Séries

Elize Matsunaga: Era uma vez um crime mostra o outro lado da história

Na metade de 2012, o assunto nos noticiários e nas rodas de amigos era um só: a morte de Marcos Matsunaga, herdeiro de uma das maiores empresas alimentícias do Brasil. O que mais chocou o público foi a forma como ele foi assassinado. Depois de ser baleado na cabeça pela esposa, Elize Matsunaga, ele foi esquartejado, desmembrado e colocado em malas para que a autora pudesse se livrar do corpo. Quase dez anos depois, Elize decidiu pela primeira vez contar sua história. E ela virou uma série documental da Netflix.

Sem nunca ter dado uma entrevista sobre o caso, conversar com Elize sempre foi de grande interesse da imprensa. O Brasil todo queria saber porque naquela noite de maio ela puxou o gatilho e assassinou seu marido e pai da sua filha, uma bebê com pouco mais de seis meses.

Para essa questão, Elize diz que não tem resposta. Ela declarou, no documentário, que ainda não sabe qual foi a emoção que a fez puxar o gatilho. E sobre dar a entrevista para a Netflix (que ela inclusive questionou o que era, já que, em todos esses anos, ela nunca havia saído da cadeia), Elize declarou que queria deixar um registro para a sua filha, que não vê desde a época do crime.

O documentário parece ser apenas a segunda versão dos fatos. Ele não parece ter objetivo de contar novamente a história. Os aficionados por true crime que conhecem tão bem o crime (como essa jornalista que escreve aqui) percebem que faltaram elementos da investigação principal no roteiro. As botas, o saco de lixo, tudo isso que foi tão importante para prender Elize passou batido. E nenhum novo elemento é trazido pela série.

Elize e Marcos Matsunaga em seu casamento
Elize e Marcos em seu casamento

Desta vez, conhecemos quase uma romantização de quem é aquela mulher. Pintada como uma monstra por anos, agora conhecemos a família, a tia, a avó, sua paixão pela filha, o ciúmes doentio de Marcos. Geralmente, após a morte, a vítima acaba virando uma pessoa imaculada. No seriado da Netflix, no entanto, esta faceta do morto é desmistificada. Ele aparece como um homem controlador, abusivo e infiel, que taxava Elize como louca e inclusive tinha intenção de interná-la numa clínica, o que foi confirmado pelo mentor espiritual do casal.

Outro aspecto que vemos nesta série é o machismo presente no julgamento de Elize, tanto nos tribunais quanto na sociedade em geral. O passado dela sempre é trazido para desqualificar suas ações ou suas intenções.

Elize Matsunaga na época dos fatos
Elize na época dos fatos

Elize Matsunaga: Era uma vez um crime não tem a qualidade técnica de outros documentários do gênero, como o Caso Evandro da Globoplay e, por vezes, ficou repetitivo, parecendo um produto para grade de televisão, que parte do pressuposto de que as pessoas podem perder algum capítulo, mas cumpre bem o seu papel. Ele traz, com as ressalvas que citei anteriormente, um panorama novo sobre a história (mas sem novas revelações) e abre precedentes para que tenhamos cada vez mais os true crimes brasileiros contados em documentários.

Veredito da Vigilia

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