Elite volta no mesmo tom | Crítica
“Esperamos que na terceira temporada os roteiristas explorem algum outro ponto, fugindo do convencional e sendo mais interessante do que apenas matar personagens e casais que não se resolvem nunca”. Assim termina a minha crítica sobre a segunda temporada de Elite. Pausa dramática, respira, e expira: Ai, ai Netflix …
Na terceira temporada da série teen (nem tanto, já que é censura 18 anos) mais vista na primeira semana de quarentena devido ao novo Coronavírus, seguimos a velha premissa que já foi vista em episódios anteriores: os alunos do colégio Las Encinas não digerindo a morte da colega Marina, irmã de Guzmán e crush eterno de Samuel. Porém, um “novo” acontecimento “mudará” a rotina desses estudantes. O assassinato de Polo, culpado por tirar a vida da garota, mas que até então, não foi condenado.
E lá está de novo a mesma investigadora, que não descobriu o assassino de Marina na primeira temporada; não encontrou o sequestrador de Samuel na segunda e agora está a frente desse novo caso. Será que não seria uma boa trocá-la, uma vez que esses adolescentes estão fazendo ela de boba desde 2018?
Pois bem, no maior estilo Agatha Christie, todos são suspeitos pela morte do cara, o que torna a trama parecidíssima com a terceira temporada de 13 Reasons Why, matando logo de cara o “vilão” e recontando os passos de todos os suspeitos até o fatídico dia do crime, que só é mostrado no último episódio. Outra similaridade é o fato de tentarem humanizar o personagem que virá a morrer (Polo em Elite e Bryce em 13 Reasons, desculpa o spoiler). Na produção espanhola isso é um pouco mais “fácil”, já que ele matou por acidente a Marina e não agia como um psicopata, ao contrário de Bryce. Tanto que Polo ficou se martirizando durante a segunda temporada.
Mas claro, a série não foca apenas nesse acontecimento e nos mostra os dramas pessoais de cada personagem, principalmente a preparação para ingressar em uma universidade. Mas falando nos dramas, esse é o segundo ponto que eu chamei atenção lá no início do texto, ao referenciar a crítica da temporada anterior. Os casais que inventam empecilhos para ficarem juntos.
Sim, obviamente estamos falando de Omar e Ander e Nadia e Guzmán. O primeiro lutou duas temporadas para conseguir finalmente assumir um relacionamento homoafetivo, mas que agora encontra mais um obstáculo, já que Ander foi diagnosticado com leucemia. Claro, enfrentar todo esse processo do lado de quem você ama pode ser desgastante e um tanto sofrido, dando uma sensação de impotência, eu entendo. Só que em Elite, o casal apaixonado se desfaz novamente de maneira tão fácil, que é difícil comprar essa ideia depois de tanto amadurecimento dos dois.
Já Nadia e Gúzman não estão namorando nesses novos episódios, mas é evidente que um gosta do outro e ficam se “fresqueando” mais do que antes, quando os obstáculos eram bem maiores.
Mas nem tudo está perdido quando falamos desses dois personagens. Nadia ganha um empoderamento na atual temporada de Elite, fazendo uma dobradinha com Lu, que ao meu ver, foi a personagem que mais cresceu desde o início da série. Ela abandonou o seu posto de “vilã estilo Malhação”, para dar uma lição de moral e impulsionar outras garotas, como Carla por exemplo, a assumirem o seu lugar, sem baixar a cabeça para ninguém. Guzmán também fica mais sóbrio do meio para o final dos novos episódios, deixando o seu estilo impulsivo de lado e virando a página.
Agora, quem está irreconhecível na terceira temporada de Elite é a marquesinha Carla. A manipuladora de mentes, de personalidade magnética, fazendo todos beijarem os seus pés, se tornou alguém sem alma, agindo como um fantoche. Ok que o seu adversário agora é o seu pai, alguém que presumimos foi o seu mentor para pensar desse jeito. Mas mesmo assim, as suas atitudes, sem titubear, deixaram com que seu personagem perdesse o brilho, a colocando com um segundo par romântico sem graça desde que a série começou. Estamos falando de Yeray, um ex-obeso que agora possui uma Start-Up e quer provar para tudo e todos que deu a volta por cima.
O outro novo personagem é um tal de Malick, que entra na série só para inventar uma desculpa para dois casais ao mesmo tempo não ficarem juntos. Nada mais a declarar.
Depois disso tudo, vamos falar sobre os antigos-novos personagens. Cayetana, Rebeka e Valerio se firmaram de vez nessa terceira temporada e com certeza vamos ouvir falar deles no futuro. A mentirosa da Cayetana, junto do “boa vida” Valerio inclusive protagonizam um fan service ao lado de Polo, ao realizarem novas cenas de poliamor, como vistas anteriormente com o mesmo Polo (esse cara curte um lance a três), Christian e Carla.
Já Rebeka vive seu momento Pablo Escobar na série, ao virar traficante por necessidade, demonstrando que não é só de bebida que os alunos de Las Encinas vivem. Falando em bebida, parece que eles só servem Gin Tônica na única boate que existe nas redondezas. Beka também protagoniza um namoro chocho com Samuel, que continua mantendo a sua sina de ter uma namorada diferente por temporada.
Falando no diabo, o cara se perdeu, tornando-se um personagem cada vez menos cativante. Na terceira temporada ele continua a saga de inocentar o seu irmão e odiar Polo. Tirando isso, ele de vez em quando lembra que é apaixonado pela Carla e ajuda a prender a mãe da Rebeka (a única ação da polícia efetiva em Elite é a que um adolescente age como espião). Do meio para o final, do mesmo jeito que Guzmán, o personagem ganha mais iniciativa e participação ativa nos acontecimentos. Talvez zerando tudo e começando uma nova jornada na quarta temporada os produtores consigam salvar o nosso Samu.
Enfim, a terceira temporada de Elite possui a mesma fórmula das anteriores, criando um mistério logo de cara, e entregando um último episódio realmente surpreendente, que faz valer a pena você ter acompanhado até aqui. Porém, esse vai-e-vem de casais, todo mundo pegando todo mundo, jovens falando em gastar ou emprestar dinheiro que não é deles (e sim dos pais) como se fosse troco, sem falar na falta de ressaca depois de beber todas as noites e ir para o colégio no outro dia está soando cada vez mais superficial. Talvez agora com a entrada na faculdade e o começo da vida adulta, tenhamos uma história mais densa e sem nenhum assassinato para a mesma investigadora não conseguir resolver.