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Escola de Quebrada desmonta estereótipos e mostra o colorido da favela

Escola de Quebrada é mais uma produção audiovisual com o dedo de Kondzilla. Desta vez, com o selo da Paramount+. O canal de streaming vem fortalecendo e diversificando seus produtos e também fomentando o mercado nacional. Mas se antes, junto com a Netflix, Kondzilla trilhou um caminho mais dramático, como na série Sintonia, onde temos a mescla do funk, tráfico e religião, em “Escola de Quebrada” a pegada é bem diferente. O filme que já está no catálogo é quase uma versão brasileira de “Todo Mundo Odeia o Chris”. O exemplo é um bom argumento na hora de explicar o que está por vir, e até mesmo o diretor Kaique Alves se fez valer dele, deixando bem explícito em uma coletiva realizada de forma virtual na sexta-feira, dia 3 de março, na estreia do filme. “Eu sempre quis mostrar esse lado da quebrada, que foge ao que vemos habitualmente, e claramente, sou muito fã de ‘Todo Mundo Odeia o Chris’”, apontou.

E é bem por aí. “Escola de Quebrada”, apesar de longa, não é tão longa assim. Com pouco mais de uma hora, é aquele típico conteúdo que gostamos de consumir sem pensar muito. E é entretenimento da melhor qualidade. Divertido, engraçado e colorido, ele brinca com várias situações das comunidades pobres do Brasil. Mais precisamente, da quarta maior cidade do mundo. Mas, em vez de mostrar violência, tráfico e dramas grandiosos, as tretas aqui são diferentes. É um filme escolar, daqueles que nos acostumamos a ver nas sessões da tarde da vida. Mas é um filme de colégio com um DNA muito próprio, e muito brasileiro. E esse contexto permite, além de explorar lados cômicos, outros tantos que nos dão um direcionamento bem didático de como os jovens lidam com seus problemas atualmente, nunca escondendo também, que o contexto escolar das “quebradas” são um tanto quanto precários no Brasil.

Escola de Quebrada: Luan, Rayane e David
Rayane, Luan e David formam um trio inseparável

A história é um clássico da adolescência. Luan (vivido pelo talentoso Mauricio Sasi) é o nosso protagonista. O narrador da história só pensa em voltar para o ano letivo e ser “chavoso”, o que na linguagem deles, é popular, ou que gosta de reconhecimento e chamar a ateção. Ou só, descolado. O cara que todos querem ser no colégio. É interessante pensar que, embora visto como um nerd, Luan para ser o “chavoso” precisa basicamente amparar seu visual com os demais “chavosos” da escola e que possuem vários seguidores nas redes sociais. E sendo assim, ele pode conquistar Camila (Laura Castro), a menina que ele gosta desde a primeira série.

Gírias e o colorido do funk

Nessa condição de ser o “chavoso da escola”, já puxamos as ideias de ter um “boot da hora” (um tênis importado) ou roupas de marcas conhecidas e espalhafatosas. Nível visual do funk, sem tirar nem por e sem ser pejorativo. Ele tem dois parceiros inseparáveis: o gamer David (Lucas Righi) e a inteligente Rayane  (Bea Oliveira). E também fugindo dos estereótipos dos “filmes de favela”, todos têm famílias estruturadas. Suas preocupações realmente ficam restritas ao ambiente escolar, serem vistos e lembrados, seja pela turma ou pelos professores. Mas claro, na escola, temos várias outras realidades. As gangues rivais e até a colega que já engravidou. Escola de Quebrada insere esses contextos sem ser agressivo, mas apenas realista. E claro, às vezes tira sarro disso.

Escola de Quebrada e a a turma das minas
Escola de Quebrada e a a turma das minas!

E fazendo jus às comédias de high school, temos pitadas de outros clássicos do gênero. “Te pego lá fora” e “Curtindo a Vida Adoidado” são algumas das lembranças, mas, como diferencial, tudo tem uma identidade muito própria da nossa terrinha. Os exemplos passam pelos personagens, suas realidades, as músicas, e o contexto escolar, que ainda os reserva um atrapalhado zelador da escola interpretado por Oscar Filho.

“Escola de Quebrada”, para falar bem a verdade, tem toda a cara de um piloto de série. Mas nesse aspecto, Kondzilla argumenta que mais capítulos desse mundo tão brasileiro recriado para o audiovisual, como de costume, vai depender da repercussão. “Queremos dividir um pouco desse sonho. Estou muito feliz com o resultado e claro, estamos dispostos a fazer mil versões e mil temporadas, por isso, é importante que todos curtam, espalhem e comentem. Só assim faremos outras histórias de quebradas”, afirma.

Na minha modesta opinião, tem tudo para dar certo. Desventuras colegiais, com certa inocência, mas com pitadas de mundo real e humor são ingredientes férteis para uma série. E com várias temporadas. Vamos ver. “Escola de Quebrada” já ganhou o selo “Vigília Recomenda”, com sobras.

Veredito da Vigilia

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