Dias de Invierno e os meios do caminho | Crítica
Dias de Invierno, longa mexicano dirigido por Jaiziel Hernández Máynez, foi exibido no 48º Festival de Cinema de Gramado no domingo, dia 20 de setembro.
O drama é um filme sobre os “meios do caminho”. Não é sobre a morte do pai ou a chegada em um novo país, é sobre a vida e as dificuldades que encontramos ao longo da jornada, e não nos momentos em que provavelmente você colocaria uma bandeirinha virtual. Não é sobre os grandes marcos de uma trajetória, início ou fim. Não é sobre os “divisores de águas”.
O nosso protagonista é Nestor (Miguel Narro), um jovem de vinte e poucos anos que sonha em se mudar para os Estados Unidos, mas, por não saber exatamente que carreira seguir e por não ter muito dinheiro, acaba atrasando seus planos. Apesar de ter um emprego como gerente noturno em um hotel e de cuidar da vizinha idosa, suas atividades não são o suficiente para sua mãe, Lilia (Leticia Huijara), que constantemente o critica por isso e por não ter seguido uma potencial carreira na área de Matemática, já que ia tão bem em algumas olimpíadas regionais.
Logo no início da trama, em uma visita para a antiga casa dos avós, agora um chalé à venda, revirando caixas, Nestor encontra uma antiga prova de matemática. O garoto leva ela consigo, fixado no exercício que o fez reprovar e fica, ao longo da história, buscando a resposta certa para aquele problema.
Lilia acaba, na verdade, sendo tão protagonista quanto o filho. A obra discorre sobre como mãe e filho, após a morte do marido/pai e a saída dos filhos/irmãos mais velhos, precisam encontrar (ou reencontrar, no caso de Lilia) o seu rumo. Tanto Lilia, uma viúva recém desempregada, quanto Nestor, um jovem “estagnado”, estão insatisfeitos com suas vidas e perspectivas.
Acompanhamos também alguns outros relacionamentos de Nestor, como o com sua namorada, Gaby (Saidde García Ulloa) e com um hóspede americano do hotel, Mr. Feldman (Peter Theis), com quem desenvolve uma amizade inesperada. Apesar de acompanharmos um pouco de suas vidas e motivações, ambos servem para impulsionar o nosso protagonista.
Na busca incessante pela resolução do problema matemático, acabamos percebendo uma projeção de Nestor, que, na verdade, busca internamente pelos seus reais objetivos e ambições na vida. Envolvido em um enigma sobre cachorros e lobos, o jovem também precisa encarar seus maiores medos e receios.
Ao final da trama, tanto Nestor quanto Lilia parecem ter enxergado novos momentos de suas vidas. Sem grandes gatilhos para as suas transformações, os personagens transparecem a realidade como ela é, simples e, ao mesmo tempo, grandiosa.
Dias de Invierno segue uma narrativa calma, sem pressa de contar a sua história e sem precisar encher os olhos dos telespectadores com feitos espetaculares. É uma história que poderia ser a de um vizinho, de uma tia ou de um conhecido da escola.