Ghost In The Shell: SAC_2045 se perde ao focar apenas nas críticas sociais de um Japão futurista
Se você assistiu a animação clássica e o live-action de Ghost In The Shell (sim, aquele mesmo com Scarlett Johansson e que aqui foi traduzido para ‘A Vigilante do Amanhã’), poderá estranhar bastante como a Major Matoko Kusanagi é retratada na mais nova produção da franquia. Isso porque em Ghost In The Shell: SAC_2045, ela está mais determinada, menos confusa e sem aquelas dúvidas sobre o quê e quem é.
Todas essas mudanças se devem ao fato de que o anime original Netflix acontece cronologicamente após todas as outras adaptações da franquia. Afinal, o mangá, escrito por Masamune Shirow e que serviu de inspiração até mesmo para Matrix, rendeu oito longas-metragens em animação, um filme em live-action, três animes e cinco OVAs. Ou seja, a Major já viveu inúmeras histórias depois do seu filme de origem, lá de 1995.
Em função disso, a história de Ghost In The Shell: SAC_2045 não se atém a desenvolver essa personagem, mas sim, o contexto no qual a trama está inserida. Em futuro no qual praticamente toda a população conta com “cyber cérebros”, é mais do que normal ocorrerem ataques de hackers invadindo e controlando a mente dos indivíduos. É aí que a Seção 9, uma subdivisão liderada por nossa protagonista, entra em ação, já que sua função é combater esses ataques cibernéticos de maneira furtiva e sem falhas.
O enredo de Ghost In The Shell: SAC_2045 acompanha essa equipe, que atualmente está desativada, fazendo seus membros atuarem como mercenários. Em uma de suas missões, os comandados da Major Motoko e de seu fiel escudeiro Batou, são sequestrados pelo Governo Americano, para, a princípio, realizar um serviço simples, de sequestrar um hacker. Essa função ocupa basicamente a metade inicial do anime, que parece começar a engrenar depois disso, revelando que os reais inimigos são os Pós-Humanos, seres que conseguem distorcer a realidade e manipular pessoas para o seu bel-prazer.
Porém, a série que parecia finalmente focar, começa a ficar quase que episódica, apresentando a cada novo capítulo uma sub-trama diferente, que pouco faz a história avançar. Isso porque as questões sociais deste Japão fictício (mas que existem atualmente) dominam a tela do meio para o final da temporada. Não que isso seja ruim, afinal, falar sobre a ocidentalização do Oriente; o descaso com a população idosa; abusos por parte dos professores em escolas e o cancelamento de pessoas na internet são importantes sim. Mas, dedicar um episódio inteiro para um assalto a banco planejado por velhinhos, bem no meio da história, quebra totalmente o ritmo que parecia estar engrenando. E vamos combinar, ir ao banco em 2045 parece bem insólito.
Temos também uma cena em que um vírus parece corromper a Major, mas, depois não é nem mencionado, enganando a todos que pensaram que aquilo teria alguma função (será que esqueceram mesmo?).
Esses movimentos fazem com que Ghost In The Shell: SAC_2045 não seja tão gostoso de maratonar, mesmo com apenas 12 episódios. Ainda assim, as homenagens a outras obras da cultura pop, como Matrix (temos literalmente um Sr. Smith) e o livro “1984”, de George Orwell, te resgatam para dentro de uma trama que, como já citado, se preocupou mais em levantar questões sociais e pouco se importou em construir uma história coesa e com um bom fluxo.
Outra questão que pode não agradar aos fãs da franquia é a animação. Ela é completamente em 3DCG e foi feita pela Production I.G, a mesma do anime original, junto ao SOLA DIGITAL ARTS (Ultraman). Por mais que em Ultraman ela tenha dado certo, dá pra perceber rapidamente que aqui o formato não casou bem. Vemos cenas de ação muito lentas e um com uma movimentação que parecia ter saído das animações do Max Steel e Action Man, lá do início dos anos 2000.
Como sabemos que a Netflix firmou um acordo para serem feitas duas temporadas no total (e com o gancho do final era nítido que teríamos uma continuação), esperamos que os próximos 12 episódios sejam mais coesos e nos façam querer ver mais da Major Makoto, Batou e o resto da equipe da Seção 9. Por enquanto não foi muito animador.