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“Fuja” usa suspense para abordar os problemas da superproteção

Fuja, filme de 2020 que chegou a estrear nos cinemas dos Estados Unidos, entrou no catálogo da Netflix no último dia 2 de abril. E essa grande estreia nos traz várias reflexões sobre a relação entre pais e filhos.

Os nove meses de uma gravidez vão muito além do que apenas o tempo que um ser humano precisa para se desenvolver no ventre da mãe. Esse período também serve para preparar os pais para receber o ser humano que está a caminho. E claro, criar expectativas. E quando elas não são atendidas ou fogem muito do esperado, a vida dos envolvidos pode mudar esse planejamento.

Estrelado por Sarah Paulson (Vidro) e Kiera Allen, em Fuja, dirigido por Aneesh Chaganty (do ótimo Buscando), vemos como a vida de uma mãe solo muda depois que sua filha nasce com uma gama de patologias. Diane (Sarah Paulson) desde o início demonstra ter uma preocupação excessiva com a filha Chloe (Kiera Allen). Cadeirante devido a paralisia, a adolescente praticamente nunca sai de casa e vive uma rotina regada a estudos particulares – dados pela própria mãe – e tomar uma infinidade de remédios, que controlam a sua asma, alergia e todos os outros problemas que a garota convive desde que nasceu. 

“Aonde você pensa que vai, mocinha?”

Aos poucos, pistas sobre o comportamento da mãe começam a fazer com que Chloe suspeite dela e também se o seu estado de saúde é tão grave quanto Diane sempre a fez pensar que é. Tais suspeitas afloram quanto a jovem espera uma resposta das universidades nas quais ela se inscreveu, gerando a apreensão da mãe, que não quer ver a filhinha ganhando asas e saindo para o mundo. 

Sarah Paulson está bem perturbada em Fuja

É inegável a inspiração de Fuja em outros filmes claustrofóbicos, com poucos personagens dividindo um mesmo cenário, que vai se tornando tenso conforme um acontecimento desestabiliza tudo. Prova disso é o easter-egg de Stephen King que vemos quando a cidade de Derry, no Maine, é citada. Esse localidade é muito comum nas obras do autor. Falando nele, Fuja lembra muito Louca Obsessão (Misery), livro que foi adaptado para o cinema em 1990, dando até um Oscar de Melhor Atriz para Kathy Bates. 

Outra comparação que podemos fazer com Fuja, é em relação a “Buscando”, outro ótimo filme do diretor Chaganty. No longa de 2018 temos também uma relação de pai e filho, porém, bem mais saudável do que vemos agora em 2021. Se em “Buscando” tínhamos um pai que não sabia muito sobre a vida da filha, aqui temos uma mãe que controla todos os passos da sua, inclusive quando ela que está conseguindo fazer as coisas escondidas dela. 

O diretor Aneesh Chaganty e Kiera Allen

Fuja aborda como a superproteção dos pais pode ser tóxica e prejudicar o desenvolvimento dos filhos. Por mais que necessitem de cuidados no início da vida, não podem ser privados de experimentar os lados bons e ruins que viver exige. Algo assim foi visto também na quarta temporada de Black Mirror, no episódio Arkangel, dirigido por Jodie Foster.

Qual é o seu limite para conquistar o seu sonho?

Por mais que seja doloroso, precisamos deixar os nossos filhos caminhar com as próprias pernas (um termo curioso para se usar nesse filme, quase literal) e decidirem qual será o seu futuro. Não é à toa que a protagonista do filme é uma cadeirante. Mesmo assim, no final vemos a força de vontade superar qualquer barreira e conquistar aquilo que sempre sonhou. Ajude seus filhos a sonharem. Não sonhe por eles.

Veredito da Vigilia

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