou a reunião com: “Não conte isso a ninguém, nem ao seu empresário, nem ao seu agente”.

Jennifer Lawrence, a atriz que é vencedora de um Oscar e acabou de protagonizar Mãe!, um dos filmes que podem ficar entre os melhores de 2017, também relatou assédio no trabalho. E ela, como muitas de nós, relevou, “por sua carreira”. Além do assédio sexual, a atriz sofreu abuso psicológico. Em entrevista à Elle, Jennifer contou que uma produtora a fez ensaiar falas, nua, em meio a cinco mulheres mais magras do que ela. O momento foi fotografado e esta mesma produtora disse que ela deveria levar as fotos para casa, para ver como estava gorda. Quando a atriz foi levar o problema para um outro produtor, ele respondeu que Jennifer era “perfeitamente comível”. A atriz declarou que “eu me deixei ser tratada desta maneira porque senti que tinha que fazer isso pela minha carreira”. Além disso, ela declarou que esta não foi a única vez que algo assim aconteceu. Mas, disse ainda, que encara tudo como aprendizado. “Ainda estou aprendendo que não tenho que sorrir quando um homem me deixa desconfortável. Todo ser humano deve ser tratado com respeito. Em um mundo perfeito, cada um deveria poder ser tratado com respeito. Mas até que cheguemos a isso, eu vou emprestar meus ouvidos a qualquer garoto, garota, homem ou mulher que não sinta que pode se proteger sozinho”, disse Jennifer na entrevista.

No mesmo especial da Elle, Reese Witherspoon contou que foi assediada aos 16 anos por um diretor, e infelizmente, essa não foi a única vez. Abalada com todas as denúncias feitas no mundo cinematográfico, a atriz declarou que: “Esta foi uma semana muito difícil para mulheres em Hollywood, para mulheres de todo o mundo, e muitas indústrias foram forçadas a lembrar e reviver muitas verdades feias. Eu tenho minhas próprias experiências que retornaram de forma muito vívida e acho difícil dormir, difícil de pensar, difícil comunicar muitos dos sentimentos que tenho tido sobre ansiedade, honestidade, culpa por não ter falado mais cedo”. Reese disse que sente um verdadeiro desgosto com o diretor que a assediou e raiva dos agentes e produtores que a fizeram acreditar que o silêncio era a condição para o seu emprego. Ainda em seu depoimento, ela disse que gostaria que esse episódio fosse algo isolado em sua carreira, o que infelizmente não é. “Eu tive várias experiências de assédio e agressão sexual e não falo muito sobre elas. Mas depois de ouvir todas as histórias nos últimos dias e ouvir essas mulheres corajosas falarem hoje à noite sobre coisas que nos são ditas para varrer sob o tapete, isso me fez querer falar porque eu realmente me senti menos sozinha esta semana do que jamais senti na minha carreira”, declarou.

Motivada com as denúncias de outras atrizes, Alison Sudol, que interpreta Queenie Goldstein em Animais Fantásticos e Onde Habitam, fez uma transmissão ao vivo em seu Instagram para denunciar o que sofreu. A atriz, que também é cantora e compositora, disse que no fim de sua adolescência encontrou um produtor que prometeu ajudar a alavancar sua carreira. Mas, com o trabalho em conjunto, as investidas sexuais começaram a acontecer e a atriz começou a ficar extremamente desconfortável com a situação. Porém, apesar das suas recorrentes negativas, o assédio não parava. Alison foi abusada sexualmente pelo produtor, e disse que a partir daquele momento, sentiu que a sua vida nunca mais seria a mesma e que sua inocência havia sido tomada. Assim como a grande maioria das mulheres que sofrem abusos, a atriz declarou que sentiu uma parcela de culpa pelo ocorrido. O seu segundo produtor também se comportou de forma abusiva no ambiente de trabalho, o que fez com que Alison questionasse se o problema era com ela. A atriz entrou num nível grave de depressão e descontou na comida sua frustração, para tentar mudar o seu corpo, que, em partes ela não confiava mais. No final de sua transmissão, a atriz deixou um recado, avisando para todas as mulheres que nós devemos nos unir para mudar o sistema.

Björk também se sentiu motivada pela hashtag e contou o abuso que sofreu de um diretor dinamarquês, que ela não quis divulgar quem seria. Segundo a cantora e atriz, depois de suas constantes negativas, ele pintou Björk como “difícil” para a imprensa. Em texto divulgado em seu Facebook, ela revela tudo o que sofreu com ele.

Em outra postagem, ela publicou também seis momentos, que ela chamou de encontros, que podem ser configurados como abuso.

Para finalizar, podemos abordar a história de quando Carrie Fischer se vingou por uma amiga, contada recentemente por quem sofreu o abuso, a atriz Heather Ross, em uma entrevista a um programa de rádio. Segundo Heather, ela marcou encontro com um produtor pela internet. Com auto-estima abalada por causa do seu peso, ela nunca imaginou o que poderia acontecer. A atriz contou que o produtor se jogou para cima dela quando ela entrou no carro e a única coisa que ela conseguiu sentir foi vergonha dela mesma. “Pensei que tinha feito algo errado, que só por ter ido me encontrar com ele havia sinalizado que era pra isso acontecer”, disse Heather. Quando contou a história para Carrie, a atriz ficou furiosa com que o produtor fez com a amiga. “Ela mandou uma língua de boi em uma daquelas embalagens com laço branco da Tiffany para o estúdio em que o produtor trabalhava e um bilhete escrito ‘Se você encostar na minha querida Heather ou em qualquer outra mulher novamente, a próxima entrega vai ter algo muito menor de você dentro’”, contou.

A partir destes poucos relatos, podemos perceber que nós mulheres somos submetidas à abusos todos os dias, de todas as partes. Quando Agent Carter é desacreditada em seu trabalho por ser mulher, na década de 40, vemos um abuso corriqueiro, representado nas telas, apesar de estarmos em 2017. Quando Jessica Jones sofre tudo o que sofre e desconta no álcool os seus problemas com o abusador Killgrave, temos o retrato de muitas mulheres no seu dia a dia.

Cada vez que alguém fala que denúncias de assédio são “exageros de feministas”, ele deslegitima uma luta que precisamos travar, todos os dias. Infelizmente, esses casos acontecem. E, esperamos que daqui por diante, com mais casos expostos na mídia, as mulheres se sintam incentivadas a contarem o que sofreram também. Para denunciar casos de abuso, o Disque Mulher funciona pelo telefone 180. Não deixe de falar o que você sofreu, por mais difícil que isso seja. Procure uma rede de apoio e não deixe nada, nem ninguém, te colocar numa situação desconfortável. Que essa visibilidade nos casos de Hollywood faça florescer a semente da mudança no mundo inteiro.

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