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Eu Nunca… da Netflix é nova, necessária e única! | Crítica

“Eu Nunca”. A nova série de comédia da Netflix estreou dia 27 de abril na plataforma de streaming e já ganhou os nossos corações.

A novidade traz Devi (Maitreyi Ramakrishnan), uma garota prestes a entrar no segundo ano do ensino médio que está determinada a se tornar popular, custe o que custar. Isso, é claro, junto de suas duas melhores amigas (que, assim como ela, são nada populares) Fabiola (Lee Rodriguez) e Eleanor (Ramona Young).

Até aí temos uma fórmula muito conhecida e quase ultrapassada. Entretanto, os sub-contextos da trama a transformam em algo novo, necessário e único. Um ponto importante na busca insana por popularidade de Devi, é a sua necessidade em mudar a forma como é vista por todos, por conta de, no ano anterior, ter perdido o pai durante um recital da escola (não é um spoiler). Somado a isso, a garota, por conta do trauma, ficou paralítica por alguns meses. Então, além de sempre ter sido a clássica “nerd” estudiosa e de ser “a garota indiana”, ela não quer mais ser vista como uma coitadinha.

A série é criada pela incrível Mindy Kaling, de “The Office” e “The Mindy Project”, que, assim como a protagonista, também é uma americana filha de indianos. A série é, na verdade, uma livre adaptação de sua adolescência, mesclando também situações atuais com a necessidade de dar mais representatividade aos sul-asiáticos. A roteirista Lang Fischer também está à frente do projeto com Mindy. As duas já trabalharam juntas em “The Mindy Project” e, entre outros trabalhos, Lang escreveu também alguns episódios de “Brooklyn Nine-nine” (entre eles, “Hitchcock and Scully”, que conta o passado dos detetives mais antigos da 99).

Logo de início, “Eu Nunca” me lembrou outra série que gosto muito, “Jane, The Virgin”, pelos seguintes pontos:

  • Traz  uma família de mulheres. O núcleo familiar de Devi, após o falecimento do pai, é ela, sua mãe e a prima Kamala, que foi para os EUA para estudar. Em “Jane”, temos a protagonista, sua mãe e avó.
  • Essa família é de ascendência estrangeira. Enquanto Jane é de origem venezuelana, Devi é filha de pais indianos. Nas duas séries acabamos descobrindo mais sobre as religiões e costumes dessas culturas, o que ainda é pouco abordado nas produções estadunidenses. A prova disso é que automaticamente conectei essas duas séries uma a outra.
  • A presença de um narrador. “Jane” traz um narrador de telenovela e aqui temos o ex-tenista John McEnroe, de quem o pai de Devi, Mohan (interpretado por Sendhil Ramamurthy, o Mohinder de “Heroes”) era fã. Em um único (e ótimo) episódio, McEnroe é substituído por Andy Samberg, o nosso Jake Peralta de, novamente aparecendo aqui no texto, “Brooklyn Nine-nine”.

Mas as semelhanças param por aí. “Eu Nunca” tem originalidade de sobra em sua essência. Com 10 episódios de vinte e poucos minutos, a série de comédia consegue tocar em assuntos relevantes, atuais e profundos com muita suavidade e facilidade.

Confesso que amei Devi e todas as suas loucuras. A protagonista já têm um lugar especial no meu coração, pois mesmo jovem, vai atrás do que quer e mesmo fazendo de tudo pela popularidade, parece não se importar muito com o que os outros pensam. Além disso, se suas escolhas duvidosas, erros, micos e mancadas já são completamente justificáveis para uma adolescente comum, a sua resistência em encarar a morte do pai e a carga que isso traz só fazem com que as pessoas simpatizem e entendam ainda mais a sua jornada ao longo dos episódios.

O núcleo familiar merece um destaque. Tanto sua mãe (Poorna Jagannathan), quanto a prima Kamala (Richa Moorjani), passam por trajetórias pessoais que engrandecem a série por seus desenvolvimentos como personagens. As melhores amigas também são um show à parte, pois acompanhamos a apaixonada por tecnologia Fabiola, passando pelo processo de descoberta da sua sexualidade e pelo difícil momento em que ela decide se abrir com sua família. Enquanto isso, Eleanor, aspirante a atriz, reencontra a mãe que a abandonou e precisa fazer escolhas sobre sua carreira. Tudo isso sem tabus, com boas doses de humor e com muitas referências da cultura pop atual, como “Riverdale” e “Rick and Morty”.

“Eu Nunca” garante muitas risadas e cumpre a sua proposta. A série prova a importância de termos, por trás das câmeras, uma equipe que represente a história desenvolvida, peça chave para transmitir a essência dos seus personagens e engrandecer a indústria. Vale colocar essa série ao ladinho (mas logo abaixo) de “Sex Education”, que também trouxe pautas atuais, relevantes, um elenco diverso e que, com certeza, vai deixar um impacto positivo para a geração que cresce consumindo esse conteúdo.

Veredito da Vigilia

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