A breguice musical é celebrada em Festival Eurovision da Canção: A Saga de Sigrit e Lars | Crítica
Contando com um elenco com nomes renomados, como os protagonistas Will Ferrell e Rachel McAdams, Festival Eurovision da Canção: A Saga de Sigrit e Lars, lançamento da Netflix, alia um um ar de paródia musical e comédia leve. Aquele passatempo perfeito para um catálogo que parece pouco exigente. Com uma história de sucesso no mundo inteiro, o Festival Eurovision vira o palco dessa trama, que tal qual os filmes assinados por Will Ferrell se baseia em um humor que mescla inocência e exageros. Mas isso não é necessariamente um fato negativo. Isso porque os protagonistas acabam cativando, mesmo exacerbando características e estereótipos. Tudo é proposital e meio que um acordo que já se estabelece nos filmes do ator, comediante e produtor. Ele realmente não tem a menor vergonha disso. A direção de Festival Eurovision da Canção é de David Dobkin, de Penetras Bons de Bico e O Juiz (com Robert Downey Jr.). O roteiro é dividido entre Farrell e Andrew Steele, e o produtor executivo é Adam McKay (do ótimo Vice).
O roteiro se desenvolve mostrando o trajeto de Sigrit (Rachel McAdams) e Lars (Will Ferrell), uma dupla de cantores que vem da Islândia para participar da competição. Essa atmosfera do velho continente entrega um ar lindo (pelas belas paisagens e fotografia) e também pitoresco, justamente pela comédia explorar esses estereótipos de cada nação envolvida nesse festival.
Vendo que o filme “acontece” nesse único cenário (que é o Festival), tudo o que funciona e não funciona fica muito escancarado. Os personagens seguem uma linha bem Will Ferrell de produção: são sempre exagerados, o tempo todo extravagantes e com essa linha que beira a falta de noção. Tudo isso, aliado com figurinos e apresentações que são – realmente – muito bem feitos.
É interessante ver que Festival Eurovision da Canção não se preocupa muito em estabelecer mocinhos e vilões. Mesmo que se tenha alguma perspectiva de que eles existam, a narrativa é tão leve que é possível desconsiderar alguns desses papeis, que acabam nem caindo no pai de Lars, o veterano Pierce Brosnan (O Estrangeiro), nem no cantor russo Alexander (Dan Stevens, de Legion e A Bela e a Fera). Vale ressaltar ainda a boa piada feita com a cantora Demi Lovato, que interpreta a promissora cantora Katiana e a participação do famoso apresentador de talk shows, Graham Norton.
Rachel McAdams, como sempre, está ótima no papel, e assim como Ferrell, interpreta as canções que a dupla apresenta. Embora ela seja reconhecida por trabalhos marcantes como O Diário de Uma Paixão (2004) e Spotlight: Segredos Revelados (2015), ela não repete seu esplendor na comédia como em A Noite do Jogo (2018), e Meninas Malvadas (2004), mas é divertida. Ainda assim, ela se destaca nas apresentações de palco. Aliás, os momentos e números musicais do longa são todos ótimos, inclusive com um remix estilo videoclipe em uma grande mansão que vale a pena reassistir muitas e muitas vezes.
Dizer que Festival Eurovision da Canção: A Saga de Sigrit e Lars é brega é quase um pleonasmo, porque o próprio Festival Eurovision é conhecido por seus números completamente estranhos (que acabam viralizando na internet). Se a ideia central de Will Ferrell era criar essa atmosfera memética e de vergonha alheia, seguindo esses parâmetros, o filme é um sucesso. São duas horas que passam e você só fica se perguntando o que acabou de assistir. Interessante perceber ainda que comédias desse porte parecem ser realmente o futuro de canais de streaming. Ainda que tenham uma grande produção por trás, é o tipo de conteúdo que combina muito mais com a plataforma, deixando espaço do cinema (quando ele voltar) para obras mais grandiosas.
Festival Eurovision da Canção – A Saga de Sigrit e Lars, no final das contas, é um original Netflix que vale a pena!