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Drácula: um é bom, dois é ruim, três é incrivelmente péssimo | Crítica

“Dos criadores de Sherlock, vem aí uma nova versão do vampiro mais famoso de todos os tempos: o magnífico, inquietante e deliciosamente mortal Conde Drácula.” O texto de divulgação da minissérie Drácula, que ingressou no catálogo da Netflix nesses primeiros dias de 2020 é marcante. O fato da produção vir com a assinatura de Mark Gatiss e Steven Moffat provavelmente motivou muita gente a dar o play na novidade. Fora isso, temos ainda todo o imaginário carregado que o icônico personagem Drácula carrega consigo, o que também já é, por si só, motivo para assistir, ler ou interagir com alguma obra.

Pois, enfim. Tudo isso me fez dar o play no primeiro episódio da nova série. São três ao todo, cada um com cerca de uma hora e meia. Prato cheio para quem já não aguenta encarar produções que se arrastam por mais de 13 ou 15 capítulos. Terminado o episódio introdutório, tudo apontava para uma promissora e gloriosa novidade carimbada pela Netflix (a produção é da BBC de Londres). Nele, somos apresentados ao carismático novo Drácula, belissimamente interpretado por Claes Bang (The Square, The Affair e Millenium: A Garota na Teia de Aranha), e sua antagonista (ou o contrário, como preferir) Irmã Agatha, vivida pela também impactante Dolly Wells (Orgulho e Preconceito e Zumbis). E ainda para uma trama inicial do advogado Jonathan Harker (John Heffernan) e sua amada Mina (Morfydd Clark). Locações impactantes, cenários bem trabalhados, e todo o bê-a-bá que sabemos que será usado em uma série com vampiros. Acrescente-se aí, para além do sol, do crucifixo, e das estacas de madeira, uma nova regra: “Drácula só pode entrar se alguém o convidar”.

Drácula ataca um convento: um início quase épico!

Para melhorar, temos uma prévia do sofrido advogado e seu envolvimento com o conde, que dá o tom e o estopim para o primeiro arco, que remete basicamente a entrada ou não de Drácula em um convento. E a luta do bem contra o mal, luz contra a escuridão, se dá com bons diálogos e noções envolventes entre Agatha e Drácula. Tudo parece grandioso e um excelente início de uma série que teria tudo para ter uma carreira marcante e ser lembrada por todo o ano. É aí que vamos para o segundo ato.

No segundo episódio, a produção de Drácula bota fora tudo que apresentou, e nos joga para uma brincadeira de “tente entender o que está acontecendo”, mostrando novos personagens, novos cenários e nova época. E você vai se perguntar se aquilo tudo está certo. Como o primeiro episódio ainda ressoa com empolgação em sua mente, você vai se deixando levar. A narrativa tira nosso chão, para aos poucos, tentar construir uma sequência que vai descendo com menos fluidez e menos simpatia. Ainda interessante, mas bem menos do que a mordida no pescoço que foi o episódio inicial. É quando temos um novo gancho para que tudo continue no terceiro e derradeiro episódio. “É nele que tudo vai se encaixar”, você pensa. Ledo engano.

A irmã Agatha faz frente ao senhor das sombras

Chegamos no ato final já torcendo o nariz, embora a introdução do Drácula no mundo atual seja até legal de se assistir. Aqui você já entenderá a proposta da minissérie, embora provavelmente não vá comprar essa ideia. As coisas vão simplesmente piorando, ao ponto de termos uma penca de novos personagens, a mescla e a herança da briga centenária de Drácula e Agatha, e a “modernização” dessa relação. Você dá mais um voto de confiança, afinal, … é o último capítulo. Mas nada é tão ruim que não possa piorar. Quando o plot parece se resolver, uma reviravolta absurda acontece. E agora vem um Spoiler:

Drácula usando advogado para sair de uma espécie de prisão (que já é ilegal) é uma das coisas mais esdrúxulas que eu já assisti em uma obra ficcional.

Mas vamos lá, já que estamos na chuva, vamos “se molhar” mesmo. Eu continuo, pois falta pouco pra acabar. Infelizmente dá tempo para piorar. E tudo se desenrola com ainda mais personagens (que a gente pouco se importa que tenham sido apresentados) e o total esquecimento de tudo de bom que foi colocado no capítulo inicial. Tudo culmina num final clichê e sem empolgação. O suficiente para dar aquela raiva e perguntar: “O que aconteceu com essa produção?”.

Imagine três histórias escritas por pessoas diferentes. Agora imagine alguém sendo pago para filmar elas e tentar conectá-las de forma interessante. Esse foi provavelmente o briefing para o que aconteceu com Drácula. Por isso, nessa minissérie, o “um é bom, o dois é ruim e o terceiro é incrivelmente péssimo”.

A Vigília Não Recomenda.

Veredito da Vigilia


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