Feed the beast | Crítica
Feed the beast é aquele tipo de conteúdo que fica escondido no catálogo da Netflix. Pouca gente falou sobre (o que justifica o cancelamento da segunda temporada). A série, de 2016, é uma mistura entre o seriado Demolidor e o filme Chef, com o protagonismo de Friends. Ok, isso parece incrível, né? Mas não se empolgue. Feed the beast tem uma boa ideia, mas falha na execução.
Remake da série dinamarquesa Bankero, escrita por Kim Fupz e adaptada por Clyde Philips para o canal americano AMC, Feed the beast é protagonizada por David Schwimmer (Friends) e Jim Sturgess (Across the universe). Dion (Sturgess) é um chef, que foi preso e começa a série saindo da prisão. Viciado em cocaína e mulherengo incorrigível, ele cumpriu sua pena com os Estados Unidos da América, mas ainda deve para um dos caras mais perigosos da cidade, Patrick Woichik (Michael Gladis) – falaremos mais sobre ele depois. A dívida se dá porque Dion colocou fogo (de alguma forma não explicada na série) no restaurante de Patrick, onde trabalhava com Tommy (Schwimmer) e com a falecida esposa de Tommy, Rie (Christine Adams). Tommy passou um ano muito difícil. A sua esposa, Rie, foi morta atropelada na frente do filho do casal, TJ (Elijah Jacob). Depois do acidente, TJ ficou traumatizado e parou de falar. Com a perda da esposa e o trauma de filho, a única forma que o sommelier Tommy vê como se livrar dos problemas é bebendo.
Depois de sair da cadeia, a única pessoa que o encrenqueiro Dion tem para lhe dar um lar é Tommy e ele vai atrás do amigo, pedindo para ficar apenas um dia. Depois de algumas tretas, Dion desiste de viajar e resolve ficar e tocar um velho sonho que ele, Tommy e Rie tinham, abrir o restaurante Thirio. Tommy mora no que seriam as instalações, numa antiga fábrica de piano, que parece um lugar abandonado e inabitável. E é durante o sonho de abrir o restaurante que aparece na história o pai de Tommy, Aidan Moran (John Doman), um senhor cadeirante que não via o filho há uma década, período em que Tommy resolveu casar com Rie, uma mulher negra, e seu pai, racista, não aceitou. Mas pelos negócios e por insistência de Dion, Tommy volta atrás, encontra o pai e convence ele a investir. Agora as coisas parecem que vão dar certo, não é mesmo? Ledo engano.
No início do texto, falamos que a série tinha um pouco de Chef e um pouco de Demolidor. A parte do Chef seria incrível se fosse mais explorada. É uma delícia, com o perdão do trocadilho, ver Dion cozinhando. O cara tem paixão pela cozinha, faz pratos que enchem os olhos e dão água na boca, mas é um lado pouquíssimo explorado. São as cenas leves, que dariam mais sentido e deixariam Feed the beast muito melhor de ser assistida.
Com Demolidor, a semelhança está na vilania. Podemos comparar Patrick, o “Fada dos Dentes”, com o Rei do Crime. Os dois tem um objetivo em comum: matar. Patrick mata tanto que muitas mortes não tem sentido NENHUM, parece que só querem nos provar que ele é um cara mau. O apelido Fada do Dente foi dado porque ele costuma arrancar o dente das pessoas que devem pra ele. E tem cenas mostrando isso. É absurdamente nojento. Além de matar por matar, o personagem ameaça todo mundo, desde Dion até a moça que atende seu pai no hospital. Ele não tem limite nenhum e isso enche muito o saco. As cenas de briga, de morte e de ameaça são um saco. E a paixão subentendida por Dion? Pois é. Talvez toda motivação da briga deles possa ser passional. Difícil.
Quem rouba a cena é Dion, o cara é simpático, gente boa, divertido. Torcemos por ele o tempo todo! Se a série tivesse apenas a parte dele cozinhando, sem essa pegada tráfico de drogas/pessoas do mal/ameaças seria muito melhor. Sobre o vício por cocaína, aparentemente, ele se livrou. Mas não temos como ter certeza, afinal, tem muitas pontas soltas nessa série.
A parte mais decepcionante de assistir Feed the beast é saber que não teremos segunda temporada. Isso quer dizer que não saberemos o que irá acontecer. O último episódio deixou mais dúvidas do que certezas. Não conseguimos ver um final feliz para ninguém. Feed the beast tem uma ideia que funcionaria, um elenco bom e uma história interessante. Mas com tantos elementos, infelizmente não funcionou.