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Excelentíssimos: um filme de terror brasileiro feito com fatos reais | Crítica

Falar sobre Excelentíssimos é mexer em uma parte delicada da história brasileira. Assinado por Douglas Duarte, o documentário percorre a história da articulação do impeachment da então presidenta Dilma Roussef, em 2016.

Apesar de parecer ter chegado atrasado, Excelentíssimos conta com erros e acertos e traz uma discussão totalmente atemporal: a política brasileira e seus conchavos. Se fosse dividido em cinco episódios, Excelentíssimos poderia ser a sétima temporada de House of cards, infelizmente da vida real. Afinal, as reviravoltas acontecem o tempo inteiro.

Com Excelentíssimos, temos a certeza de que a política brasileira é branca, masculina e tem meia idade. E o fato de Dilma ser mulher, claramente agravou a situação do impeachment. Em uma parte do documentário, Carlos Marun é entrevistado e declara “eu votaria a favor do impeachment mesmo se ela tivesse roubado um picolé”. Se ela fosse um homem, será que alguém falaria isso? Fica o questionamento. Aliás, o longa deixa claro de que foram as mulheres e serão as mulheres que vão lutar pela democracia brasileira. Foram as mulheres que lutaram contra o golpe. São as mulheres que mantém a esperança acesa.

A luta pela democracia também fica clara na presença e nas falas do ex-presidente Lula. Inclusive, é dele a frase “Uma palavra mágica que a gente conquistou no Brasil: democracia”. E agora, o debate é sobre manter a democracia viva com o atual governo eleito. Por isso, como disse anteriormente, o filme é atemporal.

Excelentíssimos mostra também a capacidade dos parlamentares de deixar pessoas constrangidas. Em uma cena, um dos deputados deixa uma jornalista tão constrangida que precisei pausar e tomar um ar. Isso aconteceu também nas diversas reuniões que começam com orações evangélicas e tratam minorias de forma debochada. São nessas reuniões também que vemos o início do antipetismo e da ascensão do presidente eleito no Brasil em 2018, conhecido como mito, falando barbaridades, como infelizmente já estamos acostumados.

Contudo, nem só de acertos vive Excelentíssimos. Afinal, são visíveis alguns erros na montagem do filme. O longa conta com imagens captadas dentro da Câmara de Deputados, com discursos gravados e propagandas políticas e muitos outros materiais. E são nesses momentos que o longa desliza. Em um compilado de imagens, por exemplo, um dos deputados fala que “quem concorda com o impeachment, levante a mão”, porém, no corte, aparece a Deputada Maria do Rosário (PT-RS) com a mão erguida. A parlamentar é claramente contra o impeachment, mas a montagem pode induzir o espectador mais desavisado ao erro.

Outro erro grave do filme é que em suas duas horas e meia de duração, Excelentíssimos não tem um norte. Não é seguido nenhuma personagem especificamente, o que deixa o filme sem desenhar algo claro. O filme tenta abraçar tudo e acaba por não focar em nada.

Excelentíssimos fará com que o Brasil passe vergonha. De maneira nenhuma pela produção e nem pela qualidade, mas por mostrar pro mundo a incapacidade do brasileiro de fazer política. Como diria Eduardo Cunha, numa passagem do documentário “Que Deus tenha piedade dessa nação”. Brincadeiras à parte, o longa nos deixa uma grande reflexão: precisamos falar e entender política.

Veredito da Vigilia

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