É proibido ser monogâmico na quinta temporada de Elite
Quem acompanha a série espanhola Elite, na Netflix, sabe que ela mudou muito desde o seu início promissor, em 2018. Antes, tínhamos vários chamariscos interessantes, como um mistério bem construído do início ao fim, núcleos bem distintos interagindo e aprendendo uns com os outros e personagens cativantes, que nos faziam torcer pelos seus sonhos e sofrer junto com os seus dramas. Porém, na quinta temporada, que estreou em abril, temos uma desculpa para todo mundo pegar todo mundo, mesmo não tendo nenhuma relação afetiva ou qualquer tipo de vínculo ou atração prévia.
O quinto ano de Elite utiliza, mesmo que sem ocupar a maior parte da enredo, os acontecimentos da quarta temporada, que encerrou com o assassinato de Armando (Andrés Velencoso), que possuía um relacionamento tóxico com Mencía (Martina Cariddi). No final das contas esses fatos só servem para finalmente colocar o diretor Benjamin (Diego Martín) como vilão dessa nova fase. Tirando isso, temos uma pegação desenfreada e catalisada pela dupla brasileira Ivan (André Lamoglia) e Cruz (Carloto Cotta, que fala português na série, mas não é brasileiro), pai e filho, que vieram à Madrid pelo fato de Cruz ser um jogador de futebol, que pipoca de país em país, mas que em nenhum momento da série da fica explícito se ele está ou não em atividade, já que ele parece ter muito tempo livre para dar festas e flertar até mesmo com os colegas de escola do filho.
Como citada, a pegação não parece nem ter função na trama, já que vemos casais que dizem se amar e fazer tudo um pelo outro traírem sem o menor arrependimento, brigarem e voltarem no outro dia. Aliás, as consequências nunca foram o forte de Elite, que continua apresentando adolescentes saindo para beber e se drogar todas as noites e, no outro dia, estão serenos na sala de aula, como se nada tivesse acontecido. Ah, e continuamos tendo apenas um restaurante para jantar, uma faxineira em toda a escola Las Encinas e a mesma boate. E, obviamente, a presença dos pais está cada vez menor, ao passo que temos pessoas menores de idade decidindo onde vão estudar e vão de um lugar pro outro de helicóptero quando dá na telha.
Sobre os personagens e temas abordados, temos até um ensaio para falar de abuso sexual, o uso de drogas desenfreado e a descoberta da sexualidade, mas tudo de maneira leviana e mal executada. No máximo o primeiro tema – que tem como núcleo principal a “gata borralheira” Cayetana (Georgina Amorós), o príncipe Phillipe (Pol Granch) e a novata na série, a atriz argentina Valentina Zenere, que interpreta a DJ Isadora – ganha um pouco mais de atenção e tem uma resolução até que aceitável, mas ainda assim poderia ser melhor. A prova de que os roteiristas não estão muito interessados no roteiro é o fato de Patrick (Manu Rios) e Ivan ganharem mais tempo de tela do que todos os outros, somente pelo fato de proporcionarem as cenas mais quentes da trama (seja entre os dois ou todas as outras pessoas que os dois se relacionam). Uma pena, já que o episódio de Patrick em Histórias Breves parecia ter dado uma carga dramática ao personagem, fugindo um pouco do seu apelo sexual.
Já que citamos o protagonismo ofuscado de quem deveria ser o grande astro da história, Samuel (Itzan Escamilla) está na trama apenas para ser feito de trouxa e fazer o papel de garoto humilde sonhador, que continua a ser usado pelos outros, que se aproveitam de “sua nobreza”. Até mesmo quando ele interagia com a marquesinha Carla (Ester Expósito), como vimos na primeira temporada de Histórias Breves, víamos um Samuel mais orgulhoso e digno. Parece que a cada ano que passa, vemos o personagem perder mais e mais a sua personalidade, tornando a sua presença em Elite apenas uma mera formalidade, já que apenas ele e Omar (Omar Ayuso) continuam desde o início da série. Aliás, Ayuso já confirmou que não fará mais parte do elenco da série.
Ao final da temporada, temos a rotineira retirada de personagens, mas aqui, de um jeito tão forçado que não parece orgânico. Como acompanho a série desde 2018, incluindo os spin-offs ‘Histórias Breves’, posso afirmar que essa é a pior temporada de Elite.
Com um sexto ano de Elite já confirmado, nos resta torcer para que este seja o último, de uma série que começou bem e se perdeu ao longo do caminho, priorizando o impacto visual e sexual, ao invés das suas tramas paralelas e humanizadas.