Fate: A Saga Winx foi feita para o fã crescido da série original | Crítica
Se você é do tempo do programa matinal Bom Dia & Cia, exibido nos anos 2000, no SBT, certamente já assistiu ao Clube das Winx, animação italiana, criada em 2004 e que fez sucesso mundial graças a parceria com a Nickelodeon. A criação de Iginio Straffi apresentava, inicialmente, cinco garotas que vão estudar em Alfea, um colégio de fadas e que rivalizam com outra escola, a das Bruxas, ambas em Magix, uma dimensão mágica. Lá também existe um terceiro colégio, onde os Especialistas são formados.
Para a série live-action da Netflix, que estreou no dia 22 de janeiro, boa parte da trama original foi mantida. Porém, menos colorida e infantil, já que a animação era voltada para crianças entre 7 e 13 anos e agora somos apresentados a uma série teen, com vocabulário chulo em muitos diálogos, porém sem nenhuma cena de “pegação” muita explícita.
O tom mais sombrio da série da Netflix faz lembrar muito mais uma mistura de Harry Potter com Shadow Hunters do que com o desenho, que na minha opinião, buscava emular (de certa forma) o anime Sailor Moon. Na trama, a garota Bloom (Abigail Cowen) recebe o convite para estudar em Alfea, depois de um acidente provocado pelos seus poderes. Até então, a adolescente não sabia que era uma fada, muito menos a existência desse mundo mágico. Ao adentrar nesse novo mundo, Bloom irá em busca de respostas sobre o seu passado, além de aprender mais sobre as suas habilidades.
Provavelmente a mudança mais significativa em Fate: A Saga Winx, foi a preocupação com a representatividade. Se no desenho tínhamos personagens anoréxicas e com o umbigo de fora, aqui, a Netflix se preocupou em apresentar uma história na qual todas as meninas pudessem se identificar. Exemplos bem claros disso são Flora, que agora se chama Terra (Eliot Salt) e Aisha (Precious Mustapha), que não faz parte da formação inicial do quinteto. A primeira, diferente da sua versão animada, é acima do peso e possui uma personalidade confrontadora. Ela acaba sendo uma das protagonistas com mais camadas, já que apresenta vários dilemas da adolescência típica de um jeito não tão caricato quanto às outras. A segunda, Aisha, pode ter tomado o lugar de Tecna no quinteto (pelo menos por enquanto), pelo fato de ser a única personagem principal negra da história. Uma vez que já não temos mais Musa como a representante oriental, a pluralidade no live-action ficou menor ainda.
Completando o quinteto estão Bloom e Stella (Hannah van der Westhuysen), que na animação são as primeiras a aparecerem e mostrarem os seus poderes, criando um laço desde cedo. Já na versão teen, as duas se envolvem na famosa premissa de série adolescente, na qual a garota nova chama a atenção do bonitão, que vive um relacionamento tóxico com a pseudo-vilã, que desconta tudo na tal novata.
Outra mudança significativa foi a transformação do trio inimigo Trix em apenas uma garota, a Beatrix (Sadie Soverall). Ela também é clichê, sendo muito caricata como vilã, mas pelo menos a série não esconde isso e não nos faz de trouxas, mostrando logo todas as peripécias da adolescente. No lugar dos ogros, que serviam de capacho e alívio cômico do desenho, temos dois rapazes, que estudam para serem especialistas, fazendo o papel de capachos de Beatrix. Realmente, se colocassem monstrengos atrapalhados para realizar o trabalho sujo da galerinha do Mal tiraria o tom sombrio e mais sério que Fate quer promover.
Já que tocamos no assunto especialistas, eles também estão inclusos nesse novo conceito do live-action de representatividade. Se antes tínhamos mulheres sendo fadas e bruxas e homens apenas especialistas, uma espécie de guerreiros do mundo mágico, agora qualquer gênero pode ocupar esse papel. Com certeza o que mais se destaca na nova versão é Sky, que vive à sombra de seu pai morto em combate como um herói. Não bastasse, o cara precisar se provar a cada momento, fazendo jus ao legado de seu progenitor, ele ainda se vê no meio do tal triângulo amoroso com Bloom e Stella.
No final das contas a série é, e também não é, um programa para quem já conhecia o Clube das Winx. A Netflix procurou agradar o fandom (por mais que muitos ainda vão ficar irritados com algumas coisas), colocando easter-eggs e fan-services durante a trama (realmente, tem cenas que vão deixar os fãs-raiz do desenho muito animados), mas claro, sem esquecer que para fazer sucesso, Fate precisaria ser assistido por um público muito maior. As referências citadas de Harry Potter são inclusive faladas pelas próprias protagonistas em diálogos, deixando bem claro que os produtores procuraram surfar em outras ondas para chamar a atenção de todos.
E eu não poderia deixar de comentar que uma escola do tamanho de Alfea ter apenas três professores é algo meio forçado.
Fate: A Saga Winx é fácil de maratonar e tem os clichês certos para uma primeira temporada, não querendo ser maior do que é, já que estamos falando de uma série teen como tantas outras que já vimos e vamos continuar assistindo. Todos os mistérios apresentados durante a trama são resolvidos em seis episódios e os ganchos para o próximo ano da série são mostrados todos de uma vez no último episódio, deixando bem claro o que podemos esperar no futuro. Fate é redondinha e soube como fazer um roteiro coeso e tem tudo para figurar entre as mais vistas na Netflix.