Cry Macho: Onde ser “macho” é mais singelo que muitos imaginam
Cry Macho é a adaptação do livro de Richard Nash de 1975 e narra a história de Mike Milo um ex-astro de rodeio e treinador de cavalos que aceita uma proposta de trabalho feita por um amigo e também seu ex-chefe de trazer o filho desse amigo do México para sua casa.
Clint Eastwood dirige e protagoniza o longa como Mike Milo, um sujeito que tinha uma carreira promissora, mas perdeu tudo. A carreira, família, dinheiro… tudo mesmo… e se afundou. O cantor country e ator nas horas vagas Dwight Yokam é seu ex-chefe, que sabendo que seu filho Rafa, de 13 anos, está sendo maltratado pela mãe e não pode entrar no México por decisões legais, lhe dá esse trabalho de “buscar” seu filho, algo como uma retribuição por tudo que ele já fez por ele. A partir dessa premissa, o filme segue a cartilha do road movie, mas cheio de reflexões.
Logo na primeira aparição de Mike saindo de sua caminhonete, vemos sua bota tocando no chão e a câmera subindo e revelando o personagem, nesse exato momento, fazemos uma junção entre Mike e Clint Eastwood. Surge ali o maior ícone vivo de um cinema de “homens durões”, seja segurando uma Colt nos westerns ou uma Magnum 44 nos filmes de ação dos anos 70. Onde ser “Macho” é o que importava… Será mesmo?
Logo a frente temos o momento em que Mike aparece vestido como o “clássico” cowboy. Ele entra no México e “invade” a festa da mãe de Rafa, negando até mesmo uma certa investida dela. Nesse instante, já temos uma quebrada no estereótipo do machão viril. Quando Mike enfim encontra Rafa (Eduardo Minett) e seu galo de briga chamado Macho, começa ali uma troca de experiências e vivências entre o jovem sonhador e o experiente e calejado senhor. Algo como um Clint velho conversando com um Clint iniciante.
Outra amarra que se perde, ou outro estereótipo quebrado, é quando o “cowboy” se veste como mexicano. Foi uma cena tão natural, sem piadinhas sem graça ou até mesmo comentários xenofóbicos. Diferente do que aconteceu em Rambo Até o Fim. O filme se passa no mesmo cenário, a fronteira entre EUA e México, mas é completamente xenofóbico. Onde todo mexicano é um vilão.
Quando surge a personagem Marta (Natalia Traven, maravilhosa no papel!), vemos a lenda do “cowboy” sisudo, de poucas palavras e olhos serrados… sorrir. E como Clint tem um sorriso bonito e verdadeiro hein?! É ali, nesses momentos que ser HOMEM com H e ser MACHO tem o verdadeiro significado. Fica a dica…
Cry Macho tem um ritmo cadenciado, sem pressa… um clichêzinho aqui e alí, mas nada que comprometa o resultado final. Confesso que teve um momento que pensei que o filme iria dar uma derrapada, mas felizmente, se manteve correto. A parte técnica não tem muito destaque, a fotografia é bem simples e a direção é segura. O importante é a mensagem final.
De pontos negativos, existem apenas dois. O primeiro é o roteiro é de Nick Shenk, parceiro de Clint, que juntos fizeram Gran Torino (2008) e A Mula (2018). O longa poderia ter uns 15 minutinhos a mais no início pra ter um leve “punch” de carga dramática. O segundo ponto negativo é o ator Eduardo Minett que faz Rafa. Faltou uma preparação para o rapaz.
Sem frases de efeito ou algo do tipo, os diálogos entre Mike e Rafa nos mostram que a vida é tomar decisões, é trocar experiências e somente o que tiramos dela é que realmente importa. Nunca sabemos de tudo e estamos em constante aprendizado. Onde ser MACHO, é apoiar, é cuidar, é nutrir, ser MACHO é mais simples e belo do que muitos imaginam e sempre teremos tempo para novas experiências, inclusive dirigir um filme aos 91 anos de idade. Cry Macho está disponível na HBO Max